O presidente da Câmara de Jandira, Wesley Teixeira (PSB), encontrou o gabinete da prefeita afastada Anabel Sabatine (PSDB) fechado na manhã desta quarta-feira (14) quando tentou assumir interinamente o cargo. Nesta terça (13), os vereadores da cidade. na Grande São Paulo, aprovaram o afastamento de Anabel por 180 dias após denúncias de desvio de verbas e de fraude em licitação. Anabel assumiu o cargo em dezembro de 2010, após o assassinato a tiros do então prefeito, Braz Paschoalin.
Teixeira chegou à Prefeitura por volta das 11h desta quarta e se deparou com as portas do gabinete de Anabel trancadas. Ele decidiu, então, acionar um chaveiro. O chefe de gabinete da prefeita, Análio Augusto dos Reis, afirma que ela continua no cargo porque não foi notificada de seu afastamento temporário. Nesta terça, a Câmara tentou entregar um ofício comunicando a decisão dos vereadores, mas Reis se recusou a receber o documento porque, segundo ele, o ofício precisaria ser entregue pessoalmente à prefeita. Anabel não foi à Prefeitura nesta manhã. Segundo Reis, Anabel tem compromissos externos nesta quarta. Ela estaria na capital paulista, em reunião na Secretaria de Planejamento do governo paulista.
Ao afirmar que chamaria o chaveiro para abrir o gabinete, Teixeira foi informado pelo advogado de um secretário de governo que a ação seria fotografada. O vereador, entretanto, não se intimidou. ?Tem que cumprir a lei?. Após a chegada do chaveiro, o presidente da Câmara de Jandira entrou no gabinete e assumiu o cargo.
Suspeita de fraudes
No dia 1º de junho, a Secretaria da Educação de Jandira autorizou que as escolas agendassem um passeio para um recanto ecológico. A excursão não aconteceu no dia marcado por causa do mau tempo. Mas a licitação para contratar o passeio só foi publicada depois, em 13 de junho. E quem ganhou a concorrência foi o mesmo recanto.
O passeio dos alunos é uma das quatro supostas irregularidades apontadas em um documento feito por um morador de Jandira e entregue à Câmara Municipal como uma denúncia contra a prefeita Anabel Sabatine.
O documento mostra que a Prefeitura usou R$ 3,2 milhões de um fundo federal para a educação e mais de R$ 400 mil da verba para o combate à dengue para cobrir a folha de pagamento do funcionalismo de Jandira, o que é proibido.
No começo de agosto, a Justiça determinou que a Polícia Civil instaurasse um novo inquérito para apurar a eventual participação de Anabel no homicídio. ?Eu tenho uma certeza absoluta na minha vida: por mim, o Braz estaria aqui?, disse ela, na ocasião.
O desembargador Amado de Faria determinou a instauração do um novo inquérito a pedido da Procuradoria-Geral de Justiça. O Ministério Público disse que, após a análise de elementos colhidos na investigação que deu origem ao processo criminal contra várias pessoas pela morte de Paschoalin, já em andamento, a Câmara Especializada de Crimes de Prefeitos, da Procuradoria-Geral de Justiça, requisitou a investigação também da prefeita.
?Eu não tive acesso ao processo. Então, eu não sei explicar no que eles estão se baseando. Você percebe nitidamente interesse político de quem quer assumir. Se acharam por bem eu ser investigada, vamos investigar, porque eu estou com a minha consciência tranquila?, afirmou a prefeita.
Ela disse que teme pela própria vida. ?Agora, eu não acredito que haja sanidade mental para não se fazer alguma coisa contra minha vida.?
Entenda o caso
Braz Paschoalin morreu em 10 de dezembro de 2010. Na ocasião, em vez de utilizar o carro blindado, o então prefeito foi em outro veículo sem blindagem até uma rádio onde semanalmente participava de um programa no qual respondia perguntas de ouvintes. Ao chegar à rádio, o automóvel foi atingido por pelo menos 15 disparos, matando Paschoalin. O som dos tiros foi transmitido ao vivo
De acordo com a polícia, o primeiro automóvel não foi usado porque o pneu foi furado no dia do crime. A perícia comprovou, segundo o delegado responsável pelas investigações, Zacarias Tadros, que o dano foi provocado.
Paschoalin estava em seu terceiro mandato como prefeito da cidade. Durante o segundo mandato, chegou a ser o prefeito com o maior salário do país. Em 2003, ele foi investigado por causa do sumiço de cem cheques da Prefeitura. Os cheques foram feitos em nome de várias pessoas e sacados de uma vez só. As assinaturas que endossaram os cheques eram falsificadas. A mulher do prefeito, Maria Helena, também foi investigada pelo Ministério Público por causa de despesas que o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo considerou irregulares.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) ofereceu em 14 de fevereiro denúncia contra sete suspeitos da morte do prefeito. Foram denunciados à Justiça como mandantes do crime dois ex-secretários municipais, um ex-candidato a vereador no município da Grande São Paulo, além de outros quatro homens, sendo um deles um ex-policial militar, como executores do crime.
A denúncia foi oferecida pelo promotor de Justiça Neudival Mascarenhas Filho, do Núcleo São Paulo do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Para ele, Paschoalin foi morto porque havia demitido um secretário e antigo colaborador e estava se desentendendo com um outro secretário, que também pretendia demitir.