Depois de quase três meses em obsequioso silêncio, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) voltará nesta terça-feira a falar publicamente no Senado sobre as denúncias que pesam contra ele.
Mas, ao contrário das peças oratórias de antes, usadas quase sempre para atacar o governo, Demóstenes terá a difícil missão de se defender no Conselho de Ética do Senado da acusação de quebra de decoro parlamentar por sua intensa e nebulosa atuação em defesa dos negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Sua cassação no Conselho, onde o voto é aberto, já é dada como certa entre os senadores.
Segundo o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, Demóstenes fará uma exposição inicial mostrando os pontos altos de seu mandato, para tentar convencer que teve uma atuação digna. Em seguida, tratará de cada uma das acusações que lhe foram imputadas pela representação feita pelo PSOL e pelo relatório do senador Humberto Costa (PT-PE).
Quando terminar a defesa, que deve durar meia hora, Demóstenes se colocará à disposição para perguntas. De acordo com seu advogado, ele responderá aos colegas.
Relator cita atividade no Senado a favor de bicheiro
Como a defesa de Demóstenes está questionando os grampos feitos durante a operação Monte Carlo, Humberto Costa optou por fazer um relatório calçado essencialmente na atuação parlamentar do colega, que, afirma, esteve a serviço do bicheiro. De acordo com Costa, não há nos anais do Senado projeto ou pronunciamento de Demóstenes que confirme sua militância contrária à legalização dos jogos de azar, como ele afirmara em discurso logo que vieram à tona as relações dele com o bicheiro.
Ante a gravidade das acusações, tanto parlamentares da base aliada quanto da oposição são céticos quanto à possibilidade de Demóstenes conseguir convencê-los de sua inocência.
? Vamos esperar o depoimento. Em relação ao senador Demóstenes minhas expectativas têm sido muito contrariadas. É claro que será a primeira oportunidade de ele se defender depois de mais de dois meses de acusações. Por isso vai despertar grande interesse ? disse o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira.
O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), tem dúvidas:
? É dever de ofício ouvi-lo, mas é preciso saber quais elementos serão apresentados para rebater algo que já está consagrado ? disse Pinheiro, que não acredita que o lobby de Demóstenes em prol de sua absolvição vingue: ? Cada um terá que avaliar o que quer das instituições. Um mandato de senador, ainda que dure oito anos, termina. Mas um mandato não pode definir a duração de uma instituição.
No seu relatório preliminar, Humberto Costa lembrou que em 2004 Demóstenes votou contra a medida provisória que proibia a exploração dos bingos e das máquinas caça-níqueis. E em 2008, quando a Comissão de Constituição e Justiça votava projeto de lei que criminalizava a exploração dos jogos de azar, Costa cita que, ?embora Demóstenes fosse assíduo e sempre atuante nos debates que envolvem matéria penal, não estava presente à reunião?.
Para completar, durante os dois anos que presidiu a Comissão de Constituição e Justiça (2009 a 2010) o senador não indicou relator para o projeto, que acabou arquivado.
O relator voltou ao início do mandato de Demóstenes e resgatou um discurso dele de 2003 a favor da legalização dos jogos: ?Não se trata de conjecturas ou interpretações, é o que está literalmente escrito?. Costa listou evidências de que Demóstenes trabalhava para o bicheiro.