Senadoras condenam fala de Plínio Valério sobre “enforcar” Marina; senador não se arrependeu

Em apoio à reação das senadoras, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, classificou a fala do senador amazonense como “infeliz”.

Leila Barros diz que atitude de senador foi inaceitável | Andressa Anholete/Agência Senado Leila Barros diz que atitude de senador foi inaceitável | Foto: Andressa Anholete/Agência Senado
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Senadoras de diversos partidos reagiram às declarações do senador Plínio Valério (PSDB-AM)que, em um evento no Amazonas, falou da intenção de agredir a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Em nota, a procuradora Especial da Mulher do Senado, Zenaide Maia (PSD-RN), declarou repúdio à atitude de Plínio Valério e sugeriu que o senador se desculpe publicamente. Zenaide disse ainda considerar "gravíssimo" ver um membro do Parlamento cometer um "explícito ato de violência de gênero contra uma mulher".

Conduta inaceitável

A senadora Leila Barros (PDT-DF) classificou a atitude de Plínio Valério como um exemplo do que as mulheres sofrem cotidianamente. "Não me interessa o contexto em que as pessoas falam: se é uma brincadeira, uma piada, numa roda de amigos ou um discurso. Não é normal. Isso é inaceitável. Figuras públicas, pessoas, seja um presidente, seja um senador, seja um advogado, seja um mecânico; qualquer homem, qualquer cidadão neste país tem que respeitar a mulher. Estamos perdendo tempo, dando um péssimo exemplo para o exterior, cada um justificando o que fez", disse.

Terrível

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) aconselhou Plínio Valério a pedir desculpas. "Se quer divergir das ideias, das discussões, dos projetos, que divirja; isso faz parte do processo democrático. Agora, ter falas que incitam, por exemplo, o ódio, a discórdia, é algo terrível e não se pode admitir. Com a devida vênia e respeito que tenho ao meu colega senador Plínio, e o grande respeito que tenho à senadora e nossa ministra Marina Silva, isso é inaceitável, isso é inadmissível", disse.

Alcolumbre

Em apoio à reação das senadoras, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, classificou a fala do senador amazonense como “infeliz” e como um “combustível” para casos de violência em um país já polarizado. Após a manifestação de Davi, Plínio e outros parlamentares se manifestaram sobre o episódio.

Réplica

Diante do posicionamento do presidente do Senado e das senadoras, Plínio afirmou que a fala foi “uma brincadeira”, referindo-se a uma audiência da CPI das ONGs, em novembro de 2023. Na ocasião, a ministra, segundo Plínio, foi tratada com “toda decência”. Contudo, o senador, que presidiu o colegiado, apontou que ficou irritado diante das negativas da ministra em liberar obras na BR-319, rodovia vital para o Amazonas.

Fala de Plínio 

"Por ser mulher, por ser ministra, por ser negra, por ser frágil, foi tratada com toda a delicadeza; ela sabe disso. Um ano se passou e eu fui receber uma medalha e, na brincadeira, em tom de brincadeira, eu falei, falando da BR-319, eu disse: “Imaginem o que é ficar com a Marina seis horas e dez minutos sem ter vontade de enforcá-la”. Todo mundo riu, eu ri, brinquei. Foi brincadeira".

Senador diz que não se arrependeu

Para o senador, parlamentares ficaram mais sensibilizados com a fala dele sobre Marina do que com as mortes por covid-19 no Amazonas, devido à dificuldade de o oxigênio chegar às principais cidades do estado. Ele acrescentou que não se “excedeu”, mas “brincou fora de hora” e que “não está arrependido”, mas “não faria de novo”.

"Agora, o que me encanta é o Senado ficar sensibilizado com uma frase e não se sensibilizar com milhares de mortos e não me ajudarem a licenciar a BR-319. Eu não me excedi, eu brinquei talvez fora de hora, mas não me excedi. Se você perguntar: Você faria de novo?. Não. Mas está arrependido? Não, porque eu não ofendi. Eu passei seis horas e dez minutos tratando-a com decência, como merece toda mulher".

Negou ser machista

Plínio afirmou que sempre votou e propôs projetos para melhorar a vida das mulheres e negou ser machista.

"Eu fiquei viúvo, casei de novo, tenho três filhas, uma enteada, seis netas, três irmãs. As mulheres que trabalham no meu gabinete estão aqui. Esse negócio de machista... Repito, na minha casa, com uma mulher, quatro filhas, seis netas e três irmãs, todas as mulheres aqui, nenhuma tem queixa. Eu não as trato mal, então isso para mim não pega", apontou.

Em defesa do senador

Márcio Bittar (União-AC), que foi relator da CPI, saiu em defesa de Plínio e afirmou que o senador foi desrespeitado pela ministra na CPI. Eduardo Girão (Novo-CE) acrescentou que o senador sempre foi “uma pessoa muito equilibrada, serena e humanista”. Sérgio Petecão (PSD-AC), por sua vez, disse que Plínio deve ter falado em “tom de brincadeira”, mas que Marina é uma das maiores personalidades do país e do mundo e motivo de orgulho para o seu estado.

Íntegra da nota da Procuradoria da Mulher no Senado:

Nota de repúdio ao senador Plínio Valério e de solidariedade à ministra Marina Silva

Como Procuradora Especial da Mulher do Senado, mãe e avó, declaro meu repúdio ao comportamento do senador Plínio Valério, que afirmou, ainda por cima rindo, que queria enforcar a ministra do Meio Ambiente Marina Silva.

Um pedido honesto e público de desculpas, que o parlamentar recusa-se a fazer de forma espontânea, seria o mínimo que ele deveria dirigir à ministra ofendida e a todas as mulheres brasileiras, inclusive às da própria família dele.

Sem entrar no mérito da oposição política que o parlamentar do Estado do Amazonas faz a uma representante do Estado brasileiro que tem realizado efetivo combate ao desmatamento e a outros crimes ambientais na região, considero gravíssimo ver um membro do Parlamento nacional cometendo explícito ato de violência de gênero contra uma mulher.

O país viu um senador homem fazendo, em tom de deboche ou não, uma ameaça física contra a vida de uma ministra de Estado. Sabemos que o exemplo vem de cima e o que isso causou de tragédias ao país. Enforcar significa matar.

As credenciais da ministra Marina, autoridade mundial em sustentabilidade, defesa dos recursos naturais e mudanças climáticas, nem precisariam ser elencadas, porque toda violência contra toda mulher tem que ser evitada, combatida e, sim, punida. Toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva. Se o senador agrediu uma ministra, agrediu também a todas nós parlamentares e a todas as brasileiras. Todas nós somos Marina.

Zenaide Maia (PSD-RN)

Senadora da República

Procuradora Especial da Mulher no Senado Federal

(Fonte: Agência Senado)

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