O ex-ministro da Saúde e pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, ameaçou nesta sexta-feira, 25, interpelar judicialmente o deputado licenciado André Vargas por ele ter usado seu nome em conversas com o doleiro Alberto Youssef, segundo relatório da Polícia Federal. Após Padilha conceder entrevista coletiva para falar sobre o assunto, Vargas pediu sua desfiliação do PT.
A direção partidária não vai requerer o mandato de deputado de Vargas por três motivos: ele não se filiou a outra legenda, o processo só terminaria depois das eleições e o suplente do deputado é do PMDB.
Segundo relatório da PF, Vargas disse a Youssef que Padilha havia indicado o executivo Marcus Cezar de Moura, ex-funcionário do Ministério da Saúde, para uma vaga no laboratório Labogen, que tentava obter um contrato milionário da pasta em 2013. "Se o senhor André Vargas citou meu nome em vão. Se os outras pessoas citadas citaram meu nome em vão, vou interpelar judicialmente. Não admito que meu nome seja utilizado em vão por qualquer pessoa", disse Padilha na entrevista coletiva convocada às pressas.
O PT, o Palácio do Planalto e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionavam Vargas a renunciar ao mandato de deputado há pelo menos duas semanas. O deputado, que já havia renunciado à vice-presidência da Câmara,é alvo de um processo no Conselho de Ética e argumentava com petistas que precisava do mandato para se defender.
No início da semana petistas passaram a pedir então que ele se desfiliasse para poupar o PT. Caso contrário poderia ser expulso do partido. No quinta-feira Vargas comunicou à direção partidária que se desfiliaria mas apesar das cobranças não formalizou o ato até a ameaça de processo feita por Padilha e a convocação de uma reunião da Executiva Nacional do PT para apreciar seu caso, ambas ontem. A desfiliação foi protocolada no diretório de Londrina, berço político do deputado.
A interpelação judicial é o primeiro passo para um processo por crimes contra a honra. Em uma troca de mensagens interceptada pela PF, Vargas apresenta o nome de Moura a Youssef, que controlava o Labogen, e diz que é "indicação do Padilha".
O ex-ministro interrompeu a agenda de pré-campanha no interior do Estado para convocar uma entrevista coletiva em São Paulo na qual reagiu com indignação à interpretação da PF de que tenha indicado Moura para o laboratório.
"Mente quem diz que eu indiquei Marcus Cezar Moura para qualquer laboratório privado. Mente quem estabelece qualquer envolvimento meu com o doleiro", disse Padilha.
O pré-candidato petista admitiu conhecer Moura desde os anos 90, quando o executivo era filiado ao PT. Segundo o pré-candidato, eles passaram anos sem se ver até o início do governo Lula, quando Padilha era encarregado de receber prefeitos na Secretaria de Assuntos Federativos da Presidência e Moura funcionário do escritório da prefeitura de Manaus em Brasília.
"Conheço sim o Marcus Cezar Moura. Foi militante do PT no começo dos anos 90. Nunca mais tinha tido contato e nos reencontramos quando eu estava na Secretaria de Assuntos Federativos da Presidência da República", disse Padilha.
Depois disso Moura trabalhou na campanha de Dilma Rousseff, em 2010 e foi nomeado para um cargo secretaria de Comunicação do Ministério da Saúde, em 2011, onde permaneceu por apenas três meses, transferido para a Geap, entidade de direito privado que vende planos de saúde para funcionários públicos e tem representantes da pasta na direção.
"Na Geap ele tinha contato sobretudo com o Congresso Nacional", disse Padilha. O ex-ministro também admitiu ter recebido Vargas para conversar sobre o Labogen mas negou que a tentativa de lobby do deputado tenha dado resultado. Segundo Padilha, apenas um dos cinco projetos pleiteados chegou a ser aprovado mas nunca foi concretizado.
"Se alguém pensou que fazendo lobby poderia ultrapassar os filtros do Ministério da Saúde bateu na porta errada", disse.
Padilha contrariou sugestões de assessores políticos e jurídicos ao decidir cancelar a agenda para falar sobre o assunto. Os assessores argumentavam que ele só deveria se pronunciar depois de ter em mãos a íntegra dos documentos da PF.
"Mente quem diz que eu indiquei Marcus Cezar", disse Padilha