O sociólogo e consultor político-estratégico Antonio Lavareda avalia que o último resultado da pesquisa CNT/Sensus, divulgado nesta segunda-feira, 1°, aponta uma transferência de votos do pré-candidato Ciro Gomes (PSB) para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).
- O que houve, efetivamente, foi uma transferência de votos de Ciro Gomes pra Dilma Rousseff... As pessoas tomaram conhecimento que a candidata do presidente Lula é a ministra Dilma e não o ex-ministro... Em novembro, somados Dilma e Ciro, eles tinham 39%. Em janeiro, eles têm 39,7%, praticamente os mesmos 39% - diagnostica Lavareda, que já foi estrategista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A pesquisa de intenção de voto para a presidência da República, realizada pelo Instituto Sensus e encomendada pela Confederação Nacional do Transporte, indicou ainda um empate técnico entre o governador José Serra (PSDB) e a ministra Dilma Rousseff.
Num cenário com quatro candidatos - além dos dois citados, Ciro Gomes e Marina Silva (PV) -, José Serra tem 33,2% e Dilma Rousseff, 27,8%. A margem de erro é 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A petista cresceu 6,1 pontos de novembro de 2009 para dezembro de 2010. Na pesquisa espontânea, ela fica em segundo lugar, atrás apenas do presidente Lula (18,7%), que não é candidato: Dilma tem 9,5% e Serra, 9,3%.
Para Lavareda, as pesquisas confirmam a transferência de votos de Lula para sua candidata. Entretanto, "à medida que a campanha começa, o presidente Lula deixará de ser protagonista e assumirá a posição de coadjuvante."
- Quem protagonizará a campanha, porque é assim sempre, será a ministra Dilma - afirma.
Confira a entrevista com o sociólogo Antonio Lavareda, autor de "Emoções ocultas - E estratégias eleitorais".
Terra Magazine - Como o senhor analisa os dados da última pesquisa do CNT/Sensus, que aponta um crescimento da candidatura de Dilma Rousseff à presidência? Quais são os principais pontos a serem observados?
Antonio Lavareda - Os dados da pesquisa de janeiro de 2010, comparados com os dados da pesquisa de novembro de 2009 - e eu estou falando de primeiro turno, porque o segundo turno está muito distante -, são importantes para abrir perspectivas a respeito do primeiro turno. O segundo é bobagem. O que ela revela? Você tem dois cenários, duas listas. Uma lista de quatro nomes e uma lista de três nomes. O que é que houve no campo da candidatura do governo? A candidata do governo cresceu, no cenário de quatro nomes, 6,1. No cenário com três nomes, ela cresceu menos, 5 pontos. Agora, o que houve com os demais candidatos? O candidato José Serra cresce nos dois cenários. Ele cresceu 1,5 na lista 1 e 0,2 na lista 2. São valores dentro da margem de erro, mas ninguém saberá se houve crescimento ou não. Bem, o candidato Serra cresceu. A candidata Marina cresceu 0,9 na lista de quatro candidatos e 1,4 na lista de três candidatos. E o que parece que ocorreu e explica esse crescimento da Dilma Rousseff? Vamos pegar a lista de quatro candidatos. Enquanto ela cresce 6,1, o candidato Ciro Gomes declina 5,6.
Houve uma transferência?
O que houve, efetivamente, foi uma transferência de votos de Ciro Gomes pra Dilma Rousseff. As pessoas tomaram conhecimento que a candidata do presidente Lula é a ministra Dilma Rousseff e não o ex-ministro. Isso explica o crescimento dela, um crescimento importante, se você levar em conta que são praticamente 60 dias. Mas, nesses 60 dias, houve os comerciais e os programas dos partidos, do PT, que possibilitaram à população tomar conhecimento que Dilma é a candidata de Lula, e não Ciro Gomes. Em novembro, somados Dilma e Ciro, eles tinham 39%. Em janeiro, eles têm 39,7%, praticamente os mesmos 39%. Ou seja, as análises mais apressadas têm esquecido de chamar atenção para o fato de que houve uma mera transferência de Ciro Gomes para Dilma. E, no cenário de três nomes, a ministra cresce 5 pontos, todos os candidatos sobem um pouquinho e diminui o número de "não sabe", "não respondeu". Aí o crescimento da ministra é explicado pela redução do "não sabe", "não respondeu", onde provavelmente tinha se refugiado parte das intenções de voto do ex-ministro Ciro Gomes. Na verdade, os comentários sobre essa pesquisa esquecem de chamar a atenção de que houve uma subtração do bloco de eleitores de Ciro em benefício da Dilma. Quanto à transferência do Lula, é o seguinte: a Dilma tem nos dois cenários em torno de 27% e 28%. Olha que coisa curiosa: somadas as intenções de voto na questão espontânea, Lula tem 18,7% e Dilma tem 9,5%. Isso totaliza 28,2%, exatamente as intenções de voto que a Dilma tem.
Portanto...
As pessoas já tomaram conhecimento de que a Dilma é candidata do presidente Lula. Boa parte delas.
O fato de o PSDB não ter determinado seu candidato influencia o desempenho de José Serra nas pesquisas?
Para ser justo na análise, é preciso anotar que o Serra até cresceu 1,5 num cenário de quatro nomes. Oscilou positivamente dois décimos num cenário de três nomes.
Lula cumprirá, então, o papel de transferir votos?
Já está cumprindo. Imagine se, sem o apoio de Lula, a Dilma teria 28% dos votos! Não teria jamais. Essa coisa de que vai ocorrer transferência, não vai ocorrer... Ocorreu aí uma transferência substancial. O problema é você levar em conta que outras pesquisas atrás já haviam mostrado que 30% dos eleitores queriam votar no candidato do Lula. E 35% podem ou não votar. A Dilma, nessa pré-campanha, está próxima do patamar de votos do candidato de Lula. A partir dos 30%, vai depender muito mais dela do que do presidente Lula. A gente está chegando na marca do início da campanha. Do início propriamente dito. Quando ela encostar nos 30%, você pode falar que começou a campanha, a partir daí vai depender dela. Até porque o eleitor vai votar em consideração mais ao futuro do que ao passado.
Como o senhor analisa a rejeição à senadora Marina Silva?
A rejeição à senadora Marina está em 36,6%... Mas veja a última coluna, "não conhece": ela tem três vezes mais desconhecimento absoluto do que Dilma Rousseff. O desconhecimento dela é 27,2% e o da Dilma é 9,4%.
Até porque, teoricamente, a imagem dela é muito positiva no imaginário brasileiro.
Esse "não votaria" é fortemente influenciado pelo desconhecimento. Rejeição por desconhecimento.
Em entrevista, o governador Áecio Neves, de Minas, disse que o presidente Lula tenta uma "divisão autoritária" do País entre "nós contra eles". Essa técnica de Lula, de comparar seu governo ao de FHC, surtirá efeito?
Isso faz parte do discurso do presidente e, obviamente, visa consolidar as intenções de voto da ministra Dilma. Para que o eleitor dele evite pensar, evite cogitar em votar em outro candidato durante a campanha. É uma estratégia, mas vai depender da campanha. O que as pessoas precisam entender é que, à medida que a campanha começa, o presidente Lula deixará de ser protagonista e assumirá a posição de coadjuvante. Importante, mas coadjuvante. E quem protagonizará a campanha, porque é assim sempre, será a ministra Dilma. Mas nós estamos ainda numa fase em que o protagonista é o presidente Lula, como as intenções de voto espontâneas revelam.