Duas travestis denunciam que foram espancadas por um grupo de homens na zona Sul de Teresina no último domingo. Segundo relato das vítimas, os acusados são caminhoneiros. Uma das vítimas teve a perna quebrada. A outra vítima diz que não é a primeira vez que é agredida e afirma que um dos suspeitos [suposto caminhoneiro] chegou a jogar combustível em seu corpo e tentou queimá-lo.
“Todas as pessoas que vem para cá são altamente educadas, mas somente no decorrer desse tempo que me desamparei com esses transfóbicos. Eu não suportei ver minha amiga no chão, e tive que correr”, contou uma das vítimas, Paolla Nascimento, em entrevista para repórter Liana Paiva, do Agora da Rede Meio Norte.
Ela afirma ter sido espancada juntamente com uma amiga por diversos homens. Paolla e a colega faziam programa próximo de um posto na BR-316, zona Sul da Capital, quando foram agredidas por um grupo de cerca de 8 homens. O caso ocorreu no último dia 28 de maio.
“Eles [acusados] usaram arma branca [faca], usaram pau, ferro. Eles me bateram no braço, nas pernas, no bumbum e na cabeça que está muito dolorida, inclusive estou tomando remédio antidepressivo. Eu estou com transtorno”, relatou a travesti.
Paolla ainda tentou fugir, mas foi agredida. Após isso, conseguiu sair do local. Já a outra travesti tentou sair, mas foi duramente agredida, teve as pernas quebradas.
Segundo as vitimas, os acusados são caminhoneiros que costumam frequentar o local. Elas denunciam e acusam a Polícia Militar de ter sido notificada e não ter prestado socorro.
“Eles vieram até mim, disseram que não podiam fazer nada. Várias amigas minhas já se foram mortas cruelmente, então hoje em dia há muita dificuldade para as mulheres trabalharem na noite em Teresina, porque é no pânico, é com medo”, relatou Isabelle Lima, presidente da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros Piauí.
Paolla diz que em outra ocasião chegou a ter combustível jogado no corpo. “Eu estava em um programa com um homem, aí ele mandou eu esperar no carro dele, e aí ele disse assim:’aguarda aqui na porta do meu carro’. Ele demorou uma hora, e aí eu tive que ir atrás dele ali na conveniência. Quando eu cheguei lá, isso no domingo, ele jogou gasolina na minha cara e mandou tocar fogo em mim. Se eu não tivesse corrido, acho que não estaria aqui hoje contando essa história”, relatou.
A outra travesti, que não quis se identificar, se recupera em casa. Além da perna quebrada, ela teve uma fratura na mão.
A investigação só será iniciada quando as vítimas registrarem boletim de ocorrência. A dificuldade da polícia será maior, já que os suspeitos, supostos caminhoneiros, não possuem residência fixa aqui.
O Brasil lidera o ranking de homicídios contra LGBT’s. O combate a esse tipo de crime deve se iniciar pela Secretaria de Segurança Pública. Por isso, Enyra Martins, do Grupo de Trabalho LGBT da SSP, falou sobre as ações desenvolvidas aqui para coibir a violência contra LGBT’s.
“A Secretaria de Segurança hoje trabalha com o GT-LGBT de Segurança Pública, que é um grupo de trabalho que vem realizando formações para esses profissionais de segurança: policiais militares, policiais civis, bombeiros. Então esses profissionais, nessas formações, eles entendem primeiro tudo quem são essas pessoas, para não colocarem tudo na mesma panela. Então eles sabem quem é o gay, quem é lésbica, quem é a mulher trans, travesti, homem trans. Além disso, nós temos o serviço da Central de Gênero, então as pessoas agredidas, pessoas LGBT, elas podem procurar a Central de Gênero, fazer denúncia e oi flagrante se for o caso”, afirmou.