A bancada do PSDB na Câmara reviu sua estratégia de atuação para este ano na Casa. Com discurso de que a crise econômica é grave e, por isso, não pode se transformar em luta política, deputados tucanos decidiram afastar a linha do “quanto pior, melhor” e apoiar o governo em algumas das chamadas reformas estruturantes na economia, como a da Previdência Social.
“Estamos dispostos a ajudar o governo nas propostas para recuperar a economia, que foi destruída pelo próprio PT, pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma, desde que sejam medidas concretas”, afirmou Antônio Imbassahy (BA), novo líder do PSDB na Câmara. “Só não venham com novos impostos e com o jogo de cena do PT de não apoiar as propostas”, emendou o parlamentar baiano.
A nova rota está justamente relacionada ao perfil do novo líder do partido, considerado mais “moderado” do que o do anterior, Carlos Sampaio (SP). O paulista centrou sua atuação em 2015 na defesa do impeachment da presidente Dilma Rousseff e, nesse sentido, na aproximação com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a despeito das acusações contra o peemedebista de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.
O novo líder da minoria na Câmara, deputado Miguel Haddad (PSDB-SP), reforça o discurso de Imbassahy. Segundo Haddad, ajudar o governo em propostas ligadas à retomada da economia será uma de suas prioridades como líder da oposição. “Algumas reformas são importantes e vamos ter que discutir e aprovar, desde que sejam concretas e que o PT também apoie.”
‘Tragédia`: Segundo Imbassahy, a bancada na Câmara decidiu não fazer oposição às reformas estruturantes, após uma percepção entre eles de que a crise econômica se agravou e que o partido não pode se omitir em relação a isso. “A tragédia da economia, com o desemprego, não pode se transformar em luta política”, afirmou.
O líder do PSDB ressalta que o objetivo da bancada é deixar claro que quer contribuir para a recuperação da economia brasileira. Segundo Imbassahy, o partido usará a estratégia como uma “vacina” contra críticas do governo federal de que a oposição é uma das culpadas pela crise econômica, por apostar no “quanto pior, melhor” ao votar contra propostas que visam a retomada do crescimento.
Imbassahy reconhece que o PSDB errou no ano passado ao votar contra algumas medidas do ajuste fiscal, como no caso fator previdenciário – regra criada no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para evitar aposentadorias precoces. “Votamos sabendo que não era o melhor”, justificou o líder, um dos 51 tucanos a votar pela derrubada do veto da presidente Dilma ao fim do fator.
Segundo outro deputado tucano que falou sob a condição de anonimato, integrantes da bancada alegavam que, por a responsabilidade de governar não ser do partido, eles tinham uma posição mais confortável para votar no que governistas chamam de “quanto pior, melhor”. “Alguns até ponderavam que poderíamos estar exagerando, mas acabava que todos iam nessa linha para mostrar unidade da bancada.”
Impeachment. De acordo com o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), a decisão da bancada de apoiar o governo começou a ser discutida há cerca de três meses. Ele lembra que um sinal claro dessa mudança foi dado quando ele procurou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), para propor um acordo em torno da votação da PEC que prorroga a DRU.
“Esse apoio as reformas vem de um sentimento da bancada diante da gravidade do momento”, comentou o deputado. Assim como os outros parlamentares tucanos, Araújo faz questão de destacar que a decisão da bancada de apoiar essas reformas não significa que o partido abandonará a ideia do impeachment.
Embora haja uma avaliação interna de que o impedimento de Dilma perdeu força após o rito estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal, deputados do PSDB afirmam que a defesa do afastamento da petista continuará forte.
O foco deles agora, porém, são as ações que pedem a cassação de Dilma e do vice-presidente Michel Temer ajuizadas pelo partido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).