O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira, em entrevista a rádios comunitárias, que, após deixar a Presidência da República, deve tomar cuidado para não "fazer oposição" a sua sucessora, Dilma Rousseff. "Tenho que desencarnar da Presidência. Não vou parar de fazer política, mas tenho que cuidar para não fazer oposição ao governo", disse. "Serei um bom ex-presidente da República sem atrapalhar a nova presidente", completou.
Segundo Lula, apesar de Dilma ter uma origem diferente da sua, a presidente eleita fará um governo semelhante ao seu. "Dilma não veio de onde eu vim, mas vai para onde eu vou. Ela tem compromissos sociais", disse. "Espero que a Dilma faça um grande governo e possa sempre dizer "nunca antes na história desse País". Sinal de que superou o nosso governo", brincou Lula, referindo-se à frase que virou bordão durante seus dois mandatos.
Lula ainda falou sobre sua trajetória política. "Qualquer obstáculo sempre serviu como motivação para eu vencer", disse. "Temos que ser um motivador da sociedade. Nenhum ser humano tem o direito de perder a esperança", afirmou.
O presidente destacou ainda o que considerou ser uma mudança de postura dos brasileiros. "Acho que levantamos a moral do Brasil. Achávamos que os outros eram sempre melhores do que a gente", afirmou. "Aprendemos a respeitar o que nós fazemos", disse. Ao final da entrevista, Lula ainda brincou com os comunicadores: "Não pensem que vocês vão se livrar de mim".
Confecom
Durante a entrevista às rádios comunitárias, a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) voltou a ser comentada pelo presidente. O evento traçou metas de regulação da mídia e foi boicotado pelas entidades que representam os principais grupos empresariais do setor. "Eu acho que a Confecom abriu os olhos da sociedade e do governo para a realidade do que pode acontecer com os meios de comunicação", declarou.
Segundo Lula, o ministro das Comunicações do próximo governo terá uma responsabilidade maior, pois colocará em pauta o projeto de regulamentação da comunicação. O presidente também elogiou a atuação das rádios comunitárias no processo de democratização da mídia. "As rádios comunitárias fazem um papel extraordinário no Brasil. (...) O carinho que eu tenho pelas rádios comunitárias vem de muito antes de eu ser presidente", afirmou.
Para o presidente, o Estado tem uma dívida antiga com as rádios comunitárias. "Temos uma dívida e não é do nosso governo, mas do Estado brasileiro, que tem que se modernizar", disse. "Dilma vai ter relação extraordinária com vocês (rádios). Ela é entusiasta do novo marco regulatório para comunicações", prometeu.
Questionado por um comunicador se é verdade que as rádios comunitárias causam interferência nas torres de controle de aeroportos e podem causar acidentes aéreos, Lula ironizou e afirmou que as emissoras preocupam, principalmente, os grandes meios de comunicação. "Acho que rádio comunitária preocupa mais o "tubarão" do que o avião", respondeu. "Continuem sendo reivindicadores e comunicadores populares. O Brasil precisa disso", concluiu, ao se despedir.