Parlamentares da oposição que deixaram a CPI do Cachoeira antes de a sessão terminar saíram revoltados com o adiamento da convocação do ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, e do ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Antonio Pagot.
Nos casos do ex-presidente da Delta e do ex-diretor do Dnit, os parlamentares da comissão aprovaram por maioria de votos o "sobrestamento" dos requerimentos de convocação de Cavendish (16 votos a 13) e Pagot (17 a 13). Na prática, o ?sobrestamento? adia a votação dos requerimentos até o surgimento de fatos novos que, do ponto de vista da comissão, justifiquem a convocação dos dois.
Para parlamentares da oposição, a decisão foi ?deplorável?, demonstra ?medo de alguns? e pode ?decretar o fim da CPI?. Já parlamentares da base apoiaram a decisão do relator Odair Cunha e defenderam que somente sejam convocados depoentes que tenham relação direta com o objeto de investigação da CPI.
?A democracia brasileira vive um momento muito triste, porque infelizmente se transformou uma Comissão Parlamentar de Inquérito em uma rinha política. Ficou claro que se deseja evitar uma investigação profunda e séria. A CPI revela as suas intenções com a proposta do relator de simplesmente tirar da pauta duas convocações. O fato é que a CPI do Cachoeira pode ter decretado o seu final no dia de hoje?, disse o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Já para o deputado Bruno Araújo, líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Cavendish foi ?protegido? pelos parlamentares.
?É um dia deplorável para a democracia brasileira. Há um medo e há uma proteção que o empresário da Delta teve e que nenhum dos governadores o tiveram?, afirmou o deputado Bruno Araújo, líder do PSDB na Câmara dos Deputados.
O deputado Silvio Costa (PTB-PE) concorda. ?Eu acho que esse é um grande equívoco da CPI. Agora, não adianta, mais dia menos dia eles virão aqui. Que CPI é essa que não convoca os dois principais atores desse processo? É um absurdo a CPI ter cometido esse equívoco. Eu lamento esse dia infeliz que a CPI teve. Foi um equívoco sem precedentes?.
Já deputados da situação, acreditam que a medida apenas adia a convocação para quando houver neces.
O deputado Rubens Bueno, líder do PPS na Câmara, acredita que há algo errado.
?O gesto hoje para a sociedade deveria ser de que nós aprovamos os depoimentos do Pagot e Cavendish, mas ainda não marcamos a data. [A não convocação] Isso mostra que tem uma coisa muito errada por trás disso tudo?, disse.
"O governo federal deixou a sua digital hoje aqui na proteção a uma empreiteira envolvida com o crime organizado e ao seu ex-diretor geral. A CPI está na UTI. Quem mergulhou nessa cachoeira? Quem se molhou? Parece que o governo está aqui cheio de toalhas agora, querendo enxugar", disse o deputado Francisco Francischini (PSDB-PR).
Já para o deputado Paulo Teixeira, vice-presidente da CPI, a decisão é cautelar.
?Foi tomada uma medida de cautela [sobre não convocar Pagot e Cavendish] para que nós não percamos o foco?, afirmou.
O plenário já está esvaziado. O relator, Odair Cunha, já alertou para o fato de que, como é de costume nas quintas-feiras, deputados e senadores viajarão em breve rumo aos seus estados.