Não é possível dizer que, algum dia, Zé Ramalho também tenha sido o “velho e indivisível” da mítica canção “Avôhai”, que abre seu primeiro LP, de 1978, feita para seu avô Raimundo. Na verdade, desde o dia em que tirou sua carteira da Ordem dos Músicos, no longínquo 1968, o compositor paraibano de Brejo do Cruz vem se multiplicando em vários. Ainda adolescente, já em João Pessoa, integrou formações como Os Demônios e Os Quatro Loucos e, na virada da década, tocou na banda Eles, de vertente tropicalista, e no conjunto The Gentlemen – tido, à época, como o mais profissional da Paraíba.
Em meados dos anos 70, tornou-se parceiro dos pernambucanos Alceu Valença e de Lula Côrtes [morto em março do ano passado, vítima de um câncer na garganta], com o qual dividiu a autoria do álbum duplo Paêbirú – Caminho da Montanha do Sol. Lançado pela gravadora recifense Rozemblit, o disco – cuja tiragem desapareceu na grande enchente que submergiu Recife em 1975 –, hoje objeto de culto, está na conta de um dos mais raros e caros da música brasileira. Após longa e prolífica carreira solo (com muitos altos e alguns baixos, algumas quedas e ressurreições) nos anos 80 e 90, na virada do milênio Ramalho encarnou – sem nunca perder autoria de vista, porém – na pele de artistas como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Bob Dylan, com a série Canta. Para a alegria de seu imenso séquito de fãs, em Sinais dos Tempos, seu novo de inéditas depois de cinco anos, ele finalmente voltou a ser Zé Ramalho.
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