Na década de 1980, o psiquiatra britânico Simon Wesley, professor do King’s College London e um dos principais especialistas no tema, definiu dois tipos de doença psicogênica de massa: aguda e crônica. A primeira, escreveu no artigo “Histeria em massa: duas síndromes?”, publicado no periódico “Psychological Medicine”, é de curta duração, envolve ansiedade súbita e extrema após a percepção de uma falsa ameaça e normalmente desaparece dentro de 24 horas. O que ocorreu nas escolas do Recife se enquadraria nessa descrição.
Já o segundo tipo de surto coletivo, segundo Wesley, “é caracterizado pelo lento acúmulo de estresse reprimido, está confinado a um ambiente social intolerável e é caracterizado por dissociação, histrionismo (comportamento emocional que não parece sincero) e alterações na atividade psicomotora (tremores, espasmos e câimbras, por exemplo), geralmente persistindo por semanas ou meses”.
A história está repleta de casos com características típicas da segunda forma de surto coletivo. Talvez a situação mais assustadora seja a epidemia de dança em Estrasburgo, na França, em 1518. Naquele ano, uma mulher solitária saiu de casa e começou a dançar por vários dias. Dentro de semanas, centenas de pessoas se juntaram a ela e literalmente dançaram até morrer. Jornais e cronistas da época escreveram que 15 óbitos foram registrados todo o dia. O surto durou três meses.
Os pesquisadores por muitos anos tentaram entender o que causou o surto coletivo. A teoria mais aceita é que a dança mortal foi uma resposta da população às angústias daquela época, marcada por conflitos religiosos e sociais, problemas econômicos, fome e miséria. “Surtos coletivos são fenômenos que ficam no limite entre a psicopatologia, a sociologia e a política”, falou o dr. Pereira, da Unicamp.