Melhor articulador de bastidor do que da linha de frente, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) surpreendeu até companheiros de partido ao costurar, nos últimos dias, apoios que foram da esquerda à base governista para viabilizar sua candidatura a presidente da Câmara. Com 46 anos, mas já com longa trajetória política, incluindo cinco mandatos de deputado federal, Maia liderou a oposição durante o escândalo do mensalão, em 2006.
Em 2007, foi alçado a presidência do então PFL para suceder o presidente do partido na ocasião, Jorge Bornhausen, com a missão de rejuvenescer o partido, tirar a imagem de legenda conservadora com base no Nordeste, e ganhar o eleitor da Zona Sul carioca. Como presidente do partido, Rodrigo Maia foi um dos principais articuladores da refundação do PFL, em 2007, que se tornou DEM.
O objetivo era dar uma imagem mais moderna à sigla, com uma atuação mais de centro. Em 2009, com Maia ainda na presidência, o DEM entrou com ação no Supremo Tribunal Federal contra a reserva de vagas, em vestibulares, para negros e pardos, mas a cota racial foi considerada constitucional.
O diálogo com diferentes partidos, inclusive o PT, para tentar viabilizar sua candidatura à presidência da Câmara é uma mudança de postura do parlamentar, considerado tímido pelos mais próximos e arrogante pelos que não partilham de seu círculo mais íntimo. Maia fez oposição ferrenha aos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e não tinha trânsito na Câmara nas gestões petistas.
Chileno de nascimento — nasceu quando o pai, César Maia, estava exilado no Chile — Rodrigo Maia começou muito cedo na política. Aos 26 anos foi secretário de governo do prefeito do Rio, Luis Paulo Conde. Teve uma gestão bem avaliada com a criação da Secretaria Especial do Trabalho e o Projeto Cidadania, que atendia população de baixa renda. Dois anos depois foi eleito para o primeiro mandato de deputado federal e foi reeleito até hoje.
Na noite de quarta-feira, acompanhando a votação, Bornhausen relembrou o comício em Santa Catarina, onde o ex-presidente Lula discursou dizendo que era preciso “extirpar da política brasileira" o DEM.
Numa festa no apartamento do então senador Demóstenes Torres (DEM-GO), em 2007, no governo Lula, Rodrigo Maia se envolveu num bate-boca com os então ministros Nelson Jobim e Walfrido dos Mares Guia, e acabou chamado de “guri de merda” e de “professor de Deus”. Irritado com as investidas do Planalto para que a senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) votasse a favor da prorrogação da CPMF, Maia foi tirar satisfação com os ministros em plena festa.
Maia foi cotado para ser líder do governo Temer na Câmara, mas acabou preterido por André Moura (PSC-SE), que teve o apoio do então presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e dos partidos do centrão. Nos últimos dias se aproximou do presidente interino Waldir Maranhão (PP-MA) e para ganhar o voto da esquerda, articulou o engavetamento da CPI da UNE.