Após quase um século de promessas e expectativas dos moradores do litoral de São Paulo, o túnel que ligará Santos e Guarujá será concretizado. As duas cidades, separadas pelo canal do estuário a uma distância de 400 metros, terão um túnel submerso com extensão de 860 metros, de acordo com o projeto em andamento.
Discussão quase centenária
Os projetos para uma ligação seca entre as duas cidades são discutidos há quase 100 anos. Essa história começou na época em que Júlio Prestes era presidente (governador) do Estado de São Paulo (1927 a 1930). De lá para cá, nada saiu do papel.
Em 23 de janeiro de 1927, o jornal A Tribuna, de Santos, publicou uma notícia sobre o primeiro projeto da construção de um túnel ligando Santos e Guarujá. O plano foi apresentado pelo engenheiro Enéas Marini.
Segundo os registros da época, durante o primeiro semestre de 1926, atravessaram o canal do estuário 268.424 pessoas. Diante do fluxo de moradores e turistas, a ideia apresentada pelo engenheiro tinha como objetivo facilitar os acessos entre as cidades.
Como será a ligação seca?
O túnel submerso terá 860 metros de extensão. Ele chegará à região em blocos pré-moldados que serão acomodados em uma área escavada no canal do estuário. O trabalho precisa ser feito para manter o calado do porto e não prejudicar a navegabilidade.
O tempo estimado para a travessia de veículos pelo túnel submerso será de pouco mais de um minuto e meio. A previsão é que aproximadamente 150 mil passem pelo local diariamente.
Atualmente, algo em torno de 78 mil pessoas transitam entre Santos e Guarujá todos os dias. Os trajetos podem levar de 20 minutos a duas horas.
O túnel também contará com área para circulação gratuita de pedestres e ciclistas. Os motoristas vão pagar pedágio e terão à disposição seis pistas, sendo três em cada direção. O projeto também prevê a possibilidade de instalar linhas para o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) futuramente.
O principal objetivo do túnel submerso é servir de ligação seca entre os dois municípios. Motoristas, pedestres e ciclistas poderão ser beneficiados com o projeto.
Investimento bilionário
Inserida no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a obra é estimada em aproximadamente R$ 5,8 bilhões e será custeada com recursos dos orçamentos da União e do estado de São Paulo. Cada ente arcará com 50% do valor previsto.
"Esse túnel é necessário e fica muito caro de fazer sozinho. São Paulo já tinha projeto, meio ambiente aprovado. Humildemente, vamos fazer essa parceria para fazer esse querido 'eurotunel'", enfatizou Lula nesta sexta-feira (2).
Impactos da obra
A construção do túnel deve afetar as famílias que moram em áreas de palafitas. Em 2016, a Defensoria Pública pediu para inserirem no projeto a realocação destas pessoas.
De acordo com o órgão, é de obrigação do poder público garantir uma alternativa habitacional adequada, já que o acesso à moradia é um direito fundamental previsto por lei.
Entre os benefícios previstos com o túnel, estão a redução da poluição ambiental, segurança às pessoas que cruzam o canal do porto diariamente e melhor desempenho das operações portuárias.
Atualmente, a travessia entre Santos e Guarujá é feita pela balsa e, no deslocamento, a atividade do porto precisa ser interrompida. Outra alternativa é o caminho pela rodovia Cônego Domênico Rangoni, em um trecho de 43 quilômetros de extensão.
De acordo com o projeto apresentado pelo diretor-presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), Anderson Pomini, há sete meses, o plano é de que o túnel submerso tenha um pedágio com tarifa social semelhante à da balsa. Os ciclistas e pedestres estarão isentos.