Além de perder o mandato, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) enfrenta a possibilidade de ficar inelegível por oito anos caso seja derrotado na ação em curso na Justiça Eleitoral desde o final de 2022. O caso pode ser julgado no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Paraná antes de março, mas provavelmente terá seu desfecho no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), devido à possibilidade de recursos para Brasília contra a decisão da corte regional.
As representações movidas pelo PL e pelo PT resultaram na ação, alegando principalmente suposto abuso de poder econômico durante a pré-campanha de Moro relacionada ao pleito de 2022. Esses partidos argumentam que o ex-juiz da Operação Lava Jato fez gastos excessivos antes da campanha formal, o que teria desequilibrado a disputa entre os concorrentes. Moro nega as acusações.
Se a Justiça Eleitoral julgar procedente a ação e entender que houve abuso de poder econômico, as consequências seriam a cassação da chapa (ou seja, a perda do mandato) e a inelegibilidade por oito anos, contados desde o pleito de 2022. Ou seja, Moro ficaria "ficha suja" até o ano de 2030. Isso está previsto em trecho da Lei das Inelegibilidades (lei complementar 64/1990), alterada em 2010 pela Lei da Ficha Limpa (lei complementar 135/2010).
Ali, está definido que são consideradas inelegíveis todas aquelas pessoas que tenham sido alvo de "representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado [quando não cabe mais recurso] ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos oito anos seguintes".
Mas, mesmo se a corte regional julgar procedente a ação, a cassação do mandato e a inelegibilidade podem ser suspensas por um recurso ao TSE. Com isso, ele poderá sair do Senado e se tornar "ficha suja" somente após a decisão da corte máxima da Justiça Eleitoral. Além disso, a inelegibilidade não atinge necessariamente os três integrantes da chapa -além de Moro, o advogado Luis Felipe Cunha (primeiro suplente) e o empresário Ricardo Augusto Guerra (segundo suplente). Especialistas do direito eleitoral explicam que, mesmo com a cassação, a inelegibilidade é aplicada somente àqueles diretamente responsáveis pelos ilícitos.
No caso de Moro, o próprio parecer do Ministério Público Eleitoral indica que Guerra, o segundo suplente, não esteve envolvido durante o período da pré-campanha, que é o foco principal da ação, sugerindo que a inelegibilidade não se estenda a ele. Outra consequência, caso a chapa liderada por Moro seja invalidada, é a convocação de uma nova eleição no Paraná para preencher a vaga no Senado.
De acordo com trecho do Código Eleitoral, a "decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de votos anulados". Quando o PL entrou com a representação contra Moro no TRE, a sigla também fez um pedido para que, na hipótese de cassação do ex-juiz da Lava Jato, a chapa que ficou em segundo lugar na corrida de 2022 -encabeçada por Paulo Martins, da sigla de Jair Bolsonaro (PL)-- assumisse interinamente a vaga no Senado, até a realização de uma nova disputa nas urnas.
Mas, no final do ano passado, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que, em casos assim, a cadeira fica vazia até a realização da eleição suplementar. Ou seja, o segundo mais votado não assume provisoriamente a vaga. Moro somou 1.953.188 votos nas urnas de 2022, ou 33,50% do total. Logo atrás ficaram Martins, com 29,12%, e Álvaro Dias (Podemos), com 23,94%. Outros seis candidatos também estavam na disputa. Portaria do TSE publicada no final do ano passado reservou oito datas no calendário de 2024 para eventuais eleições suplementares no país.
São seis datas de janeiro a junho e outras duas datas em novembro e dezembro. Assim, as eleições suplementares não esbarram na eleição que vai definir novos prefeitos e vereadores em todo país, cujo pontapé inicial oficial é no mês de julho, quando começam as convenções partidárias. Mesmo sem decisão da Justiça Eleitoral sobre o caso Moro, a possibilidade de uma eleição suplementar já tem despertado uma corrida entre políticos interessados na vaga do ex-juiz da Lava Jato. Conforme revelou o Painel em julho, quase dez nomes circulam na lista de pré-candidatos à virtual eleição, incluindo Martins, a deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o deputado federal licenciado Ricardo Barros (PP), ex-líder de Bolsonaro na Câmara.
(Com informações da FolhaPress - Catarina Scortecci)