Russomanno usa estrutura da Universal na campanha política

O estacionamento do templo da av. João Dias, em Santo Amaro (zona sul), é ponto de encontro de equipes.

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O principal templo da Igreja Universal do Reino de Deus em São Paulo vem sendo usado pela campanha do candidato do PRB à prefeitura, Celso Russomanno, como um tipo de comitê informal.

O estacionamento do templo da av. João Dias, em Santo Amaro (zona sul), é ponto de encontro de equipes que saem diariamente para fazer campanha nas ruas. À tarde, retornam ao local para devolver materiais de campanha como bandeiras e adesivos.

O partido de Russomanno é comandado por pastores e bispos da Universal, e alguns deles ocupam os principais cargos da coordenação de sua campanha. O candidato, no entanto, tenta desvincular sua candidatura da igreja.

Já afirmou, por exemplo, que não pediu nem iria pedir dinheiro de nenhuma igreja e que a Universal não deu nem R$ 1 à campanha.

A Folha acompanhou quando cerca de 50 cabos eleitorais chegaram ao local, anteontem, por volta de 17h30. Bandeiras em mãos, eles entraram pela lateral do prédio, que dá acesso ao estacionamento, frequentado por fiéis que vão aos cultos.

Os trabalhadores, todos jovens, se dirigiram a uma mesa caraterizada como sendo da Força Jovem Brasil, grupo da juventude da Universal.

Eles formaram filas para deixar ali as bandeiras, que foram colocadas em duas peruas "adesivadas" com propaganda de Russomanno e do pastor Jean Madeira, líder da Força Jovem, que concorre à Câmara pelo PRB.

Os veículos estavam estacionados dentro do templo.

No interior do prédio, a reportagem foi convidada para trabalhar na campanha de Russomanno por um jovem. Ele ofereceu R$ 150 por semana para uma jornada diária de sete horas. Disse que o pagamento é feito no local.

O cabo eleitoral afirmou ainda que, caso a oferta fosse aceita, ele poderia ser encontrado no próprio estacionamento da igreja após o culto, do qual iria participar.

Questionados se trabalhavam para a campanha do candidato a prefeito ou do pastor Madeira, os cabos eleitorais disseram que eram funcionários de Russomanno.

Eles portavam alguns materiais de propaganda exclusivos do candidato, como adesivos com a inscrição "sou padrinho" de Russomanno.

Os jovens disseram que atuam no largo 13 de Maio. No momento em que a reportagem esteve no templo, eles participavam de uma reunião em que se discutia a escala de trabalho nas ruas. No culto, não houve propaganda ou menção ao candidato.

O edifício da João Dias é a sede da Universal na cidade, onde o líder da igreja, bispo Edir Macedo, celebra cultos quando está em São Paulo.

Líder nas pesquisas de intenção de votos, Russomanno declarou um dos menores gastos na campanha até agora: R$ 1,3 milhão, contra R$ 16,5 milhões de Fernando Haddad (PT) e R$ 8,4 milhões de José Serra (PSDB).

Ele informou à Justiça ter desembolsado R$ 27,5 mil com "cessão de bens imóveis" --espaços usados pela campanha e cedidos por alguém (como um aluguel). Um dos imóveis é do próprio candidato. Não há menção ao uso do templo da Universal.

Russomanno conta também com o trabalho voluntário de integrantes da igreja. Em sua prestação de contas, estão declaradas 101 doações estimadas em R$ 300 cada uma, forma pela qual é contabilizada a ação dos fiéis.

OUTRO LADO

O candidato Celso Russomanno (PRB) disse não ter conhecimento do uso da estrutura do templo por sua campanha. Por isso disse que não poderia comentar.

O presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, coordenador da campanha de Russomanno e bispo licenciado da Universal, afirmou anteontem que iria apurar a informação e que, se a confirmasse, pediria para que a ação fosse interrompida.

Pereira disse na ocasião acreditar que os cabos eleitorais estivessem trabalhando para o candidato a vereador Jean Madeira (PRB) --e não para Russomanno.

Os cabos eleitorais afirmaram que eram contratados pelo candidato a prefeito. O presidente do partido disse que eles provavelmente haviam se confundido.

"As pessoas têm poucas informações, às vezes confundem, acham que a campanha do Jean é a mesma que a do Russomanno."

Ontem, Marcos Pereira escreveu dizendo ter falado com Madeira, que negou a existência de base no estacionamento do templo.

Na prestação de contas do candidato a vereador também não constam gastos de utilização do espaço.

A Folha entrou em contato com representante da Universal e com Madeira por e-mail, mas as mensagens não foram respondidas. Por telefone, ninguém atendeu até a conclusão desta edição.

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