O anúncio que acaba de chegar de que Israel e os palestinos chegaram a um acordo para um cessar-fogo de quatro dias, que possibilitará a libertação de reféns em poder do Hamas, em troca da libertação de 150 palestinos presos pelos israelenses, não é meramente uma trégua negociada entre os agentes desse conflito armado tão deplorável.
Faz-nos compreender, muito significativamente, que o primeiro-ministro Benjamim Netanyahu está perdendo força no seu afã de manter a guerra em tom elevado, que leva à morte milhares de palestinos na Faixa de Gaza, com ataques cruéis, indiscriminados, vitimando sobretudo mulheres e crianças e que têm merecido estrondosa reprovação mundo afora.
Netanyahu é hoje o líder mais longevo da história política de Israel, ocupando o cargo de primeiro-ministro por seis vezes, governando a nação com atitudes literalmente submissas aos princípios da extrema direita. Desde que foi reeleito, em novembro de 2022, para esse seu atual e sexto mandato e seu partido, o Likud, firmou uma aliança com o partido extremista de direita Sionismo Religioso, Netanyahu levou Israel a se tornar o governo mais direitista da história.
Se ele já tinha ponderáveis reservas de parte de setores mais liberais e abertos da sociedade, que imprimem claramente uma guerra interna identitária e cultural em Israel, a maneira truculenta como ele reagiu e seguiu agindo contra os palestinos após os ataques do Hamas de 7 de outubro, elevou a desconfiança e fez presente a censura aos procedimentos radicais por ele adotados. Nem as manifestações, de início, do presidente norte-americano Joe Biden, de escancarado apoio à luta contra o Hamas, teve peso para fazer parar o desgaste que Netanyahu passou a sofrer. Hoje, fala-se abertamente que o primeiro-ministro está cada vez mais isolado.
Daí, muito embora Benjamim Netanyahu venha declarando, logo após esse anúncio de agora, de cessar-fogo de 4 dias, que a guerra contra os palestinos continuará, é muito improvável que isso vá adiante no formato que o primeiro-ministro israelense concebeu e pretende levar adiante. Nem mesmo os Estados Unidos, que se revelaram um forte aliado de começo, mantém o mesmo vigor de aprovação às atitudes criminosas de Netanyahu.
O primeiro sinal desse arrefecimento no ânimo norte-americano veio logo depois das declarações de Joe Biden, de que o domínio da Faixa de Gaza voltaria ao poder da Autoridade Palestina tão logo a guerra acabasse, e teve como resposta a afirmação direta de Netanyahu de que será Israel que ficará dominando essa área de conflito.
O comportamento de Benjamim Netanyahu nessa guerra infame está começando a trazer consequências políticas inquietantes para ele. Uma pesquisa recente do Maariv, jornal de circulação nacional israelense, mostrou que 80% da população do país acreditam que o primeiro-ministro deve ser responsabilizado pelas “falhas de segurança expostas durante o ataque do Hamas de 7 de outubro”, que fizeram o país compreender que a tão decantada inteligência e impecável arcabouço tecnológico de Israel nessa questão importantíssima para eles, não passavam de falácia para encantar o mundo e conquistar negócios.
Outra revelação que a pesquisa contém é de que, se as eleições fossem realizadas hoje, uma aliança centrista de partidos de oposição liderada por Benny Gantz conseguiria a maioria. E o que vem sendo observado, além das manifestas reações que o mundo tem revelado contra as práticas de Israel e em favor do restabelecimento da paz, é que o suposto governo de unidade, construído por Netanyahu com adversários políticos, a exemplo de Benny Gantz, tão logo os conflitos foram deflagrados, está ruindo, virando pó, fazendo o primeiro-ministro cada vez mais isolado, sem força para manter essa guerra inaceitável.
O cessar-fogo de agora, pode, finalmente, pode ser o sinal tão esperado de que essa guerra está próxima do fim.