José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Para mercado, crescimento do PIB precisa ser contido e pago com juros mais altos

Brasil ficou abaixo apenas do Peru, que apresentou alta de 2,4%, empatando com Arábia Saudita e Noruega e ficando em patamar superior a Irlanda, Holanda, Japão, Espanha, China e Estados Unidos, para falar apenas nos países mais desenvolvidos

Com o crescimento de 1,4% no segundo trimestre de 2024, consistindo num volume de 3,3% de avanço em 12 meses, o Brasil ostenta o segundo lugar no aumento de seu Produto Interno Bruto no ranking de 54 países avaliados, conforme a classificação de risco da agência Austin Rating.

Nesse ponto, o Brasil ficou abaixo apenas do Peru, que apresentou alta de 2,4%, empatando com Arábia Saudita e Noruega e ficando em patamar superior a Irlanda, Holanda, Japão, Espanha, China e Estados Unidos, para falar apenas nos países mais desenvolvidos. Nações como Dinamarca, Reino Unido, Bulgária, Canadá, não passaram de 0,6% de evolução de seu PIB no trimestre avaliado.

Se esse resultado serve de estímulo, de elevação de autoestima para os brasileiros, sobretudo para os seus setores produtivos, sentindo-se, assim, animados a prosseguir nessa pegada de retomada do desenvolvimento econômico, com o setor industrial, por exemplo, apresentando um avanço de 1,8% no trimestre e o setor de investimentos tendo uma evolução de 2,1%, na outra ponta, essa segurada pelas mãos do mercado, dá-se exatamente o contrário.

Para os líderes de empresas de capital e para setores influentes do mercado financeiro rentista, o crescimento do PIB é sinal de alerta para que os juros Selic voltem a ser elevados já nessa próxima sessão do Copom, nos dias 17 e 18 de setembro. É exatamente isso que todos os agentes desse setor estão pregando, sustentando que atividade forte, mercado de trabalho aquecido, consumo em elevação, acendem todas as luzes vermelhas, dizendo que os juros precisam aumentar para conter essa onda de otimismo.

É sob esse clima que teremos daqui a duas semanas a  próxima sessão do Copom, que já vinha apresentando sinais de mau-humor desde as três últimas reuniões, quando decidiu interromper o ciclo de quedas da Selic. Agora, sinalizam claramente que os juros deverão chegar ao menos aos 12% até o final deste ano, e já preveem abertamente que se elevem entre 0,25 a 0,50% nessa etapa de setembro.

Outro fator que o mercado enxerga como apropriado ao aumento das taxas de juros está localizado nos sinais positivos que a economia brasileira tem levado a impulsionar na Bolsa de Valores, com índices históricos de crescimento, pois juros mais altos têm o condão natural de elevar os lucros dos investidores.

A visão de mercado não considera que esse evolução do PIB muito acima do que eles esperavam e projetavam, dá-se exatamente porque o setor industrial saiu da imobilidade em que estava mergulhado há mais de cinco anos, passou a existir um processo evolutivo de renovação da capacidade produtiva, setores de comércio e serviços estão crescendo como há muito não se via, o mercado de trabalho está com seu melhor desempenho em 14 anos, as famílias voltaram ao consumo e os investimentos, quer públicos quanto privados, passaram a ser uma realidade. Nesse processo de melhoria da vida brasileira, um fator de expressiva contribuição foi a queda dos juros, vinda a partir da redução das taxas Selic, que caíram 3 pontos percentuais, de 13,5% para 10.5% em menos de um ano.

Ao contrário dessa realidade, as lideranças do mercado, sob peso dos operadores do capital especulativo, já não escondem de ninguém quais são os seus reais propósitos. Querem o Banco Central na despedida de Roberto Campos Neto, cumprindo o papel de controlar a economia sob seus interesses, daí colocarem nas suas planilhas uma elevação mais rápida, em volume maior, das atuais taxas, de maneira a que chegue dezembro, quando Campos Neto se despede, com taxa superior a 12% ao ano. E aí, sob pressão rigorosamente planejada, o próximo presidente do Banco Central tenha maiores dificuldades para fazer o BC adequar-se à realidade e à necessidade que o Brasil que produz apresenta.

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