A candidata a presidente da República pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), Luciana Genro, afirmou durante entrevista, que, se eleita, governará com a "pressão popular". Ela deu a resposta após ser questionada sobre como pretende governar sem apoio no Congresso e se adotaria a "política do é dando que se recebe". Atualmente, o PSOL tem um senador e três deputados federais.
De acordo com a candidata, os governos têm dificuldades no Congresso porque enviam propostas que não têm apoio popular. Ela mencionou a reforma da Presidência. "Faz diferença quando há pressão popular, seja como nas manifestações de junho, seja simplesmente enchendo as galerias", afirmou. "Eu governaria assim, me apoiando na pressão popular", complementou.
Ela se disse contrária à legalização de outras drogas que não sejam a maconha, ao aumento no preço da gasolina, ao pagamento de mensalidades nas universidades públicas e à proibição do a proibição do uso de máscaras em protestos. Respondeu que é favorável à eutanásia, ao aborto e ao financiamento exclusivamente público de campanhas políticas.
Quando perguntada se era a favor do calote da dívida externa,a firmou: “Não chamo de calote”. Sobre o fim do direito de herança, disse que é favorável "em termos".
Programas sociais
A candidata disse que, embora crítica do governo, reconhece que há programas "bons", como o Bolsa Família e o Prouni, de concessão de bolsas a estudantes.
"Sou a favor de políticas de assistência social, como Bolsa Família e Prouni. Só que não queremos que sejam as grandes políticas do governo. Essas são políticas paliativas. Precisamos também fazer as mudanças estruturuais para permitir aos estudantes que tenham acesso às universidades públicas. Em relação ao Bolsa Família, as pessoas precisam ter oportunidade de trabalhar. Mas essas políticas precisam continuar enquanto esses problemas não forem resolvidos", declarou.
Randolfe Rodrigues
Luciana Genro disse que substituiu o senador Randolfe Rodrigues (AP) como candidata do PSOL à Presidência porque o parlamentar "acabou seduzido por uma proposta de ser mais viável eleitoralmente".
"Quando ele era candidato, não estava representando a posição média do partido. Foi por isso que ele desistiu da candidatura. Ele não estava conectado com o pensamento da maioria. Foi por isso que abriu mão e hoje está embarcando na pressão oportunista de estar mais próximo de quem está com mais chances eleitorais", declarou.
Segundo a presidenciável, Randolfe Rodrigues "está praticamente fora do PSOL". O senador, que está em Brasília para participar do chamado “esforço concentrado” dos parlamentares nesta semana, disse que a declaração de Luciana Genro foi uma “surpresa”.
“Eu não sabia nem da entrevista nem sabia que eu estava fora do PSOL”, afirmou quando foi informado sobre o conteúdo da fala da candidata. Ele não respondeu se tem intenção de deixar o PSOL.
“Meu futuro político é definido pelo povo do Amapá e é definido a partir do debate que eu trato com meus companheiros de partido. Fora esses personagens, ninguém mais define meu futuro político”, declarou.
O senador ainda afirmou que não tem tido “nenhum debate” com a Rede Sustentabilidade ou com Marina Silva e reafirmou que desistiu de concorrer à Presidência da República pelo PSOL porque sua candidatura “não unia” o partido. “Eu mesmo reconheci isso e achei que a candidatura da Luciana representava mais o ideário do PSOL e unificava mais que a minha”, afirmou.
Sexualidade
A candidata defendeu a discussão da educação sexual nas escolas e os direitos dos homossexuais.
Para ela, a educação sexual "tem de ser absolutamente democrática e oferecer informação aos jovens". Segundo Luciana Genro, a falta de discussão a respeito desse assunto está provocando um crescimento dos casos de Aids no Brasil, enquanto no mundo, afirmou, a doença recua.
Sobre a discriminação contra gays, ela afirmou que "sobre esse tema, não há que se ter tergiversações". "Tenho certeza que no futuro ainda vamos rir dessas discriminação por causa da orientação sexual das pessoas", declarou.
Economia
A candidata criticou o chamado tripé macroeconômico, que é a manutenção da meta de inflação, do superávit fiscal e do câmbio flutuante. Segundo ela, não é uma “boa política econômica” aquela que não possibilita ao país investir no que vai “resolver os problemas do povo”.
“Esse tripé” é uma escolha que o Fernando Henrique fez, o Lula manteve, a Dilma também e a Marina vai manter. Significa manter em alta as taxas de juros. O dinheiro dos brasileiros está indo para sustentar banqueiros. Os bancos são os únicos que ganham com esse modelo econômico. Fazemos superávit há 20 anos, e a dívida é mais de R$ 3 trilhões. Não é uma boa politica econômica, que não possibilita ao país investir no que vai resolver os problemas do povo”, afirmou.
Dívida dos estados
A candidata disse que, se eleita, fará uma auditoria na dívida dos estados com a União. Para ela, o dinheiro pago pelos estados vai para os bancos, para pagamento de juros.
Luciana Genro afirmou que permitirá aos estados usar o dinheiro do pagamento da dívida para investir na área social. Segundo ela, essa é uma maneira de “ouvir as vozes de junho”, numa referência aos protestos de rua do ano passado.
“Vou interromper esse fluxo de dinheiro dos estados para os bancos, através da União. Depois, vou fazer uma auditoria, inclusive no indexador dessas dividas. Eu vou permitir aos estados que utilizem esse dinheiro para que possam atender as demandas da sua população, pagar o piso dos professores, investir 10% na saúde. Ouvir as vozes de junho significa isso”, afirmou.
Reforma tributária
Luciana Genro afirmou ainda que o país necessita não de uma reforma, mas de uma "revolução" tributária. Ela disse que é a favor da taxação de grandes fortunas, e também de outras medidas que, na opinião da candidata, tornariam mais “justo” o modelo tributário.
Entre essas medidas, defende a atualização da tabela do imposto de renda – para ela, o limite da isenção deveria ser de R$ 2,7 mil – e a cobrança de impostos para estrangeiros que investem na Bolsa.
Para a presidenciável, o atual modelo de cobrança de impostos favorece o setor financeiro e não o setor produtivo. "O setor produtivo está em crise porque só quem ganha é o setor financeiro. Os ativos dos 50 maiores bancos são superiores aos das 500 maiores empresas produtivas. O que acontece hoje é uma financeirização da economia", disse.
Socialismo
A candidata foi indagada mais de uma vez sobre como poderia ser aplicado o modelo socialista que defende. À pergunta sobre onde a experiência socialista deu certo, ela respondeu dizendo que em nenhum lugar o capitalismo deu certo.
"Tenho ideologia socialista. Luto por um mundo em que a lógica do lucro não se sobreponha ao bem estar do ser humano", afirmou. Segundo ela, o êxito sob o capitalismo é "para alguns poucos que conseguem sobreviver nesse sistema excludente".
"O mundo não foi sempre capitalista. [...] Não houve socialismo propriamente em nenhum lugar do mundo. Experiências de expropriação não vieram acompanhadas de experiências democráticas", afirmou.
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