Antônio Marcos levou muita gente à loucura com sua bela voz e porte de galã. Cantor e compositor de clássicos populares dos anos 70, fez Roberto Carlos vender milhares de discos com a música “Como Vai Você”. Ex-marido da cantora Vanusa e da atriz Débora Duarte, deixou muitas mulheres caindo em seus pés. Mas sofreu por anos com o alcoolismo.
O cantor nasceu no dia 8 de novembro de 1945, em São Miguel Paulista, distrito da zona leste de São Paulo. É o segundo dos oito filhos do alfaiate e vendedor de livros Vicente e de dona Eunice hoje com 91 anos, costureira, poetisa e compositora. Como era magrinho, Antônio Marcos costumava contar que chegou a tomar injeção de sangue de cavalo na infância, seguindo as instruções de uma benzedeira.
Começou a trabalhar muito jovem, para ajudar as pais. Ele foi office-boy do banco Ítalo-Brasileiro e balconista de uma loja de sapatos. E, desde pequeno, cantava nas formaturas da escola. Sabia decorada as canções de Bob Nelson, cantor country pioneiro no Brasil. Matava aulas para ir ao cinema e tocar violão na casa dos amigos. Por isso, só conseguiu concluir o segundo grau com muito trabalho.
Desde sempre chamava a atenção por seu belo porte e carisma: fazia pontas em programas da TV Tupi. Sua voz garantiu-lhe uma vaga no coral Golden Gate, dirigido por Georges Henry e uma participação no programa de rádio de Albertino Nobre, onde foi nomeado “A Voz de Ouro de São Miguel”. Em 1962, esteve na Ginkana- Kibon, apresentada por Vivente Leporace e Clarice Amaral, na TV Record. Lá, cantou “Only You”, sucesso de Elvis Presley, de quem ele colecionava os discos. Dois anos depois, é destaque ao cantar, tocar violão e imitar cantores no programa de Estevam Sangirardi, na rádio Bandeirantes.
Antônio Marcos também gostava de teatro, tornou-se ator principal das peças Pé Coxinho e Samba Contra 00 Dolar. Em 1965, junta-se a mais três rapazes e montam o quarteto Os Iguais. Mas Antônio Marcos nasceu para brilhar sozinho e, dois anos depois, lança seu primeiro compacto com duas músicas: “A Estória de Quem Amou Uma Flor” e “Perdi Você”. Os tempos de vacas magras vão ficando para trás. Na estante de casa, já acumula prêmios e compra seu primeiro carro, um Corcel Luxo.
Em 1969, com 21 anos, se apresenta no IV Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, quando ganha o prêmio de melhor intérprete. Após o festival alguns cantores foram comemorar na casa de Antônio Marcos. Edith, na época assessora de Roberto Carlos, deu um jeito de Vanusa pegar uma carona com o cantor. Na festa todos se divertindo até que Vanusa descola um maiô emprestado, dá um mergulho: “Saí tremendo de frio e fui para um dos quartos. Tirei o maiô, fiquei nua e entrei embaixo da coberta. De repente, sinto alguém entrando. Sabia que era ele. Fizemos amor na cama da empregada”, confessa.
Depois da noite de amor Vanusa e Antônio Marcos não se largaram mais. Os dois passaram a morar juntos, mas não se casaram, como exigia os padrões da época. Naquele tempo os artistas não podiam se casar para não alimentar os sonhos dos fãs. Então, Vanusa ficou grávida e passou a ser xingada nas ruas pelas fãs de Antônio Marcos. Em uma apresentação do cantor em Quem Tem Medo da Verdade, o casal foi tão massacrado que Vanusa passou mal e acabou perdendo o bebê aos cinco meses de gravidez. Com o sofrimento da cantora, as fãs se sensibilizaram e a imprensa passou a chamá-los de “Casal 20”.
No mesmo ano, Antônio Marcos emplacou nas rádios a música “Menina de Tranças”. Em uma bela tarde, um silêncio constrangedor tomou conta dos estúdios onde gravavam a novela. Vanusa passou por lá para fazer uma surpresa para o então marido e flagrou-o, na cama do cenário, dando um beijo em Débora. Ele justificou que era o ensaio de uma cena, mas a desculpa não colou. Inconformado, Antônio Marcos ligava para ela de hora em hora, mandou flores, presenteou-a com um anel de brilhante. Até que a cantora o aceitou de volta.
Sucesso na TV, Antônio Marcos estreia no cinema com o longa-metragem Pais Quadrados, Filhos Avançados, dirigido por J. B. Tanko. Mas a bebida atrapalhava seu trabalho: “Ele bebia muito seu café da manhã era uísque”, confirma Vanusa. O cantor chegou a bater o carro várias vezes por dirigir alcoolizado. Em uma dessas vezes teve perda total de uma Ferrari. Apesar do pileque constante, ele era muito vaidoso. Tinha um closet cheio, com diversos tipos de botas e ternos de muitos tons e com brilho. Em uma loja, se gostasse do modelo de uma camisa, levava de todas as cores.
Em 1972, ele oficializou seu casamento com Vanusa, depois do nascimento da primeira filha do casal. Antônio Marcos ganhava malas de dinheiro com seus shows. Mas também gastava muito. Chegou a dar seu carro para um taxista bêbado.
Em abril de 1973, ele se separa de Vanusa e assume um novo relacionamento com a atriz Débora Duarte. O mais novo casal apresentaram juntos o programa Rosa e Azul, na TV Bandeirantes, que tinha, em 1979, atrações musicais como Miss Lane, Djavan, Lady Zu e Sidney Magal. Na mesma emissora, estrelaram a novela Cara a Cara, de Vicente Sesso, que também tinha no elenco Fernanda Montenegro, David Cardoso e Luiz Gustavo.
Aos 39 anos, Antônio Marcos conheceu sua terceira mulher, no aeroporto de Natal. A modelo Rose, quase 20 anos mais nova que ele, teve um menino, Antônio Pablo, que levou este nome em homenagem ao poeta Pablo Neruda, um dos favoritos do cantor. Pai novamente, o cantor se viu em um mau momento. Sua carreira já não era a mesma, ele não era mais convidado para fazer novelas e não estourava hits nas rádios. Até que uma nova parceria, com o compositor e produtor Antônio Luiz, deu-lhe novo ânimo.
No início dos anos 90, o cantor deixou Rose para se unir a Ana Paula Braga, enteada de Roberto Carlos. Em 1991, depois de uma série de internações por problemas no fígado, ele ainda fez uma temporada de shows na extinta casa noturna paulistana Inverno e Verão. Até que, na manhã do dia 5 de abril de 1992, foi a uma padaria em Alphaville, pediu uma dose de uísque e, ao sair, bateu sua caminhonete em um poste, machucando o tórax violentamente contra o guidão. Ana Paula o internou no hospital Oswaldo Cruz, e, por volta das 21h, Antônio Marcos faleceu. O cantor foi enterrado no cemitério Parque dos Girassóis com a presença de dezenas de fãs, que acenavam com lenços brancos.
Após a morte do cantor, um exame de DNA comprovou a paternidade de mais um menino, Manoel Marcos, que passou a ser o primogênito da prole. Assim, após a trajetória de um típico romântico, ele deixou cinco filhos, quatro ex-mulheres, 14 discos e centenas de músicas. Em São Miguel Paulista foi fundada a Casa de Cultura Antônio Marcos São Miguel e, em 2006, sua filha lançou o CD e DVD Aretha Marcos Ao Vivo – Homenagem aos 60 anos de Antônio Marcos. “Meu pai me ensinou que o importante na vida é ser feliz e falar sempre a verdade, mesmo que isso doa”, encerra Amanda, sua filha mais velha. Antônio Marcos também costumava dizer: “Nunca vou morrer. Vou ficar encantado.” Encantadas ficaram as milhares de fãs desse romântico incorrigível.