A renúncia do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara dos Deputados não é uma garantia de que a Casa deixará de ser presidida por um parlamentar enrolado com a Justiça. Dos 13 principais candidatos (ainda que não sejam oficiais) à presidência da Câmara, sete respondem a ações judiciais.
Mesmo que não estejam arrolados em investigações neste momento, a maioria está envolvida em casos na Justiça. O HuffPost Brasil fez uma breve seleção das acusações que pesam contra cada um dos candidatos.
A previsão é que a eleição para a cadeira deixada por Cunha e ocupada interinamente pelo 1º vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA) ocorra nesta quarta-feira (12).
Beto Mansur (PRB-SP)
Campeão nas ações judiciais, o deputado no quinto mandato na Câmara é engenheiro, fazendeiro e dono de diversos veículos de comunicação. Primeiro-secretário da Casa, atua como uma espécie de prefeito, sendo responsável por medidas administrativas, como a construção do Parlashopping. É um dos signatários do documento que concedeu a Cunha a continuidade de benefícios após o afastamento pelo Supremo Tribunal Federal.
Em 2005, a revista Época noticiou que fiscais do Ministério do Trabalho encontraram 46 homens em situação análoga ao trabalho escravo nas fazendas do deputado. O salário dos trabalhadores era usado para pagar a própria refeição. Apesar do Tribunal Superior do Trabalho (TST) ter condenado Mansur a pagar R$ 200 mil em indenização por dano moral coletivo, o STF arquivou o inquérito.
Em outros processos, o deputado foi condenado por improbidade administrativa e teve a prestação de contas da campanha de 2010 reprovada. Também é alvo de inquéritos de crime de responsabilidade quando esteva à frente da prefeitura de Santos (SP) e responde a mais de 30 ações no Tribunal de Contas de São Paulo.
Fernando Giacobo (PR-PR)
Atual presidente da Câmara na prática, Giacobo é o principal representante do baixo clero entre os candidatos ao mandato tampão. No quarto mandato como deputado federal, ficou conhecido por ter ganhado um sorteio de loteria com 12 cartelas premiadas, antes de iniciar a vida pública.
Empresário e integrante da Bancada Ruralista, foi réu em ação penal movida pelo Ministério Público por cárcere privado e sequestro contra o gerente de uma propriedade rural vendida ao deputado.
O julgamento foi suspenso em 2007, e dois anos depois o crime prescreveu. O deputado foi réu em outras duas ações já prescritas envolvendo falsidade ideológica, formação de quadrilha e favorecimento de uma de suas empresas em licitação.
Jovair Arantes (PTB-GO)
Líder do PTB na Câmara, foi relator do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Cirurgião dentista, está no sexto mandato como deputado federal, já foi filiado ao PMDB e PSDB.
É alvo de três processos judiciais. Teve rejeitadas as prestações de contas das campanhas de 2006 e de 2012 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Tribunal Regional Federal da Primeira Região, é alvo de ação de improbidade administrativa, movida pelo Ministério Público Federal.
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Filho do ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, Rodrigo foi cotado para líder do governo interino de Michel Temer antes da nomeação de André Moura. Bancário, atualmente no quinto mandato como deputado federal, foi relator da reforma política na Câmara, em 2015. Filiado ao PFL, articulou a mudança do nome da legenda para DEM — sigla que presidiu a partir de 2007.
As contas de 2010 do DEM, enquanto o deputado presidia legenda, foram reprovadas pela Justiça Eleitoral por irregularidades na aplicação do Fundo Partidário. O partido foi condenado a restituir R$ 4,9 milhões aos cofres públicos e teve repasses de cotas suspensos por três meses.
Na Lava Jato, teve o nome citado por Léo Pinheiro, da empreiteira OAS, que fechou acordo de delação premiada. A suspeita da Procuradoria-Geral da República é decaixa dois na campanha de 2014.
Cristiane Brasil (PTB-RJ)
Filha do delator do mensalão, presidente do PTB, Roberto Jefferson, a deputada Cristiane Brasil foi presa nas eleições de 2014 por fazer boca de urna. Ela foi solta, mas o processo ainda tramita no STF.
Oficialmente candidata, a deputada chegou a presidir o PTB por um ano e meio até que o pai reassumisse o comando do partido, quando teve a pena do mensalão perdoada pelo STF, am abril.
Cristiane é responsável pelo projeto que quer instituir um código de vestimenta na Câmara dos Deputados.
Rogério Rosso (PSD-DF)
Favorito para suceder o deputado afastado Eduardo Cunha na presidência da Câmara, o líder do PSD, Rogério Rosso , já foi indiciado pelo Tribunal Regional do Distrito Federal por corrupção eleitoral e é investigado por peculato.
Os dois casos são relacionados ao ano de 2010, quando ele assumiu o governo do Distrito Federal, em mandato tampão.
De um partido que integra o 'centrão', Rosso foi presidente da comissão do impeachment na Câmara.
Julio Delgado (PSB-MG)
Candidato derrotado por Eduardo Cunha para a presidência da Câmara em 2015,Julio Delgado não desistiu de ocupar a principal cadeira do plenário.
Ele foi citado na Operação Lava Jato pelo empresário Ricardo Pessoa. Em delação premiada, Pessoa disse que o parlamentar recebeu R$ 150 mil da UTC devido a um acerto ilegal.
No mês passado, o ministro do STF Teori Zavascki arquivou o inquérito por falta de elementos que comprovem a acusação.
Esperidião Amin (PP-SC)
Do mesmo partido do presidente em exercício Waldir Maranhão , o deputado Esperidião Amin também disputa a cadeira deixada por Cunha. O deputado é réu em ações civis públicas movidas pelo Ministério Público Estadual e pelo estado de Santa Catarina por improbidade administrativa e dano ao erário.
Quando havia a possibilidade de Maranhão renunciar, Amin era o nome mais forte entre os aliados de Cunha para assumir o posto. O catarinense foi candidato à Presidência da República em 1994.
Baleia Rossi (PMDB-SP)
Filho do ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, o líder do PMDB na Câmara,Baleia Rossi, é alvo de mais de dez processos na Justiça.
Entre outros, ele é alvo de inquéritos por suspeita de enriquecimento ilícito epagamentos indevidos. Ele foi condenado a ressarcir o erário pelo recebimento de dinheiro indevido quando foi vereador de São Paulo, mas recorreu da ação. Também teve a prestação de contas das eleições de 2014 reprovada.
O peemedebista detém concessão em radiodifusão e proprietário de terras rurais.
Marcelo Castro (PMDB-PI)
Ex-ministro da Saúde, indicado pela bancada do PMDB no governo Dilma, Marcelo Castro também almeja a presidência da Casa. Ele é alvo de uma ação no Tribunal Regional Eleitoral do Piauí porque o partido teve a prestação de contas de 2010rejeitada. Na época, o parlamentar presidia o diretório estadual.
Castro foi presidente da comissão especial que discutiu a reforma política na Câmara. Uma divergência no relatório final o distanciou do correligionário Eduardo Cunha.
Antonio Imbassahy (PSDB-BA)
Líder do PSDB, está no segundo mandato da Câmara, foi governador da Bahia por sete meses em 1994 e duas vezes prefeito de Salvador. O Ministério Público Federalacusa gestores indicados por Imbassahy de superfaturamento no metrô da capital paulista, obra de responsabilidade de consórcio formado pela Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Siemens, todas envolvidas na Lava Jato.
Em 2015, Imbassahy foi vice-presidente da CPI da Petrobras. Dois anos antes, durante a votação da cassação do deputado federal preso, Natan Donadon (RO), envolveu-se em polêmica ao defender o voto aberto. O tucano foi acusado de ferir o regimento ao filmar o voto, a favor da perda de mandato do colega.
Osmar Serraglio (PMDB-PR)
Atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), principal colegiado da Câmara, Osmar Serraglio conseguiu o cargo com aval de Cunha, durante as negociações da eleição da liderança da bancada e a divisão de presidências das comissões. Tem atuado para postergar a análise do processo de perda de mandato de Cunha.
Em seu quinto mandato, foi relator da CPMI dos Correios, responsável por investigar o esquema do Mensalão. É integrante das bancadas ruralista e evangélica. Formado em Direito, é empresário na área de construção.
Carlos Manato (SD-ES)
No quarto mandato como deputado federal, Carlos Manato é o atual corregedor da Câmara, responsável por analisar casos de perda de mandato. O parlamentar diz não se sentir constrangido ao receber denúncias contra colegas envolvidos na Lava Jato. Na campanha de 2014, Manato recebeu R$ 149 mil da UTC e R$ 49 mil da Andrade Gutierrez, ambas envolvidas no esquema de corrupção.
O parlamentar é evangélico da Igreja Maranata e faz parte da Bancada Ruralista. Atualmente no Solidariedade, já foi do PDT e integrou a Mesa Diretora da Casa como suplente por duas vezes. O deputado é médico e sindicalista de sua categoria.