Jogador de futebol acusa loja de shopping de racismo; “Me senti acuado”

De acordo com o relato do jogador, ele estava na loja para comprar itens que havia visto na internet.

Guilherme em centro de treinamento | Reprodução/Rede Social
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Mais um caso de racismo envolvendo jogadores de futebol foi registrado, desta vez no Rio de Janeiro e fora do gramado. Guilherme Quintino, de 20 anos, atualmente integrante do Volta Redonda, afirma ter sofrido racismo em uma famosa loja de roupas, no Barra Shopping, Barra da Tijuca. 

Guilherme descreve que estava na companhia da  namorada, Juliana Ferreira, quando foi abordado de forma racista na noite do último domingo(18). De acordo com o relato do jogador, ele estava na loja para comprar itens que havia visto na internet. Logo após experimentar as peças, um casaco e uma calça de modelo moletom decidiu levá-las. 

A namorada de Guilherme decidiu escolher algumas roupas na área feminina e o jogador decidiu colocar o conjunto em uma bolsa ecobag, que é fornecida aos clientes para depositarem as roupas escolhidas na loja. 

Ambos já possuem o hábito de consumo de roupas da loja em que o fato ocorreu. A namorada de Guilherme sugeriu que adiassem a compra das peças, pois possivelmente haveria uma promoção. Por esse motivo, o casal decidiu ir até o setor masculino para guardar a bolsa em um local apropriado e, em seguida, se dirigiram à saída.

No entanto, ao tentarem sair, o segurança impediu Guilherme de sair. A namorada, Juliana, questionou a ação, mas não recebeu resposta do funcionário. A abordagem toda durou cerca de 40 minutos. Guilherme relata que foi obrigado a acompanhar o segurança até a arara onde havia deixado a ecobag. Posteriormente, o funcionário levou a bolsa até uma mulher para verificar o conteúdo.

— A minha namorada é uma mulher branca, e ele só abordou a mim. Ele parou na minha frente e perguntou: "Cadê a sacola que estava na sua mão?" Nisso, eu respondi que deixei na parte masculina, e ele pediu para que eu o levasse até lá. É chato falar isso, mas, por ser negro, eu já até "me acostumei" com esse tipo de abordagem mais ríspida, e às vezes passa até despercebido, mas fiquei em choque por estar vivenciando aquilo — disse Guilherme Quintino.

Segundo o relato do jovem, sua namorada percebeu a situação e pediu uma explicação ao segurança, ao mesmo tempo em que começou a gravar a abordagem. Ela questionou por que estavam revistando a bolsa, considerando que estavam saindo da loja de mãos vazias.

O jogador afirma que, durante todo o tempo, eles fizeram perguntas aos funcionários, mas ninguém oferecia uma resposta satisfatória. Após o ocorrido, o casal decidiu sair da loja. No entanto, ao notar a expressão no rosto do namorado, Juliana decidiu voltar e fazer uma reclamação com a gerente.

— Eu fui completamente constrangido, me senti acuado, saí de cabeça baixa. Minha namorada percebeu que eu estava abalado e falou que não era possível aquilo passar em branco. Eu estava sem condições de falar nada, então, ela tomou as rédeas da situação. A Juliana procurou a gerente e contou o que tinha acontecido. Ela foi que nem os outros funcionários, não deu nenhuma explicação e pediu para a gente ligar para o jurídico da Zara, que só pediu desculpas — relatou Guilherme.

As imagens gravadas revelam o casal questionando os funcionários da loja, sem receber qualquer resposta/esportes. Além disso, é possível observar o segurança segurando a sacola e se dirigindo a outro funcionário. O jogador notou que o segurança parecia estar recebendo instruções durante o incidente.

— A meu ver, ele estava recebendo ordens. Depois que tudo aconteceu, ele ficou cerca de uns 30 minutos no telefone. Acho que alguém estava passando informações para ele — ressaltou

O jogador relatou que alguns caixas chegaram a debochar da situação. No entanto, quando outros clientes perceberam esses comentários, eles expressaram solidariedade ao jovem. Além disso, alguns clientes solicitaram o estorno do pagamento de suas compras e devolveram as mercadorias em apoio ao casal.

— Por esses dias eu não quero sair de casa, quero ficar mais tranquilo, mas isso que aconteceu não deve ser um empecilho para mim e nem para nenhum negro frequentar a loja que deseja. Somos pessoas trabalhadoras e honestas, acusadas cotidianamente de forma errada. Ninguém merece passar por isso, eu sei qual é a dor e estou lutando para que não aconteça com outra pessoa — afirmou.

O incidente foi formalmente registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Medidas foram tomadas para solicitar as imagens das câmeras de segurança e obter a lista dos funcionários que estavam trabalhando durante o momento da abordagem. Essas evidências são relevantes para a investigação em curso.

A LOJA SE MANIFESTOU

Através de nota, a Zara informou que está investigando o incidente ocorrido. A empresa ressaltou que a abordagem descrita "não é condizente com as práticas da empresa nem reflete seus valores e posicionamento". A Zara enfatizou que não tolera qualquer forma de discriminação.

Por sua vez, a administração do BarraShopping expressou pesar pelo ocorrido e também repudiou qualquer tipo de discriminação. O centro comercial declarou estar à disposição das autoridades para colaborar plenamente com a investigação dos fatos.

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