Os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do partido, bateram boca nesta segunda-feira (3) em plenário mostrando a temperatura elevada da Casa. Simon fazia um discurso pedindo a renúncia de José Sarney (PMDB-AP) da presidência do Senado, quando Calheiros pediu um aparte. Os dois, a partir daí, começaram a discutir. Fernando Collor (PTB-AL) entrou ainda na discussão depois.
Calheiros iniciou sua fala dizendo gostar de Simon, uma vez que o gaúcho tinha dito em seu discurso o contrário. ?Eu só quero dizer que gosto de vossa excelência. Como não gostar de vossa excelência?. Eu só lamento que o esporte de vossa excelência nos últimos 35 anos seja falar mal de Sarney. O que vossa excelência repete agora nessa missão de paz.?
O líder do PMDB continuou e acusou Simon de ter se voltado contra Sarney quando o atual presidente do Senado foi escolhido para ser vice na chapa de Tancredo Neves ainda durante a transição da ditadura militar para a democracia.
Simon irritou-se e acusou Calheiros de estar mentindo. ?Você está inventando. É mentira?. Calheiros continuou e afirmou que o gaúcho alimentou Collor com denúncias contra Sarney durante a campanha à Presidência em 1989. Simon continuou acusando o líder do PMDB de mentir sobre este fato.
Calheiros questionou por que o senador gaúcho pede a saída de Sarney. Simon retrucou perguntando por que Renan renunciou em 2007 quando respondia a processos no Conselho de Ética. Calheiros disse que deixou o cargo porque ?não podia levar o Senado a um impasse?. Simon disse que a situação é agora a mesma para Sarney.
Calheiros continuou atacando Simon e disse que o PMDB apoia Sarney. ?Eu falo pela bancada. O PMDB já decidiu e não é um partido que vai ter que se reunir sempre para mudar de posição?. Disse ainda que Simon foi um dos que insistiu para que Sarney disputasse a presidência da Casa e que em privado já manifestou solidariedade a ele. ?Vossa excelência faz isso no particular e vem em publico aqui fazer uma coisa diferente.?
Simon irritou-se ainda mais e mencionou que Calheiros abandonou Collor quando lhe foi conveniente e que sempre apoiou qualquer governo. ?Não me envergonho de nada que fiz?, rebateu o líder do PMDB.
Collor interrompeu a discussão entre eles e pediu a palavra. O ex-presidente da República foi duro com Simon. ?Essas são palavras que eu não aceito. Quero que o senhor as engula e as digira como julgar conveniente?.
Ele afirmou ainda que Simon não pode se ?agachar? para a imprensa e disse que na próxima vez que for citado de modo negativo pelo gaúcho fará revelações contra ele.
?Evite pronunciar meu nome nessa Casa porque na próxima vez que eu tiver que pronunciar o nome de vossa excelência nesta Casa gostaria de relembrar alguns fatos, alguns momentos, talvez extremamente incômodos para vossa excelência?, disse Collor.
Após o pronunciamento forte de Collor, Simon baixou o tom e continuou seu discurso contra Sarney, sendo aparteado por Eduardo Suplicy (PT-SP), que tentou acalmar os ânimos.
Crise
A situação de Sarney, porém, foi agravada durante o recesso de julho pela divulgação de uma sequência de diálogos gravados pela Polícia Federal (PF) com autorização judicial que revelaram uma conversa de seu filho Fernando com sua neta, em que ela pedia uma vaga no Senado para o namorado.
Na sexta-feira (31) uma decisão judicial proibiu o jornal ?O Estado de S. Paulo? de publicar reportagens com dados sigilosos da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga Fernando e que deu origem às gravações telefônicas.
Mais cedo, Sarney disse que não foi consultado sobre a decisão dos advogados de seu filho de entrar na Justiça com o pedido de proibir o jornal de realizar as reportagens. ?Não fui consultado sobre essa iniciativa, de exclusiva responsabilidade dele e de seus advogados, e por isso é uma distorção de má-fé querer me responsabilizar pelo fato?, diz.
Nesta segunda, o presidente da Casa negou receber pressão de Fernando para que deixe o cargo.