O Partido da República (PR) rebateu as ilações de que o humorista Francisco Everaldo Oliveira, o Tiririca, eleito deputado federal com mais de 1,3 milhão de votos, seria analfabeto. Na última segunda-feira, a Justiça Eleitoral de São Paulo recebeu denúncia do Ministério Público Eleitoral (MPE), que apresentou prova técnica, produzida pelo Instituto de Criminalística, apontando para uma discrepância de grafias na declaração entregue por Tiririca no momento do registro da candidatura. A suspeita é que o texto, cujo objetivo era provar as habilidades de leitura e escrita do humorista, tenha sido redigido por outra pessoa.
"O Partido da República sustenta, como sempre sustentou, a mais ampla e absoluta legalidade da candidatura do Tiririca e das habilidades declaradas. Confirma as habilidades previamente declaradas pelo candidato", afirmou, demostrando irritação, o coordenador nacional de comunicação social da legenda, Vladimir Porfírio.
Sobre a denúncia oferecida pelo Ministério Público Eleitoral, informou apenas que o partido aguarda o posicionamento da Justiça.
- A compreensão institucional do PR é que uma manifestação, no curso dos trabalhos do Poder Judiciário, seria não dar crédito ao dispositivo supremo da Constituição, que prevê independência e autonomia dos poderes. Por norma, o partido não se manifesta institucionalmente, não comenta iniciativas do Ministério Público, até porque essas manifestação foram dirigidas ao Poder Judiciário. E aguarda, respeitosamente, o juízo.
Fenômeno nas urnas, deputado federal mais votado nestas eleições - conseguindo mais do que o dobro de votos do segundo colocado, Gabriel Chalita (PSB) -, Tiririca teve a campanha marcada por polêmicas e ataques. A propaganda irreverente, baseada exclusivamente em piadas e na total ausência de propostas, despertou reações diversas, consolidando a popularidade - positiva e negativamente falando - do então candidato, dono de bordões, como: "pior do que está não fica" e "Você sabe o que um deputado federal faz? Nem eu, mas vota em mim que eu te conto".
A propaganda foi severamente criticada por adversários e chegou a ser alvo de dez representações encaminhadas ao MPE, que arquivou todas por entender que não havia irregularidades.
O jeito inusitado de fazer campanha rendeu ao comediante fama internacional. Tiririca foi assunto de veículos na imprensa estrangeira.
Declaração de bens
A denúncia oferecida pelo Ministério Público Eleitoral levanta dúvidas quanto às condições de elegebilidade de Tiririca, que não poderá assumir o cargo pleiteado caso fique provado que não sabe ler e escrever.
Ela foi recebida em complementação a outra denúncia: a de que o humorista teria ocultado propositadamente sua relação de bens pessoais da Justiça Eleitoral.
O artigo 350 do Código Eleitoral (Lei 4.737/65) interpreta como crime o ato de "omitir, em documento público ou particular, declaração que deveria constar ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que deveria ser escrita para fins eleitorais". Se o documento for público, a lei prevê reclusão de até cinco anos, mais pagamento de multa.
"Puxador de votos"
A votação expressiva recebida por Tiririca não garantiu apenas uma cadeira na Câmara Federal para o comediante. Graças ao sistema de coeficente eleitoral, o palhaço também ajudou a eleger outros três candidatos de sua coligação: Otoniel Lima (PRB), Vanderlei Siraque (PT) e o delegado Protógenes Queiroz (PCdoB).