E-mail secreto revela encontro entre Bolsonaro e BC 2h antes do Copom

Na reunião do comitê, todo o colegiado votou para elevar a taxa Selic em um ponto percentual, estabelecendo-a em 12,75%

Roberto Campos Neto e Jair Bolsonaro | Marcos Corrêa/PR
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Um e-mail obtido traz à luz um encontro sigiloso entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ocorrido duas horas antes do início da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que resultou no aumento de um ponto percentual da taxa básica de juros da economia (Selic) em maio de 2022.

O encontro não estava registrado nas agendas públicas da Presidência nem do BC, mas foi mencionado em uma "agenda confidencial" de Bolsonaro que circulava entre um grupo restrito de assessores do Palácio do Planalto. O BC confirmou oficialmente a realização da reunião.

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Esse encontro ocorreu entre 7h30 e 8h no gabinete presidencial, no dia 4 de maio do ano passado. A informação está contida em uma correspondência eletrônica intitulada "Agenda Confidencial do PR: 04/5/2022", que traz como anexo o documento "04_5_2022 Confidencial". A mensagem foi enviada a Mauro César Cid, então ajudante de ordens da Presidência, às 20h56 do dia anterior à reunião. O e-mail foi emitido pela assessora Gianne Amorim P. Portugal, que estava alocada no gabinete adjunto de Agenda da Presidência.

A sessão do Copom teve início menos de duas horas depois, às 9h37, como registra a ata do BC. A reunião de Campos Neto e demais membros do comitê concluiu-se com a divulgação da ata às 19h12. De forma unânime, o colegiado optou por elevar a taxa básica de juros em um ponto percentual, estabelecendo-a em 12,75%, o nível mais elevado em cinco anos.

Silêncio pós-reunião

É importante ressaltar que os membros do Copom devem observar um período de silêncio que engloba desde a quarta-feira da semana anterior à reunião ordinária até a publicação da ata. Durante esse intervalo, eles estão proibidos de realizar declarações relativas ao Copom em discursos, entrevistas à imprensa e reuniões com indivíduos que possam ter interesse nas decisões do comitê. Nesse contexto, é válido mencionar que Bolsonaro enfrentava pressões significativas devido à inflação em sua campanha para a reeleição.

Na ata, os diretores do BC justificaram a decisão com base na inflação, que, segundo eles, continuava a "surpreender negativamente".

A entidade monetária declarou que "não foram discutidos tópicos referentes ao Copom durante o encontro em questão". Quando questionado sobre os temas abordados entre Bolsonaro e Campos Neto, o BC não forneceu resposta definitiva. "As regras do período de silêncio do Copom não proíbem reuniões com autoridades públicas", afirmou a instituição.

Quanto à ausência do encontro na agenda pública de Campos Neto, o BC atribuiu essa omissão a uma "falha operacional". Contudo, não foram explicados os motivos pelos quais o encontro também não estava registrado na agenda pública de Bolsonaro.

Análise das novas provas

O e-mail contendo o documento que menciona o encontro secreto estava entre as milhares de mensagens que Cid negligenciou apagar da conta utilizada durante seu período de trabalho na Presidência. Essas mensagens, incluindo as de Cid e outros assessores de Bolsonaro, foram encaminhadas à CPI do 8 de Janeiro.

A autonomia do BC, que impede o presidente da República de interferir nas decisões do Copom, foi estabelecida durante o governo Bolsonaro e sancionada por ele mesmo em 2021. Essa legislação tem como um de seus objetivos proteger a instituição de pressões políticas, inclusive vindas do Palácio do Planalto.

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