A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou uma nota à imprensa nesta sexta-feira (11) na qual nega que o governo tenha interferido no processo de compra da Delta pela J&F, grupo que controla o frigorífico JBS.
"Em relação às negociações sobre a mudança do controle da Delta Construção, o governo federal reitera que não interfere em operações privadas", informa a nota - veja a íntegra no fim da reportagem.
Em reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal "Folha de S.Paulo", o empresário José Batista Júnior, um dos controladores do frigorífico JBS, disse que o "governo foi consultado e deu aval à decisão de sua família de comprar a construtora Delta para impedir a paralisia de suas obras".
Na nota desta sexta, o Planalto afirma que "são falsas as ilações de que a referida operação teve aval deste governo".
A holding J&S negou, via assessoria de imprensa, que José Batista Júnior tenha participado das negociações para a compra da Delta. Embora seja um dos acionistas, ele não participa das decisões do conglomerado. Ainda segundo a assessoria, a transação estaria sendo negociada exclusivamente pelo controlador da J&S, Joesley Batista, irmão de Júnior.
Em comunicado divulgado nesta sexta, a J&F afirmou que as negociações para a aquisição da Delta "são privadas e de caráter empresarial" e classificou de "descabida qualquer insinuação de interferência do governo federal no negócio".
"A participação do BNDESPar na JBS não o torna acionista direta ou indiretamente de nenhuma empresa da holding, nem dá o direito de qualquer interferência política na J&F", afirmou a holding.
"Toda a negociação foi e está sendo conduzida diretamente entre Joesley Batista, presidente da holding J&F, e os acionistas da Delta. A J&F vê com naturalidade os questionamentos relacionados à venda da Delta, e se coloca à disposição dos órgãos competentes para quaisquer esclarecimentos", acrescentou.
A J&F engloba os negócios da família Batista, a mesma que controla o JBS, maior produtor de carne bovina do mundo; além da Eldorado Brasil, do setor de celulose; a Flora, empresa de produtos de limpeza; e o Banco Original, com foco em financiamento do agronegócio.
A nota do Palácio do Planalto também informa que um processo que pode levar à decretação de inidoneidade da Delta Construção está em curso na Controladoria Geral da União (CGU) e que, caso a empresa seja condenada, ficará impedida de ser contratada pela administração pública.
A Delta
A Delta, empreiteira líder de contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sexta maior do setor no país, está envolvida em denúncias de favorecimento ao bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, acusado de chefiar um esquema de jogo ilegal.
Relatório da Polícia Federal apontou que Carlinhos Cachoeira passava informações sigilosas de licitações públicas para Claudio Dias Abreu, diretor afastado da Delta em Goiás. Áudios também apontam o envolvimento do ex-diretor da Delta Carlos Pacheco com o grupo. Fernando Cavendish, dono da construtora, foi citado em escutas, mas não conversa diretamente com Cachoeira. A PF diz que a Delta repassava dinheiro a empresas fantasmas controladas por Cachoeira.
Desde então, a empresa deixou obras nas quais participava em consórcio com outras empreiteiras e vem sofrendo pressão para abandonar empreendimentos estatais que toca sozinha. No último dia 25, a Delta divulgou um comunicado no qual a empresa assegurava que "continuará a cumprir seus contratos, obrigações e compromissos assumidos com seus fornecedores e clientes, com a habitual regularidade".
Poucos dias antes, no entanto, segundo notícias publicadas na mídia, a empresa deixou de fazer aportes no consórcio responsável pela reconstrução do Maracanã. No dia seguinte ao comunicado, a empresa deixava outro consórcio no Rio de Janeiro.
No final de abril, Cavendish anunciou sua saída do conselho de administração da empresa. O ex-diretor Cláudio Abreu deve ser chamado para prestar depoimento na CPI criada para investigar as denúncias contra Cachoeira e políticos, enquanto parlamentares ainda pressionam para que o novo presidente compareça à comissão.
Veja a íntegra da nota divulgada pela Presidência:
"Nota à imprensa
Em relação às negociações sobre a mudança do controle da Delta Construção, o governo federal reitera que não interfere em operações privadas.
São falsas, portanto, as ilações de que a referida operação teve aval deste governo.
O governo alerta que está em curso na Controladoria Geral da União processo de decretação de inidoneidade da Delta Construção. Caso a CGU conclua pela condenação, a empresa estará impedida de ser contratada pela administração pública, nos termos da Lei 8.666 de 1993, com consequências econômicas presentes e futuras.