Mandetta diz que Bolsonaro fez opção política durante a pandemia

O ex-ministro também deixou escapar que o Governo Federal está em débito com a sua remuneração

Por Francy Teixeira

O ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta concedeu entrevista exclusiva na noite desta quinta-feira, 30 de julho, ao MN 40 Graus. Na ocasião, os jornalistas Luiz Fortes e Ranielli Veloso questionaram o médico sobre diversas questões, englobando o início das ações de controle da pandemia da Covid-19.

Em quarentena remunerada de seis meses até que possa voltar a atuar na iniciativa privada, decisão imposta pela Comissão de Ética da Presidência, o ex-ministro também deixou escapar que o Governo Federal está em débito com a sua remuneração.

“Minha quarentena me foi imposta de 16 de abril a 16 de outubro, aproveita e passa no Ministério da Saúde e pede para me pagar o salário. Ou me deixa trabalhar”, disse.

Sobre a pandemia, Mandetta frisou que Bolsonaro queria uma atuação política, enquanto ele manteve uma postura técnica, em defesa da vida.

“Todo mundo sofreu muito e era nosso dever levar toda informação possível para que as pessoas enfrentassem suas linhas de defesa, e sabíamos que teríamos uma pandemia com diversas fases, diversos efeitos, alguns Estados ficaram para mais tarde como o caso do Piauí, o que pode dizer é se não puder cure, cure; se não puder controlar, controle; algumas medidas são duras, mas a vida é o maior patrimônio do país. Teríamos que  ter liderança, unidade nacional contra um inimigo. O Ministério estaria mais presente no dia a dia das pessoas, acho que falta uma coordenação nacional para enfrentar essa doença, mas é muito ruim você ter a angústia de querer fazer um trabalho e não poder fazer”, afirmou.

Mandetta diz que Bolsonaro fez opção política durante a pandemia

Relação com o presidente

“Com o presidente sempre tive uma relação amistosa, ele me convidou por ser um técnico, e ele queria um Ministério técnico e assim montei a equipe, quando tecnicamente esse trabalho técnico chegou, ele queria um trabalho político, realmente as posições ficaram a minha muito técnica e a dele muito política. Daí ele resolveu trocar o Ministério, trocaram completamente os técnicos de segundo escalão e ficamos sem nenhuma interlocução”, disse.

O ex-ministro sinalizou que o Brasil vai viver mais tempo com a pandemia por conta do descontrole, para ele faltou comando, gestão, por parte de Jair Bolsonaro para lidar com a crise sanitária.

“Tem pessoas com medo da segunda onda, o Brasil ainda está na primeira, estamos num platô, sabemos que quando essa doença chega a 20%/25% sabemos que ela cai, como é o caso de Manaus, que  teve uma mortalidade enorme. Ter a chance de lutar pela vida é um direito do cidadão, e medir ao perceber  que o número de casos tá ameaçando a oferta de leitos tem que voltar para trás, as pessoas têm que saber que tem responsabilidade, a nossa em descontrole vamos viver em mais tempo com essa pandemia.”, indicou.

‘Ciúmes’ de Bolsonaro

Questionado se o presidente da República Jair Bolsonaro teria ficado enciumado com a notoriedade que Mandetta vinha ganhando na luta contra a pandemia, o ex-ministro afirmou que fazia os boletins para acalmar a população e que a repercussão iria se dissipar com o tempo, ou seja, não teria motivo para o líder do  Planalto  ter qualquer receio.

“Ciúme de homem é um troço difícil, ciúme de mulher a gente tá mais atento a atender, eu era uma pessoa escolhida dele, eu esperava que o presidente se somasse, mas ele tomou um lado de falar assim ‘vamos largar mão da saúde e focar na economia’, e o sistema precisava de um tempo. O Brasil inteiro trabalhava com um número baixo de leitos de UTI, A gente precisava que o líder da nação falasse vamos por esse caminho, o país estava assustado e minha opção de fazer os boletins era acalmar as pessoas e mostrar que íamos sair juntos por meio da ciência”, sintetizou.

O ex-ministro ainda complementou.  “Se isso causou mal estar, bobagem, isso seria passageiro, porque a exposição que eu tive ia se perder com um tempo, mas infelizmente o presidente entendeu que a saúde não teria nenhuma participação”.

Mandetta ainda indicou para um erro de estratégia. “Se a gente fosse devagar construindo, acho que teríamos uma solução melhor”, frisou.

Eleições de 2022

Mandetta disse que irá apoiar um candidato que fuja da polarização PT/Bolsonaro. Porém, não confirmou se concorrerá à presidência da República, ou algum outro cargo efetivo.

“Eu entrei na política sem ter sido vereador, prefeito, eu fazia saúde  sempre achei que deveríamos discutir no Congresso Nacional, último mandato achei super chato o Congresso, foi um ano de Fora Dilma, Fora Temer e eu disse fora eu também. Eu vou estar como cidadão em praça pública achando que eu acredito nas ideias que fuja da polarização, quero um caminho que uma o povo brasileiro, acho o Moro um baita  nome, foi tirado porque era um nome que era técnico demais também, assim como tem outros que podem aparecer. Eu tô muito interessado no que eu posso fazer, me impuseram uma quarentena até outubro, o que eu nunca vi acontecer com o ministro”, disse.

Luiz Henrique Mandetta ainda complementou. “Se ele for candidato à presidente, ele que tem que convidar o vice. Eu não gosto muito de especular essas coisas, o Brasil merece um debate  muito grande que se iniciará em 2021; as análises todas de saúde, educação, meio ambiente. Eu não sei se o Brasil tá pior lá fora em meio ambiente, ou em saúde e as coisas vão acontecendo naturalmente, pois política é destino. Não vejo espaço ainda, ainda mais agora em meio a uma pandemia, daqui a uma semana todos sabemos que vamos estar com 100 mil óbitos”, afirmou.

Sobre as críticas nas redes sociais, Mandetta comentou que não costumar as usar com frequência. “Eu não sou muito de rede social e ele foi  formado quando eu estava no Ministério, e ali tem os bolsominions todos, eles mudam completamente, acho que retrata muito a sociedade tomada pelo ódio. No Ministério me tornei muito religioso, sempre rezo para acalmar o coração deles”, disse.

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