Por José Osmando Araújo
Na sua passagem pela cúpula do G7, realizada este final de semana no Japão, o Presidente Lula fez duras críticas aos países ricos e relacionou o protecionismo posto em prática por eles como responsável pelo enfraquecimento do comércio global e a paralisação de organismos multilaterais, como a OMC ( Organização Mundial do Comércio) e a ONU, acusando-os também de estimularem abertamente a existência de conflitos armados em várias partes do planeta, especialmente essa última tragédia, em vigor, entre Ucrânia e Rússia.
Lula pontuou, especificamente, que o endividamento externo de muitos países, que vitimou o Brasil no passado e hoje assola a Argentina, é causa de desigualdade gritante e crescente, e requer do Fundo Monetário Internacional um tratamento que considere as consequências sociais das políticas de ajuste.
Quanto à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, ele reiterou sua posição de que ambos os países são culpados pelo conflito armado, reforçando sua crítica às maiores potências econômicas da Europa, e Estados Unidos, pelo estímulo que oferecem na materialização desses confrontos. E voltou a defender o fim das agressões e o restabelecimento da paz.
PREGANDO NO DESERTO
Mas parece que o Presidente Lula está pregando no deserto, diante de visível constatação de que um país como o Brasil, não fazendo parte do grupo de superpotências econômicas, não teria o direito de opinar sobre paz e o fim de guerras descabidas. Pregar o fim de uma guerra insana e querer a prevalência da paz não parece ser um direito e um dever que quem anseia por um mundo melhor. Essa é a lógica da política dominante.
Não está distante, porém, a explicação para esse raciocínio assombroso de que a guerra parece ser melhor do que a paz. Mais de um ano após a Rússia ter invadido a Ucrânia e aí ter-se iniciado a guerra, obtém-se a certeza que nenhum dos dois países envolvidos no conflito está ganhando alguma coisa com isso. Quem ganha fortemente é a indústria armamentista.
CONSUMO DE ARMAS
As dez maiores companhias de armas e munições dos Estados Unidos apresentaram um crescimento de 7,5% apenas no último trimestre de 2022. O próprio Ministério da Defesa da Ucrânia atesta que o país consome cerca de 400 mil projéteis de artilharia, como balas de fuzil e metralhadoras, por mês, o que representa uma média superior a 13 mil munições por dia. Só os Estados Unidos enviaram a Kiev um milhão de projéteis de 155 mm, o que, em tempos de paz, significaria a produção de cinco anos.
NAÇÕES SE ARMARAM
Esse armamentismo disparado não ficou apenas com os dois protagonistas principais da guerra. De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz, de Estocolmo, as importações europeias de armamentos cresceram 92% em 2022, pois diversas outras nações da Europa correram para se armar, por princípio de precaução de defesa. A Ucrânia, em guerra direta, teve um aumento armamentista de 6.700%, comprando 68 vezes mais do que fizera em 2021.E a vizinha Polônia aumentou suas compras em 764%.
Vê-se, assim, quem ganha com as guerras. Daí o interesse das grandes potências em manter conflitos armados entre países sobre os quais têm domínio. Esquecem, porém, que essas práticas podem colocar a Rússia no canto da parede, dando motivação ao Vladimir Putin de optar por ataques nucleares, com chances de se iniciar a Terceira Guerra Mundial.
Aí, quem sabe, vão compreender que Lula tinha razão em pregar a paz.