Na manhã desta quarta-feira, 26 de janeiro, o programa Bom Dia Meio Norte entrevistou o delegado geral da Polícia Civil do Piauí, Luccy Keiko, que explicou com detalhes todo o caso envolvendo o assassinato dos adolescentes Anael Natal Colins Souza da Silva, de 17 anos e Luian Ribeiro de Oliveira, de 16 anos.
Luccy Keiko explicou que desde o início a equipe de investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa está trabalhando intensamente no caso, que ele classifica como um crime bárbaro. “Eu conheço a família de uma das vítimas, do Luian. Nós tomamos conhecimento desse crime bárbaro ainda quando os meninos estavam desaparecidos, tomamos providências e os corpos demoraram alguns dias para serem encontrados. Esses corpos foram ocultados em um matagal perto de uma rodovia estadual. A partir dai o DHPP passou a fazer investigação tentando descobrir a autoria desse crime que foi bastante difícil, imagine dois adolescentes desaparecerem daquela forma, dois adolescentes que não tinham nenhum antecedente criminal, nada pesava contra eles. Saíram várias especulações na época, mas nenhuma delas prosperou”, relatou.
Veículo usado no crime foi identificado
O veículo usado no dia do crime foi identificado, o que ajudou a dar continuidade nas investigações. “O delegado com sua equipe conseguiu através das investigações identificar o veículo que possivelmente foi usado no crime, ele representou pela prisão e buscas na casa do empresário João Paulo de Carvalho Gonçalves Rodrigues, de 35 anos, dono do restaurante Frango Potiguar e esse pedido foi negado primeiramente. Inclusive nós conversamos com o delegado Baretta o tempo todo orientamos que fosse feito novamente o pedido, uma vez que tinha uma suspeita em relação a esse veículo e o juiz se convenceu da necessidade de decretar sua prisão temporária para se esclarecer a participação ou não daquele veículo”, disse.
Prisão de empresário
Na manhã de terça-feira (25), a polícia deu cumprimento ao mandado de prisão temporária na residência do empresário e o conduziu para a sede do DHPP. Luccy Keiko informou que João Paulo inicialmente negou qualquer participação no crime.
“Ele inicialmente durante as entrevistas com o delegado negou qualquer envolvimento no caso, depois que o delegado explicou que a prisão dele era temporária que tinha um objetivo de esclarecer os fatos ele passou a contar o que de fato teria acontecido. Ele diz que recebeu o telefonema do tio dele que mora vizinho a casa de shows que os jovens estavam, quando chegou lá teria encontrado esses menores já imobilizados, o tio dele pediu o carro que já estava estacionado na frente e disse que ia ‘resolver o assunto’, o João Paulo viu os menores e entregou o carro. Ele saiu com esses menores amarrados dentro do veículo e teria os executado”, declarou.
Tio de empresário confessa o crime
O delegado informou que ainda na terça-feira, o tio de João Paulo compareceu voluntariamente no Departamento de Homicídios e confessou toda a sua participação no crime. “O tio dele compareceu juntamente com o filho dele e lá foram ouvidos individualmente e confirmaram toda a história do João Paulo. Foi ouvido o João Paulo, ouvido o tio dele, o filho do tio, tudo por gravação de áudio e vídeo. Na narrativa do empresário, ele acha que por supostamente não ter ido ao local da execução, não teria cometido crime, que apenas o tio dele teria cometido, mas não é assim. Ele alega que teriam tentado chamar a polícia, mas não conseguiu, só que nada justifica a barbaridade desse crime, inclusive como ele próprio falou, eles estavam imobilizados , foi algo muito frio, revoltante, eu me coloco no lugar dos familiares dos adolescentes, muito difícil superar e digerir isso. Quando eu digo que o crime está praticamente esclarecido é porque todos os envolvidos que tiveram contato com as vítimas na residência já estão identificados”, informou.
Soltura de João Paulo Rodrigues
Sobre a soltura de João Paulo Rodrigues ainda na tarde de ontem, Luccy Keiko esclareceu: “ Nesse caso específico o delegado que presidiu a investigação teve uma certa dificuldade para conseguir a prisão. Segundo ele me informou, na decisão da prisão temporária apesar de constar 30 dias lá teria observação que tão logo se cumprisse o objetivo daquela diligência que seria esclarecer os fatos, o indivíduo fosse posto em liberdade pela própria autoridade policial”, disse.
“O que eu quero deixar claro é que hoje nós temos a qualificação, a identificação de todos os envolvidos no crime que tiveram contato com os menores, então o objetivo do DHPP é identificar a conduta de todos eles. Eu entendo que o tio que confessou a execução bárbara e esse indivíduo que emprestou o carro devem ser indiciados, mas ainda há o filho que estava na casa no momento que participou da imobilização e ainda temos a informação de que possivelmente um cunhado também estava na residência no momento que ocorreu a captura dos adolescentes. Temos que ter um certo tempo para chegar a real participação de todos eles, até ontem nós só tínhamos o carro”, declarou.
Sobre uma possível soltura do empresário por ter amigos dentro da Secretaria de Segurança Pública, Luccy Keiko foi enfático. “Nós temos a amarra legal, hoje o crime de abuso de autoridade é um crime muito grave, ninguém pode estar sujeito a isso. A polícia tem que fazer uma investigação bem técnica porque foi um crime muito grave, esse é o momento de ser apurado todas as circunstâncias para que o Ministério Público inicie uma ação penal robusta e esse crime não fique impune. Para a gente não importa se é empresário, se não é empresário, é muito difícil alguém ter coragem para querer meter a mão em um assassinato desse, é um crime muito grave. Em relação a esse empresário eu não o conheço, pode ser de classe a, b ou c, tanto é que foi pedido a prisão dele, o fato de não estarem presos no momento não quer dizer que não serão presos a qualquer momento, a autoria do crime avançou muito. Vamos individualizar a conduta de cada um, a gente tem que saber se tem respaldo essa questão da narrativa do tio dele de que levou esses menores sozinhos, nós temos um DHPP respeitadíssimo com uma equipe de policiais excelentes, temos que saber quem saiu daquela casa e foi até o local que eles foram executados”, afirmou.
“Eu vou acompanhar esse caso até o fim, podem ficar tranquilos que a investigação já está sendo conduzida e ela vai terminar com investigação de excelência para que não se reste nenhuma dúvida do que aconteceu e para quem tiver envolvido no crime seja responsabilizado. Ontem a noite eu debati esse caso com alguns colegas e logicamente a gente tem que guardar alguma informações, mas nós sabemos os próximos passos e vamos dar essa resposta que a família e a sociedade merecem”, finalizou.