A juventude está cada vez mais avessa ao uso da camisinha. Piadas como "prefiro jogar sem chuteira" ou "não tem graça chupar bala na embalagem" se tornam comuns. O resultado é uma alta taxa de infecções por HIV entre jovens adultos. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), 49% dos casos estão concentrados em pessoas entre 20 e 35 anos.
Ao todo, de 1980, início da pandemia da doença provocada pelo vírus HIV até o ano de 2022 foram notificados 8.203 casos. Em 2022, foram registrados 533 novos casos da doença, contra 762 registrados em 2021. Mas essa redução não é motivo para comemorar, pois a subnotificação ainda é uma realidade.
Casos registrados
A doença é predominante no sexo masculino, que responde por 74% das infecções no Piauí. No entanto, as grávidas também aparecem como uma fatia importante das estatísticas, sobretudo em razão dos exames de pré-natal. Em 2021, o número mais recente, foram 9 casos registrados.
No que diz respeito à mortalidade, o controle da doença com drogas específicas apresenta bons resultados, embora a infecção não tenha cura.
Casos
De 1980 a 2020 foram registrados 2.146 óbitos pela doença no Piauí. Em 2020, 140 pessoas morreram vítimas de consequências do vírus. Teresina (2.264), Floriano (132), Picos (115), Piripiri (93) e Campo Maior (70) são as cinco cidades com maior número de notificações entre 2018 e 2022.
Embora o HIV seja a doença mais temida por não ter cura, outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) também representam um perigo para a saúde humana. Algumas delas, mesmo tendo cura, podem, sim, levar à morte. E a preocupação com essas infecções não deve ser apenas durante ou após o Carnaval.
O que é PrEP e PEP?
O médico infectologista Sebastião Pires Filho, piauiense com atuação em Botucatu, São Paulo, explica que a preocupação com as ISTs deve ser diária. "É claro que durante o Carnaval a gente tem uma explosão e uma tendência de aumento do número de casos, em virtude das comemorações festivas. As pessoas tendem ao consumo de álcool e drogas, então elas, ficam mais suscetíveis ao sexo desprotegido", conta.
Única barreira
O uso da camisinha não é a única barreira de proteção, embora ela deva ser sempre utilizada.
"Além dela, temos como estratégia a profilaxia pré-exposição, o famoso PrEP, e a profilaxia pós-exposição, o PEP. A PrEP é indicada para pacientes com dificuldade em aderir à camisinha. Ela é disponibilizada de forma gratuita, após consulta com infectologista e a dinâmica de vida sexual do paciente. Alguns exames de sangue como HIV, sífilis e hepatites virais, principalmente B e C são necessários", explica o médico.
No entanto, o uso dessas medicações depende de prescrição médica e um acompanhamento correto. Além disso, elas protegem apenas do HIV. "A profilaxia pré-exposição não é só tomar e já ter relação desprotegida. Existe um tempo para agir. Em geral, relação sexual vaginal sem preservativo necessita de 20 dias. Já a relação anal sem preservativo precisa de pelo menos sete dias do uso da medicação. Essas profilaxias protegem apenas para o HIV. Sífilis, hepatites virais, gonorreia e demais outras infecções não estão contempladas", acrescenta Sebastião Pires Filho.
Super gonorreia e super sífilis
Casos de microrganismos resistentes aos antibióticos é uma realidade já constatada nos Estados Unidos. No Brasil, ainda não existem casos clínicos comprovados da chamada "super gonorreia", por exemplo.
A gonorreia é uma IST muito comum no Brasil. Acontece quando há dor e secreção no canal da uretra, por onde passa a urina. "A gente tem registrado na literatura alguns casos que aconteceram nos Estados Unidos sobre gonorreia que já tinha uma resistência a antibióticos que normalmente utilizamos. É possível que exista uma super gonorreia. Ou seja, uma bactéria resistente a antibióticos", alerta o infectologista Sebastião Pires Filho.
Automedicação
O médico explica que a automedicação é uma das responsáveis pelo surgimento de bactérias resistentes.
"O ideal é que o médico faça a coleta da secreção que sai da uretra para fazer um exame de cultura. Do mesmo modo a sífilis, embora não tenhamos relatos. Mas se continuar o uso indiscriminado de antibiótico é possível que também tenha a super sífilis", considera o médico.
Procurada pela reportagem do Jornal Meio Norte, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi) informou que não possui dados consistentes sobre o número de casos de gonorreia ou sífilis. As notificações são registradas apenas em prontuários.