A cozinheira Ana Cristina da Silva, de 34 anos, foi morta na Venezuela na segunda-feira (27) e teve o corpo exposto em praça pública, segundo denunciaram familiares. De acordo com Maria das Graças da Silva, de 48 anos, mãe da vítima, ela morava no país vizinho há mais de quatro anos e ligava regularmente para os parentes. A vítima trabalhava em um garimpo venezuelano.
Eles reclamam da constante insegurança de quem vive no Km 88, na Venezuela, que fica a três horas de carro partindo da cidade de Santa Elena de Uairén, fronteiriça com o Brasil. Conforme Maria das Graças, a situação no local é desesperadora. "Não tem lei lá", desabafou.
Ela acrescentou que ouviu comentários de que Cristina havia visto "alguma coisa" e que o fato de o corpo ter aparecido com a língua cortada é uma forma de o grupo que "comanda" o local dizer que "nada deve ser comentado".
Os familiares de Ana Cristina viajaram ao país vizinho para providenciar o translado do corpo para o Brasil. Eles contam que houve dificuldades para saber o que realmente aconteceu com a vítima.
"Quando chegamos lá, paramos na rua principal da cidade. Então, perguntamos para uma senhora se ela havia visto o que aconteceu. Ela estava visivelmente com medo e não quis falar nada", relatou Maria.
Eles foram à delegacia da cidade, onde foram informados de que o corpo de Ana Cristina estaria em Tumeremo, cidade próxima. De lá, eles foram encaminhados para a delegacia da cidade de São Félix e encontraram o corpo da filha. "Não me deixaram entrar para ver [o corpo]. Minha outra filha entrou e reconheceu Ana Cristina", lembrou.
Segundo os familiares, o corpo da brasileira estava bastante machucado. Ana Cristina teria sido enforcada com arame farpado e o corpo já estava inchado. A família contratou um serviço de funerária no país vizinho e o corpo da vítima foi levado até a fronteira.
O translado de Pacaraima, cidade ao Norte de Roraima, para Boa Vista foi feito por uma funerária local. Ana Cristina foi entrerrada nessa quinta (30) no Cemitério Municipal Nossa Senhora da Conceição, no bairro São Vicente, zona Sul da capital.
Nervosa, Maria das Graças faz um apelo às pessoas que vão para a Venezuela. "Minha filha não foi a primeira, quantas pessoas somem na Venezuela sem explicação? Quem vai para lá tem que saber qual é a realidade daquele país", ressaltou.
Autoridades brasileiras
O governo de Roraima tem feito reuniões buscando aproximar relações com os governos dos países fronteiriços Venezuela e Guiana, para que as autoridades possam acompanhar e resguardar os brasileiros que vão para fora do país, mas para isso é necessário que o turista informe ao consulado o motivo da viagem.
"Dentro da Venezuela ou na Guiana é preciso que informe a nossa instituição consular mais próxima onde você está, mesmo que de forma ilegal, trabalhando em uma região de garimpo. Dê um ponto de referência de uma cidade mais próxima. Dessa forma, as nossas autoridades, que exercem a função de defender os brasileiros nesses países, poderão fazer alguma coisa", ressaltou o secretário de relações internacionais de Roraima, Eduardo Oestreicher.