Com a pior seca dos últimos 44 anos e milhares de focos de queimadas pelo país, o custo de colocar comida na mesa já aumentou e deve subir ainda mais nos próximos meses. Itens como açúcar, suco de laranja, carnes, leite e derivados, entre outros, já sentem o impacto.
AÇÚCAR SOBE NA BOLSA
As queimadas que afetam várias regiões do país estão fazendo os preços de produtos, como o açúcar cristal e refinado, dispararem na Bolsa de Valores. A economista Luciana Rosa de Souza, da Unifesp, explica que o preço do açúcar bruto subiu em média 2,36% na última semana, com 25% da produção voltada ao mercado interno e 75% para exportação, afetando todos os consumidores.
No estado de São Paulo, cerca de 80 mil hectares de áreas de cana-de-açúcar e de rebrota foram queimados, resultando em um prejuízo estimado de R$ 800 milhões, conforme a última atualização da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana).
O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e lidera as exportações globais no setor sucroalcooleiro. Apenas neste ano, as exportações de açúcar bruto alcançaram mais de US$ 8,69 bilhões.
FEIJÃO FICA MAIS CARO
Outro alimento com preços em alta é o feijão, com uma previsão de aumento de até 40% no atacado até o final do ano, segundo Luciana. Esse aumento será repassado para o varejo, impactando o consumidor final.
No entanto, a economista acredita que não haverá falta de produtos nas gôndolas dos supermercados. Ela explica que as perdas dos agricultores elevam os preços devido às margens de lucro reduzidas e aos riscos envolvidos. Se os produtores não obtêm ganhos, há menos incentivo para continuar plantando.
ALIMENTO NAS FRUTAS E HORTALIÇAS
O preço da laranja também deve subir, com a Conab apontando que o Brasil, sendo o maior produtor mundial de laranja e suco, enfrenta baixos estoques. A baixa safra prevista e a demanda forte da indústria resultarão em oferta reduzida, mantendo os preços elevados por mais tempo. Além disso, a produção de melancia em São Paulo e Goiás pode ser afetada. Embora a fruta suporte bem o calor, extremos climáticos podem comprometer sua qualidade e tamanho.
O preço da banana aumentou devido à baixa produção, uma situação comum na entressafra, mas que foi exacerbada pela irregularidade das chuvas. O estresse hídrico prejudicou os bananais e o desenvolvimento dos cachos, intensificando a alta nos preços.
Normalmente, os preços das hortaliças caem durante a seca, mas a Conab alerta que a falta prolongada de chuvas pode prejudicar lavouras sem irrigação. Cenoura e tomate são especialmente vulneráveis e já enfrentam ciclos frequentes de alta e baixa nos preços.
MENOS PASTO ENCARECE A CARNE, LEITE E OUTROS DERIVADOS
O preço da arroba do boi gordo no atacado deve aumentar em 2,47%, embora ainda não haja previsão para o varejo, segundo a economista da Unifesp. Com o pasto seco, os pecuaristas precisam usar mais ração para alimentar o gado. De acordo com pesquisadores da Esalq/USP, a oferta de animais criados a pasto está diminuindo, levando a uma transição para o confinamento, que é mais caro.
Andre Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV IBRE, confirma que o aumento nos preços do boi gordo afetará o valor do leite e seus derivados, como manteiga, requeijão e iogurte. Ele também prevê um aumento na demanda por carnes suínas e de frango, mas acredita que isso não será um fator de pressão significativa para a inflação, que deve se manter dentro do teto de 4,5%, com o ideal sendo 3%.
RECUPERAR SOLO LEVA TEMPO E CUSTA CARO
A produção agrícola não é a única afetada; grandes queimadas também causam a morte de animais, perda de culturas e danos a infraestruturas rurais e urbanas. Além dos impactos econômicos, sociais e ambientais, as queimadas alteram as propriedades dos solos, resultando na perda de carbono, nitrogênio, potássio e enxofre para a atmosfera. A longo prazo, essas mudanças afetam a biodiversidade e a manutenção dos ecossistemas.
Pesquisas mostram que o fogo compromete a qualidade do solo e reduz a produtividade com o tempo. A queima da vegetação expõe o solo, aumentando a absorção da radiação solar e a temperatura durante o dia, enquanto a perda de calor à noite amplia as variações térmicas diárias. Essas oscilações prejudicam a absorção de nutrientes e a biologia do solo.