Suplicy chora no plenário ao ler carta escrita por filha de Genoino

Senador leu a mensagem durante seu discurso na tribuna do Senado.Veja carta

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O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) chorou em vários momentos, na tarde desta quarta-feira (10), enquanto lia na tribuna do Senado uma carta escrita pela filha do ex-deputado e ex-presidente do PT, José Genoino. A carta foi escrita por Miruna Genoino nesta terça, após o Supremo Tribunal Federal confirmar a condenação de Genoino por corrupção ativa no julgamento do mensalão.

Na tribuna, antes de começar seu discurso, Suplicy pediu um tempo extra para ler a carta. "Fiquei particularmente comovido com a bonita carta que Miruna Genoino fez em defesa do pai. Antes que eu leia meu discurso, permita que eu use um tempo extra, porque é uma carta bonita ".

O senador então iniciou a leitura da mensagem. Logo no início, quando a filha de Genoino escreve sobre as dificuldades que o pai teve na infância, quando morava no sertão do Ceará e tinha que caminhar quilômetros para ir à escola, Suplicy ficou com a voz embargada.

Suplicy não resistiu e chorou abertamente logo depois, quando a carta começa a mencionar as torturas sofridas por Genoino no período da ditadura militar.

Dali em diante, em várias passagens do texto o senador se esforçava para continuar a leitura. Quando a carta fala das lembranças de Miruna na infância, em que ela reclamava das ausências dos pai por conta da atuação na política, Suplicy chora abertamente e interrompe sua fala por alguns instantes.

Ao todo, a leitura da carta durou cerca de sete minutos. Quando desceu da tribuna, Suplicy falou com jornalistas sobre sua relação com Genoino.

"O que sei de toda a vida, tudo que convivi com Genoino, é que ele é uma pessoa extremamente séria, que tem uma vida muito modesta, simples, mora sempre na mesma casa, onde eu o conheci com sua família, e tem um procedimento retílineo de nunca querer ter vantagens pessoais que não fosse o normal da sua remuneração como um deputado", afirmou.

Suplicy comentou ainda as condenações de petistas do julgamento do mensalão. "O que quero dizer é que isto é doído para mim. Não estou dentre os que foram indiciados, sou membro do Partido dos Trabalhadores, mas pra mim é algo sofrido. Acho que o Partido dos Trabalhadores precisa saber tirar lições desse episódio. Isso considero importantísimo", disse o senador.

Veja a íntegra da carta escrita por Miruna Genoino:

"A coragem é o que dá sentido à liberdade.

Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense, brasileiro, casado, pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava se sentindo em relação à condenação que hoje, dia 9 de outubro, foi confirmada. Uma frase saída do livro que está lendo atualmente e que me levou por um caminho enorme de recordações e de perguntas que realmente não têm resposta.

Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a ditadura militar, vinha-me uma pergunta à minha mente: será que se eu vivesse algo assim teria essa mesma coragem de colocar a luta política acima do conforto e do bem estar individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome da democracia?

Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me fez pensar em muitas outras que talvez, em meio a toda essa balbúrdia, merecem ser consideradas?

Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias 14km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma escola? Teria a coragem suficiente de escrever aos seus pais uma carta de despedida e partir para a selva amazônica buscando construir uma forma de resistência a um regime militar? Conseguiria aguentar torturas frequentes e constantes, como pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos, sem perder a cabeça e partir para a delação?

Encontraria forças para presenciar sua futura companheira de vida e de amor ser torturada na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao esperar 5 anos dentro de uma prisão até que o regime político de seu país lhe desse a liberdade?

Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições nacionais sem nenhuma condição financeira? E não se envergonharia de sacrificar as escassas economias familiares para poder adquirir um terno e assim ser possível exercer seu mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20 anos na câmara dos deputados defender os homossexuais, o aborto e os menos favorecidos? E quando todos estivessem desejando estar ao seu lado, e sua posição fosse de destaque, teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que não fosse o respeito e o diálogo aberto?

Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de 40 anos dedicados à luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e sempre, empenhado em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca pela primeira vez aos 8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: ?a única coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas...?

Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para que meu pai pudesse ter sua trajetória defendida. Não foi o suficiente para que ganhasse o respeito dos meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser olhados através de outras tantas perguntas...

Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um hospital no dia de um político realizar um procedimento cardíaco? Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de eleição a falar, com a boca colada na orelha de uma pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa já vivenciou nos piores anos do Brasil?

Pois os meios de comunicação desse nosso País sim tiveram coragem de fazer isso tudo e muito mais.

Hoje, neste dia tão triste, pode parecer que ganharam, que seus objetivos foram alcançados. Mas ao encontrar-me com meu pai e sua disposição para lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno homem possa continuar sua história de garra, honestidade e defesa daquilo que sempre acreditou.

Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não sabemos o que virá, e, para que seja possível aguentar o que vem pela frente, pedimos encarecidamente o seu apoio. Seja divulgando este e/ou outros textos que existem em apoio ao meu pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5 anos que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem sua presença, seja simplesmente mandando uma palavra de carinho. Neste momento, qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu pai.

Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não ficará de braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns setores da política brasileira querem que todos acreditem e, marca de sua trajetória, está muito bem e muito firme neste propósito, o de defesa de sua inocência e de sua honestidade. Vocês que aqui nos lêem sabem de nossa vida, de nossos princípios e de nossos valores. E sabem que, agora, em um dos momentos mais difíceis de nossa vida, reconhecemos aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos, para que possamos seguir em frente.

Com toda minha gratidão, amor e carinho,

Miruna Genoino

09/10/2012. ?

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