A divisão entre os países do G20 por causa da guerra na Ucrânia deve criar um grande desafio diplomático para o Brasil, que passa a presidir o bloco pela primeira vez em 2024. O grupo das maiores economias do mundo chega à sua Cúpula de Líderes, que vai acontecer entre os dias 9 e 10 de setembro, em Nova Delhi, na Índia, completamente dividido.
De um lado, os países do G7, as grandes democracias liberais lideradas pelos Estados Unidos, defendem novas sanções e condenações contra a Rússia – que veta as discussões e decisões nesse sentido dentro do bloco, com o apoio cada vez mais entusiasmado da China.
Essa divisão já estragou a última reunião do tipo, realizada em novembro do ano passado em Bali, na Indonésia, quando os países não conseguiram chegar a uma declaração final e sequer houve clima para a tradicional foto conjunta dos líderes. O mesmo problema ameaça fortemente o encontro na capital indiana.
O presidente Vladimir Putin afirmou que não irá ao evento – mesmo não correndo o risco de ser preso, já que a Índia não reconhece o Tribunal Penal Internacional (TPI), que expediu um mandado de prisão contra o líder russo por crimes de guerra.
O chefe da delegação russa, o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, já antecipou que vai vetar qualquer comunicado conjunto que não atenda às demandas do Kremlin.
Caso ele cumpra sua palavra, esta será a segunda cúpula sem um documento oficial final. O presidente da China, o todo poderoso Xi Jinping, ainda não confirmou totalmente, mas também deve boicotar o evento, tirando parte do prestígio da anfitriã Índia – rival regional dos chineses.
Embora ainda haja tempo, esse racha profundo também deverá ter um impacto na cúpula que será organizada pelo Brasil, provavelmente em meados de novembro de 2024, no Rio de Janeiro.
Isso porque os reflexos das divisões, exacerbados pela guerra, vão persistir mesmo que o conflito tenha um fim durante o ano que vem. Além disso, mesmo depois que as hostilidades acabarem, vários aspectos terão que ser discutidos em fóruns como o G20 – independente de quem vença no campo de batalha. E isso ameaça sequestrar parte das iniciativas diplomáticas do Itamaraty para a cúpula brasileira.