O cheiro era de feijoada na Invasão da Roça da Sabina, entre o Apipema e a avenida Centenário, em Salvador. Não foi preciso perguntar a mais de um morador da localidade sobre Thaynna ou China. "A mãe dele mora lá para cima", apontaram as crianças. Dona Evandira Menezes Vasconcelos, 64 anos, nascida e criada na localidade, parece estranhar a movimentação sobre o filho, mas recebe a equipe de reportagem em sua casa.
A todo momento, um primo, um sobrinho, ou um dos irmãos entra na casa, curiosos sobre qual notícia se trazia de Thaynna, o garoto que gostava de dançar, dar virotes de três dias, se travestir e há pelo menos dez anos não aparece, nem para o Carnaval.
"Fico preocupada, né? Mas se não estivesse bem, já tinha voltado", contou a mãe, que frisou que o seu garoto concluiu o ensino médio. "Ele sempre gostou de boa vida. De dormir o dia todo e de noite ir para boate, Pelourinho".
Thaynna é descrito como amigo de todos, expansivo e extrovertido. Os olhos espantam-se quando veem a foto de Thyanna em jornais italianos e sabem do escândalo que culminou com o pedido de demissão do governador Piero Marrazzo.
"Menina, é ele mesmo. Deve estar morrendo de felicidade", brinca a amiga Silvia. Como a família e amigos receberam a notícia do escândalo foi uma das preocupações de Thyanna durante entrevista ao CORREIO. "Você esteve com eles? Ai, mentira!". Mas a família riu diante das peripécias.
Um dos irmãos mais tarde se mostrou preocupado e perguntou se poderia "sujar" para Edson - como chamam Thyanna. O famoso baiano sabe que pode apertar o cerco por causa da sua documentação. "Não tenho a documentação legal. Mas se acontecer alguma coisa (em relação à migração), tenho minha família", afirmou Thyanna, que é casado com a travesti carioca Marcela Lima.
Dona Evandira, que não vê o filho há dez anos, não soube dizer quando foi a última vez que falou com ele. "Não sei não. Ele fala com a amiga Vanda e a irmã", desconversou.
Thyanna por telefone confirma que estão brigados, sem entrar em detalhes. Foi ela quem segurou o retrato de Edson posando no Morro do Cristo. Questionada se teria algum recado para o filho, não titubeou: "diga a ele que amo muito ele e que ele fique feliz".
"O governador pagava muito bem"
Vivendo em Roma há dez anos, Thyanna (ou China para os amigos da Roça da Sabina) falou com exclusividade ao CORREIO, por telefone, enquanto acompanhava a repercussão na televisão. Contou sobre as saídas com o governador e por que não pretende voltar à Bahia. Nascido em Salvador, Edson Menezes Vasconcelos, Thyanna, 36, é uma espécie de líder entre os transexuais do bairro de Due Ponti (Roma-Norte).
Thyanna, como está a repercussão? Tem atrapalhado os negócios?
Meu Deus, Nossa Senhora, só de entrevista hoje foram oito. Com mais essa nove. O movimento por aqui não está como antes. Muitos famosos, personalidades políticas, corredores, jogadores de futebol deixam de aparecer. Baixa um pouco nosso trabalho. Sujou para todo o mundo.
Seu celular e computador foram apreendidos: podem surgir novos escândalos?
Levaram tudo (os policiais). Mas não deixei nada no computador. Eu apago.
Você faz as imagens para quê?
Eles (clientes) pedem para ver. Homem gosta de se ver fazendo ousadia.
Brasileiro tem feito sucesso aí, hein? Pretende voltar para o Brasil?
Eles (italianos) adoram. Somos como ouro. Aqui eu vivo melhor. Tenho de tudo. Gasto por dia R$150. Aqui ninguém pagava como o governador (Piero Marrazzo).
Você já tinha saído com ele?
Saí duas vezes: em uma, ele pagou cinco mil euros e na outra vez oito mil euros. Ele dava tanto dinheiro. Minha casa está toda equipada.
Tem notícias do governador?
Está doente, internado num hospital. É a cocaína.
E o que mostrava o vídeo?
Ele nu, a cocaína, a bicha. O governador pedindo para os policiais deixarem passar desta vez.