Os chanceleres de Turquia e Armênia assinaram na noite deste sábado (10) em Zurique, acordos para a normalização de suas relações, abaladas há quase um século pela lembrança do assassinato em massa de armênios por forças otomanas na Primeira Guerra Mundial.
Se forem ratificados pelos parlamentos dos dois países, os acordos permitirão o estabelecimento das relações diplomáticas entre as nações e a abertura da fronteira comum entre ambos. Chanceleres da Armênia (esquerda) e Turquia assinam acordos observados, entre outros, pela secretária de Estado americana Hillary Clinton. (Foto: AFP)
As relações entre os turcos e os armênios sofrem há quase um século as consequências da lembrança das matanças e deportações de armênios em 1915-1917 (mais de um milhão e meio de mortos segundo a Armênia, e de 300.000 a 500.000 segundo a Turquia, que rejeita o termo de genocídio). O conflito de Nagorno Karabaj, nos anos 90, só agravou a situação. Depois de uma guerra de seis anos (de 1988 a 1994), os armênios tomaram o controle deste encrave povoado de armênios no Azerbaijão, aliado da Turquia, que em 1993 fechou sua fronteira com a Armênia como represália.
Em um contexto de ressentimento e de conflito, a aproximação entre turcos e armênios tropeça em profundas ressalvas das opiniões públicas de ambos os países e da diáspora armênia. A cerimônia de assinatura contou com a presença do alto representante de Política Externa da União Europeia (UE), Javier Solana; a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e os ministros de Assuntos Exteriores da França, Bernard Kouchner; da Rússia, Serguei Lavrov, e da Suíça, Micheline Calmy-Rey. Os chanceleres se cumprimentaram com um longo aperto de mão depois da cerimônia de assinatura, que sofreu um atraso de quase três horas e meia devido a um "acidente de percurso de última hora" relacionado aos discursos previstos para o ato.
Para resolver o problema, ficou decidido que ninguém pronunciaria discursos, segundo uma fonte diplomática. Dirigindo-se solenemente à nação, o presidente da Armênia, Serge Sarkisian, garantiu neste sábado que não "havia alternativa para o estabelecimento de relações, sem condições prévias, com a Turquia". "Ter relações com a Turquia não deve de forma alguma gerar uma dúvida sobre a realidade do genocídio... É um fato bem conhecido e que deve ser reconhecido", insistiu por outro lado o presidente armênio, um dia depois de uma manifestação em Ierevan, capital armênia, de vários milhares de opositores à aproximação com Ancara.