Pós 'A Esquerda no Século 21' começa com abaixo-assinado pró-Dilma

Ex-prefeito Fernado Haddad fez a abertura do curso

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Sentindo-se em crise, a esquerda vai à escola. Alunos da pós-graduação "A Esquerda no Século 21", que começou no último fim de semana em Chapecó (SC), pretendem encontrar nas aulas lições para retomar espaço político e lutar contra o "fundamentalismo".

Lançada em julho, com um burburinho que logo a levou a ser chamada em redes sociais de "pós em esquerdismo", a especialização tem no deputado federal Pedro Uczai (PT-SC) seu principal fiador.

"A pós não é chapa branca, não é para puxar o saco do PT", diz o parlamentar, liderança da legenda na região. "É para refletir sobre o que nós [da esquerda] fizemos e o que temos que fazer, para problematizar as críticas que precisamos tecer a nós mesmos."

Uczai fez a divulgação do "curso lato sensu mais polêmico do Brasil", como diz, e convidou colegas de partido para lecionarem na pós. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad –que fez a aula inaugural, na sexta (4), e a ex-presidente Dilma Rousseff são alguns deles.

De Dilma, que falará aos 58 alunos no primeiro fim de semana de setembro, o deputado espera autocrítica sobre a política econômica de Joaquim Levy. O ex-ministro da Fazenda contrariou setores do partido ao encampar o ajuste fiscal.

Uma análise frequente no curso é a de que a sigla deixou de lado suas bases após chegar ao poder.

"As conquistas que vieram nos anos do PT", afirma Maria Tereza Capra, 47, uma das alunas, "fizeram com que as pessoas nos movimentos sociais se acomodassem".

Vereadora em segundo mandato pelo PT em São Miguel do Oeste (SC), ela diz se preocupar com "o ressurgimento com toda força do fundamentalismo".

Formada na maioria por filiados e simpatizantes do PT, a turma reúne moradores de Chapecó e da região, além de estudantes do Rio Grande do Sul, do Paraná e do Rio de Janeiro. A atuação em movimentos sociais é outra característica em comum.

Cada aluno pagará R$ 7.200 pela especialização. Segundo a organização, foram mais de 500 inscritos –o "histórico de atuação em organização social e política" foi um dos critérios de seleção.

Com duração de um ano, a pós é coordenada pelo Instituto Dom José Gomes, com apoio da Universidade Federal da Fronteira Sul e da Fundação Perseu Abramo, do PT.

HUMILDADE

A aula aberta de Haddad (a R$ 5) reuniu cerca de 250 pessoas no auditório do sindicato dos servidores públicos municipais. O ex-prefeito e ex-ministro da Educação falou sobre a evolução mundial sob a ótica da esquerda.

Segundo ele, a "impossibilidade completa de diálogo" que enfrentou na campanha (malsucedida) em São Paulo pela reeleição começa a mudar.

"Muitas informações que estavam represadas sobre os demais partidos vieram à tona", diz o petista. "Hoje é mais fácil para a população concluir que tínhamos um problema sistêmico de financiamento e que há muitas gradações."

Para ele, a esquerda deve "ter humildade" e "ouvir mais do que falar" se quiser ter chance em 2018 na disputa com o campo da direita.

A organização circulou um abaixo-assinado que pede ao Supremo Tribunal Federal a anulação do impeachment de Dilma e a recondução dela ao cargo. Haddad negou na solenidade, mais uma vez, que seja um "plano B" do PT e reafirmou que o candidato da sigla é Lula.

A afirmação foi recebida com muitos aplausos e alguns gritos de "fora, Temer".

CONTRA OS COXINHAS

O curso teve sequência no dia seguinte, sábado (5), com aula fechada para os matriculados da disciplina "A Esquerda nos Séculos 19 e 20: Luta Socialista e Teoria Revolucionária".

O conteúdo, ministrado pelo professor José Rodrigues Mao Júnior, passou pelas revoluções chinesa e cubana.

Doutor em história econômica pela USP, ele também é vocalista da banda punk O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos. E, neste domingo (6), fez show no Sesc Itaquera com músicas de seu álbum mais recente, "Contra os Coxinhas Renegados Inimigos do Povo".

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