O Estado e a cidade de São Paulo têm sido uma espécie de fortaleza tucana desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso e Mario Covas ganharam, respectivamente, a Presidência da República e o governo estadual.
A gestão Celso Pitta, eleito prefeito em 1996, foi o último suspiro do malufismo na capital paulistana. Em 2000, a petista Marta Suplicy levou a prefeitura porque os tucanos a apoiaram contra Paulo Maluf no segundo turno.
Numa tentativa de pavimentar o caminho presidencial, Serra conquistou a Prefeitura de São Paulo em 2004, quando Marta tentou, sem sucesso, a reeleição. No entanto, em 2006, na hora de enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva, que se recuperara do escândalo do mensalão, Serra não teve coragem e empurrou a missão para quem a realmente queria, o então governador Geraldo Alckmin.
Num lance de esperteza, Serra achou politicamente vantajoso sair da prefeitura para concorrer ao governo do Estado e deixar no posto o seu vice, Gilberto Kassab. Foi o jeito que encontrou de alcançar um posto mais importante em 2006 e ficar esperando outra chance presidencial em 2010. Assim Kassab virou prefeito e se reelegeu em 2008.
A imagem de que os tucanos usaram a prefeitura como um trampolim parece explicar a alta rejeição de Serra na pesquisa Datafolha divulgada hoje (11/12) e o menor índice de aprovação de Kassab em seu segundo mandato. Segundo o Datafolha, 35% dos paulistanos não votariam em Serra de forma nenhuma. Somente 20% acham boa ou ótima a administração kassabista. Ela é ruim ou péssima para 40%. E 38% a julgam regular.
Ao contrário do governo do Estado, posto em que os tucanos exercem o poder com gosto há quase 20 anos, a prefeitura paulistana se transformou para o partido numa posição que não deveria ser cedida ao PT, mas com problemas demais a administrar e capacidade de menos para investir. Serra se queixava disso quando trocou em 2006 o Palácio do Anhangabaú (edifício Matarazzo) pelo Palácio dos Bandeirantes.
Ainda falta bastante tempo para a eleição municipal, que acontecerá em outubro de 2012. O quadro eleitoral pode mudar. Para Serra, que já se elegeu prefeito uma vez, é baixa a atual intenção de voto de 18%. Os outros nomes tucanos estão ainda piores. Por isso, existe uma forte pressão do governador Geraldo Alckmin para que Serra aceite concorrer novamente ao cargo. Nas últimas duas semanas, o próprio Serra parou de rejeitar essa possibilidade.
Mas a pesquisa Datafolha de hoje é uma ducha de água fria nesse projeto. A rejeição a Serra chegou a 35%, patamar que dificulta bastante uma vitória se a eleição for para o segundo turno. Para piorar, o ex-presidente Lula surge como o cabo eleitoral mais forte na cidade --48% dos eleitores paulistanos votariam no nome apoiado por ele.
No cenário atual, há uma chance concreta de Lula repetir com o ministro da Educação, Fernando Haddad, o que fez com Dilma em 2010. Haddad, pré-candidato do PT, é desconhecido de 63% do eleitorado. Tem, portanto, um caminho promissor pela frente.
Outro agravante para o PSDB: o ex-tucano Gabriel Chalita tentará conquistar a prefeitura pelo PMDB. Bom de TV, tem potencial para, junto com Haddad, crescer na preferência do eleitorado.
Por último, há um fator subjetivo forte. Serra quis e quer ser presidente da República. Nunca desejou com a mesma intensidade a prefeitura ou o governo do Estado. Esse tipo de coisa não passa despercebida pelo eleitor. E uma parte da fortaleza tucana em São Paulo poderá ruir no ano que vem.