Enquanto o Brasil sente os impactos da invasão da Ucrânia pela Rússia, um novo conflito geopolítico pode afetar ainda mais a economia brasileira: a crise entre China e Taiwan, após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à Ilha Formosa abalar a Ásia.
Taiwan é 42º país que mais compra do Brasil: US$ 1,3 bilhão só em 2021 e US$ 804 milhões entre janeiro e julho deste ano. Já a China é o elefante na sala: o Brasil teve um saldo de US$ 40,2 bilhões de superávit com Pequim no ano passado, a principal relação comercial brasileira em todo o mundo.
Comércio Internacional
“A preocupação nem é tanto Taiwan. Mas, é claro que perder qualquer tipo de comprador para o Brasil tem um impacto no nosso comércio internacional. Ainda mais quando é um comprador de grãos, do nosso agronegócio. Cumpre um papel importante na nossa balança comercial. Mas, é importante lembrar também que qualquer conflito que envolva a China é dramático para nossa economia”, diz o especialista da Núcleo de Estudos Brasil-China da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O advogado especialista em Direito Internacional, Emerson Malheiro, concorda com o colega. “Há um impacto econômico considerável para o Brasil, porque a logística fica complicada. Embarcações militares da China estão navegando no mar de Taiwan, dificultando que navios comerciais saírem de lá para entregar produtos para outros países”, afirma.
Em 2021, o Brasil importou US$ 2,7 bilhões em produtos de Taiwan, ou seja, a balança comercial é deficitária em R$ 1,3 bilhão. Na prática, o Brasil compra o dobro que vende para a ilha. A principal demanda brasileira é por válvulas termiônicas, equipamentos usados, sobretudo, na indústria dos instrumentos musicais para construção de caixas de som.
O Brasil deve se posicionar no conflito?
Diante da tensão na Ásia provocada pelos EUA, fica o questionamento: o Brasil deveria se posicionar de algum lado publicamente, como o presidente Bolsonaro fez na guerra entre Rússia e Ucrânia, quando visitou Putin semanas antes do início do conflito no Leste Europeu. Para especialistas, o caminho mais indicado é a neutralidade.
Como o Brasil reconheceu que a China era governada pelos comunistas em 1974, o ideal é reafirmar esse compromisso agora, segundo Evandro. “Eu diria que o Brasil não deveria, neste momento, se envolver nessa. Inclusive, para os interesses brasileiros, tanto melhor que a China permaneça unificada e estável. Quanto mais a China permanecer unificada e com seus movimentos econômicos dando continuidade, melhor para os interesses brasileiros”, completa.