A ex-presidente brasileira Dilma Roussef, que atualmente comanda o New Development Bank, conhecido como Banco dos Brics, fortíssima instituição formada originalmente por Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul, fez esta semana uma visita ao presidente russo Vladimir Putin, patrocinando com seu gesto uma demonstração do que poderá ser a cúpula desses países, marcada para 22 a 24 de agosto em Joanesburgo, que será presencial, e não contará com a presença do dirigente da Rússia.
Primeiro sinal do gesto, foi colher o sentimento e os interesses do presidente Putin a serem levados à reunião dos Brics, uma vez que o dirigente russo está impedido de sair de seu país, desde que o Tribunal Internacional de Haia, em março último, efetivou esse impedimento, acusado de crimes de guerra, por conta da guerra com a Ucrânia.
Vê-se, assim, de parte de Dilma, uma iniciativa de valorizar os interesses nacionais de um parceiro importante do BRICS, mas, ao mesmo tempo, revelar uma demonstração política de apoio a um país que se encontra emparedado em sanções econômicas significativas, numa real tentativa de isolamento mundial, tendo Estados Unidos e países da Europa como principais protagonistas.
E aí avançam as sinalizações sobre as discussões e decisões dos líderes do BRICS, que hoje, além dos países originários na sua formação, foram acrescidos de Bangladesh, Egito e Emirados Árabes. Um dos temas discutidos por Dilma e Putin nesse encontro de Saint-Petersburg, foi exatamente a busca de um consenso para alternativas à dependência do dólar, com a fixação de uma provável moeda única para o bloco, um assunto que o Presidente Lula, do Brasil, disse sonhar, durante o último encontro do grupo. Uma estratégia, aliás, que ele já vem discutindo com os países do Mercosul.
É notório que todos buscam, hoje, um distanciamento dos Estados Unidos, fugindo do aprisionamento do dólar como moeda dominante nas negociações entre países de todos os continentes, uma imposição imperial que não faz sentido aos interesses de cada país. Tanto isso é verdadeiro, que mais de 40 países do mundo revelam hoje desejo de ingressar no Brics.
19 PAÍSES QUEREM ADERIR
Entre esses na lista de espera para comporem um grande bloco interessado de fato em desenvolvimento, estão Argentina, Irã, Arábia Saudita, Argélia, Indonésia, Cuba, República do Congo, Camarões, Cazaquistão, e muitos outros que já manifestaram vontade de ingressar.
Ao todo, 19 nações já apresentaram formalmente proposta de adesão.
Essa possibilidade de acolher o ingresso de dezenas de outros países, passará certamente por discussão e provável aprovação nessa cúpula do Brics que acontece agora na África do Sul.
Esta semana, numa reunião preparatória à cúpula dos Brics realizada em Joanesburgo, o assessor especial do Presidente Lula, ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, levantou temas que serão essenciais nas discussões que se processarão na África do Sul de 22 a 24 de agosto. Dentre os assuntos primordiais, a questão da guerra entre Rússia e Ucrânia, uma triste realidade que só interessa aos armamentistas, e os temas ligados à crise climática, diante de um quadro de cruel agravamento ambiental, com elevação nunca vista das temperaturas em todo o mundo, e o advento de tragédias ambientais de graves consequências.
REPARO ECONÔMICO
O presidente Lula tem batido insistentemente nessa tecla de que os países desenvolvidos têm que reparar os países pobres e em desenvolvimento dos danos que causaram ao longo do processo de industrialização e de uso dos solos. E tem reiterado com clareza de que é determinante e necessário por um fim definitivo na guerra entre Rússia e Ucrânia, por ser uma circunstância sem qualquer interesse mundial e de mortais prejuízos aos dois países envolvidos.
Reforçando a importância sobre as questões climáticas, a ONU liberou ontem um relatório dramático. Este mês de Julho deve ser o mais quente já registrado em toda a história do planeta. E isso vem numa sequência desastrosa, pois Junho já havia sido registrado como o mais quente.
Para o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, “a mudança climática está aqui. É aterrorizante. E é apenas o começo;”
E é para isso que líderes mundiais que se reunirão na cúpula do Brics deverão estar conscientes, com seriedade, responsabilidade e compromisso, começando uma reparação que grandes potências, historicamente, não foram capazes de fazer. Pelo contrário, têm as mãos sujas nessa cinza em que o planeta está se transformando.