Documentos enviados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos ataques golpistas do 8 de janeiro expõem uma alegada tentativa de venda de um relógio da marca Rolex que teria sido recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante uma viagem oficial à Arábia Saudita. Conforme relatado por parlamentares, e-mails obtidos pela CPI e divulgados pela imprensa, em conjunto com informações também acessadas, sugerem que o coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, teria buscado comercializar o relógio.
O presente Rolex foi oferecido a Bolsonaro durante um almoço oferecido pelo rei da Arábia Saudita à delegação brasileira no dia 30 de outubro de 2019. Nessa mesma viagem, a comitiva presidencial também passou pelo Catar.
Segundo registros, em 11 de novembro daquele mesmo ano, o Rolex foi registrado no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República como parte do "acervo privado". Em 6 de junho de 2022, o relógio foi supostamente liberado, e é nesta data que os e-mails indicam uma possível tentativa de venda por parte de Cid, ao preço de US$ 60 mil.
Os e-mails em questão não esclarecem explicitamente com quem o militar estava negociando. No entanto, de acordo com o relatório apresentado pela CPI, na ocasião, Cid teria trocado mensagens com Maria Farani, que na época prestava assessoria ao Gabinete Adjunto de Informações do gabinete pessoal de Bolsonaro.
Importante mencionar que Farani foi desligada da Presidência da República em janeiro de 2023. Um dos e-mails obtidos pela investigação traz uma mensagem da ex-funcionária pública, em inglês, que, traduzida, diz o seguinte:
"Olá Mauro, obrigada pelo interesse em vender o seu Rolex. Tentei falar com você por telefone mas não consegui. Pode por favor me falar se você tem o certificado de garantia original do relógio?"
"Quanto você espera receber por essa peça? O mercado para Rolex usados está em baixa, especialmente para relógios cravejados de platina e diamante (já que o valor é tão alto). Só queria me certificar de que estamos na mesma linha antes de fazermos muita pesquisa. Espero ouvir notícias suas."
Os registros da CPI indicam que o coronel respondeu a essa mensagem de Farani, detalhando:
"Olá ..., Nós não temos o certificado do relógio, já que foi um presente recebido em viagem oficial de negócios. O que temos é o selo verde de certificado superlativo, que acompanha o relógio. Além disso, posso certificar que o relógio nunca foi usado. Pretendo receber por volta de $ 60.000 pela peça. Agradeço o retorno rápido. Mauro Cid"