Um grupo de deputados do PT coleta adesões a uma nota pública de repúdio à indicação do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) para a coordenação do grupo de trabalho criado pela Câmara a fim de elaborar um conjunto de propostas para a reforma política.
O documento passou a circular nesta quinta (19) e, até a publicação desta reportagem, já contava com a adesão de 36 (40%) dos 89 deputados da sigla.
O secretário-geral do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), afirmou que Vaccarezza não expressa as posições do partido. Ele foi indicado pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB). A escolha gerou mal-estar na bancada do PT, que defendia para a função o nome do deputado Henrique Fontana (PT-RS).
Fontana acabou desistindo de participar do comitê da reforma política. Em entrevista coletiva, afirmou que Henrique Alves e o PMDB tentaram ?rachar? a bancada do PT ao ?desrespeitar? a escolha do partido.
Questionado sobre a declaração de Fontana, o presidente da Câmara se limitou a dizer que o petista estava ?muito desinformado?.
Para Paulo Teixeira, caberia ao PT indicar o coordenador do colegiado, já que o partido possui a maior bancada da Câmara.
?Achamos que ali criou-se um precedente. O partido tinha indicado o Fontana. e no final o PMDB indicou outro membro do nosso partido. As posições que o Vaccarezza tem expressado não são as posições do PT?, disse.
Em nota, Vaccarezza afirmou que "ataques pessoais" ajudam a aprofundar a "descrença" da população na política.
"Convido aos que tentam transformar o debate em torno da reforma política em arena de disputa política a mobilizar energia para viabilizar a realização do plebiscito, que dizem defender. Ao se concentrarem em ataques pessoais, ajudam a aprofundar a descrença da sociedade em seus representantes e nos partidos políticos", disse.
Vaccarezza afirmou que tem como meta ?viabilizar a reforma política? e ajudar o PT a coletar assinaturas para realizar um plebiscito. ?Meu esforço é viabilizar a reforma política, consultar a população, e vou ajudar o PT a coletar as assinaturas para o plebiscito tramitar.?
Na nota de repúdio, os deputados afirmam que a atitude de Henrique Alves de nomear Vaccarezza foi uma tentativa de ?impor? à bancada do PT ?preferências políticas que não são as suas?.
?Indicamos por unanimidade o deputado Henrique Fontana, relator há dois anos e meio da comissão anteriormente incumbida para propor a reforma política. Para a surpresa da bancada, a Presidência da Câmara designou o deputado Cândido Vaccarezza como coordenador da nova comissão. Mais do que uma escolha pessoal, este gesto é um claro movimento para impor à bancada do PT preferências políticas que não são as suas. Tal atitude antecipa um antagonismo às posições que o PT defende na reforma política?, afirma o grupo na nota.
Para os deputados que assinam a nota, a decisão do PMDB de indicar Vaccarezza ?afronta os princípios? do PT. ?O PT foi construído como partido democrático a partir de relações de confiança e de respeito às decisões tomadas em seus fóruns legítimos. O episódio aqui referido é um grave precedente que viola a nossa cultura política e afronta nossos princípios.?
No documento, os deputados também dizem que a criação do grupo de trabalho, em vez da realização de um plebiscito nos moldes da proposta apresentada pela presidente Dilma Rousseff, foi uma resposta ?conservadora? às manifestações que tomaram as ruas do país.
?Uma das respostas conservadoras, patrocinada pela atual Presidência da Câmara dos Deputados, além da rejeição à ideia do plebiscito, foi a constituição de mais uma comissão para propor uma reforma política em marcos muito mais tímidos do que inicialmente proposto pela presidenta Dilma.?
Eles dizem ainda que vão persistir na defesa de um plebiscito popular. O partido tenta coletar 171 assinaturas para um decreto legislativo que convoque essa consulta popular.
?À presidenta Dilma, nosso total apoio, lealdade e confiança. Conte conosco na defesa, mobilização e articulação do plebiscito?, concluem os deputados na nota.