Suspeito de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha afirmou que repudia a citação de seu nome em conversas telefônicas entre o réu da operação Lava Jato e o deputado licenciado André Vargas (PT-PR).
Em visita a cidades do Centro-Oeste Paulista na quinta-feira (24), o potencial candidato ao governo de São Paulo também disse estar "indignado" com o uso de seu nome em conversas interceptadas pela Polícia Federal (PF).
Documentos da PF apontam indícios de que Padilha teria indicado um executivo para o Labogen, laboratório do doleiro que teria sido usado em esquema de lavagem de dinheiro. Youssef foi preso em março pela operação Lava Jato, da PF, acusado de ser um dos líderes de uma quadrilha que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões.
Durante passagem pelo município de Pirajuí (SP), Padilha negou que tivesse qualquer envolvimento com o esquema.
"Eu repudio o uso do meu nome, fico indignado, é uma inferência a partir de troca de mensagens de terceiros querer relacionar o meu nome com qualquer indicação para qualquer laboratório privado", disse o ex-ministro.
"Essa pessoa [Marcuz Cezar Ferreira de Moura, coordenador de promoção de eventos da assessoria de comunicação do Ministério da Saúde na gestão de Padilha] era um funcionário do Ministério da Saúde e não foi indicado para nenhum laboratório privado, trabalhava no ministério em 2011, em um setor do órgão, mas nunca foi indicado para nenhum laboratório", complementou.
A Polícia Federal analisou o conteúdo de 270 mensagens trocadas de 19 de setembro do ano passado a 12 de março deste ano entre Youssef e André Vargas.
Em uma das trocas de mensagens, em 28 de novembro do ano passado, a PF encontrou a citação ao nome de Padilha que, para os policiais, é possivelmente o ex-ministro da Saúde.
Na ocasião, segundo documentos da PF, André Vargas diz a Youssef que Padilha indicou um executivo para o Labogen, laboratório do doleiro que teria sido usado no esquema de lavagem de dinheiro.
- Vargas diz: "Achei o executivo".
- Youssef responde: "Ótimo, traga ele para nos reunirmos e contratarmos".
- Vargas responde: "Sexta ele estará aí. Dá o número do celular e fala que é Marcos, estará em São Paulo no dia seguinte ou segunda e que foi o Padilha que indicou".
"Marcos"
Segundo o relatório da PF, "Marcos" é Marcuz Cezar Ferreira de Moura, ex-coordenador de promoção de eventos da assessoria de comunicação do Ministério da Saúde. Depois, Moura participou de reuniões na Labogen.
"O Ministério da Saúde nunca teve contrato com esse laboratório. O que o ministério recebeu foi um termo de parceria de um laboratório público que tinha também participação desse laboratório particular, que para ter contrato, [o laboratório] passaria por uma série de filtros que o ministério sempre estabeleceu, sempre muito sólidos, e qualquer tentativa de irregularidade seria frustrada quanto a isso", argumentou Padilha no interior paulista.
Nesta sexta-feira (25), o líder da bancada do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), informou, por meio de nota oficial, que irá protocolar requerimento na Comissão de Fiscalização e Controle para que Padilha seja convidado a prestar esclarecimentos sobre suspeitas de que ele teria envolvimento com Alberto Youssef.
André Vargas, que admitiu ter viajado em jatinho fretado pelo doleiro e é suspeito de fazer tráfico de influência no Ministério da Saúde, afirmou que não recebeu de Padilha nenhuma indicação e disse que responderá a todos os questionamentos "nos foros competentes".
A PF concluiu que existem "indícios que os envolvidos tinham uma grande preocupação em colocar à frente do Labogen alguém que não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras".