Investimento em capim tem retorno garantido

Investimento em capim tem retorno garantido

Por Liana Paiva

Há muito, mais precisamente há 520 anos, Pero Vaz de Caminha, mensageiro português escreveu a famosa frase: “Nesta terra, em se plantando, tudo dá!”. O relato foi feito em carta enviada ao rei Dom Manuel, de Portugal, após sua chegada ao Brasil. Ele estava certo, porém, deixou-se levar apenas pela exuberância da vegetação, da costa do descobrimento, que não representava nem um por cento do país como um todo.

Hoje, a frase é ainda celebrada pelo fato de que o país se tornou um dos maiores celeiros do mundo. Aqui, realmente, em se plantando tudo nasce, pois não à toa que esse ano o país deve colher uma safra de 251,4 milhões de toneladas de grãos, quase 4% maior que a registrada em 2019. Um recorde que é responsável não somente pela alimentação humana mas, também, do setor da pecuária. 

Parte dessa plantação serve para alimentação de rebanhos de caprinos, ovinos e bovinos, tanto de corte como de leite. E nada melhor que um solo favorável, clima adequado e adaptações tecnológicas para deixar o produto mais forte e rentável para o setor agropecuário com adaptações tecnológicas e mutações. 

E um exemplo claro disso é o novo capim-elefante adaptado pela Embrapa. Trata-se do BRS Capiaçu, criado em outubro de 2016 pela Embrapa Gado de Leite, que fica em Juiz de Fora, em Minas Gerais. E o novo capim já tem colhido frutos importantes no país, principalmente na pecuária de leite. 

Apesar de ter nascido na região Sudeste, o produto já vem se espalhando por todo o Brasil e quem investe nessa espécie só tem elogios à qualidade da forrageira, conhecida pela versatilidade no uso e pela alta produção de matéria seca, que chega a produzir 50 toneladas de matéria seca por hectare/ano.

Quem garante tudo isso é o engenheiro agrônomo Paulino José Melo Andrade, pesquisa dor titular da área de transferência de tecnologia e desenvolvimento de novos materiais para o mercado da Embrapa. Segundo ele, a BRS Capiaçu é o maior lançamento da história do programa de melhoramento de capim-elefante. “A grande inovação do produto é o fato da gramínea poder ser utilizada para silagem a um baixo custo”, destacou.

Paulino ressalta que o material se adapta aos diferentes tipos de solo e tolera as variações climáticas, diminuindo os riscos na alimentação do rebanho. “O novo capim é bastante eficiente no uso da água e é tolerante a veranicos, sendo bastante favorável a sua adoção em diferentes regiões do país”, frisa, acrescentando que o produto rende 30% mais que os outros tipos de capim existente no mercado. 

Produtores: este tipo de plantio deve priorizar solos férteis

Investimento em valor nutritivo e baixo custo

O capim Capiaçu não é utilizado para pastagens, mas para a confecção de ração usada para o gado. O uso deste tipo de capim constitui uma alternativa de baixo custo para suplementação volumosa do gado, possuindo um elevado potencial de produção e bom valor nutritivo. Se destaca pela alta produção de biomassa e menor custo na produção quando comparada às outras culturas utilizadas para silagem, que é um método de armazenagem da forragem, sem grandes perdas nutricionais.

Para o estabelecimento do plantio devem ser escolhidas, preferencialmente, áreas com solos férteis e com possibilidade de mecanização e irrigação, em uma área que facilite o transporte da forragem colhida, o enchimento dos silos e a realização da adubação orgânica. 

No Piauí, o produto chegou há quase dois anos. O empresário Albérico Lins é um dos pioneiros da venda das sementes do novo capim no Estado. Ele vende o produto para fazendeiros plantarem e multiplicarem. “Eu vendo o talo e a estaca, e comecei a vender no ano passado. A procura está em alta por ter se adaptado bem ao Piauí, já que temos luminosidade praticamente o ano inteiro. E as vendas cresceram cerca de 70% do ano passado para cá e com isso já temos até multiplicadores. O capim serve para alimentar cavalos, equinos, ovinos e bovinos. Atualmente, um feixe com vinte quilos de colmo, custa em torno de cem reais, ou seja, sai por cinco reais o quilo”, comemora. 

E a valorização do novo capim deve-se ao fato dele se adaptar bem, também, ao período de seca, ficando um tempo bem maior que os demais com déficit de água. Uma outra caraterística interessante é que ele é melhor para fazer silagem, por possuir mais carboidratos. A produção de cerca de 50 toneladas de matéria seca por hectare/ano faz jus ao nome: “Capiaçu”, que em tupi-guarani significa “capim grande”, podendo chegar a cinco metros de altura.

“Temos trabalhando bem para implantar esse sistema que veio para ficar”, afirmou André Nogueira, gerente de duas fazendas no Piauí e presidente da Associação Piauiense de Criadores de Gado Zebu (APCZ). “Na fazenda Cajazeiras e JM, cerca de oito hectares dessa variedade de capim já vem sendo plantada e temos tido uma tranquilidade muito grande na preparação de animas, trazendo resultados fantásticos com o novo capim”, detalhou. 

A afirmação de André Nogueira pode ser claramente identificada nos números nacionais, pois em menos de quatro anos de seu lançamento, o capim BRS Capiaçu já é cultivada em todas as regiões brasileiras e está na mira de países vizinhos da América Latina. A variedade desenvolvida pela Embrapa é versátil, pode ser usada no cocho ou na forma de silagem, e seu rendimento é 30% superior ao de outras cultivares disponíveis no mercado, gerando cerca de 50 toneladas de matéria seca por hectare ao ano.

No entanto, para garantir a excelente produtividade e valor nutricional do BRS Capiaçu, é importante que a pastagem seja tratada de fato como uma cultura. Este produto tem porte alto (até 4,20 metros de altura), se destacando pela produtividade e valor nutritivo da forragem quando comparada com outras cultivares de capim-elefante, mas isso exige alguns cuidados. “É impossível se conseguir uma massa dessas - com alto valor nutritivo - sem dar nada em troca. Então, o que recomendamos é um cultivo bem feito, análise de solo, fazer a correção, entrar com Fósforo no plantio e depois fazer as coberturas, com Nitrogênio e Potássio. Essa adubação pode ser também uma adubação orgânica, pois o produtor já tem o esterco na propriedade e pode usá-lo para baratear os custos, sendo usado parcial ou integralmente dependendo do tipo de esterco. O importante é ele repor estes nutrientes no solo”, finaliza o pesquisador Paulino Andrade. (L.P.).

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