A empresária Flaviana Gonçalves, 40 anos, teria sido obrigada a dirigir o carro em que seu corpo foi encontrado carbonizado, junto com os do marido e do filho, dentro do porta-malas, na madrugada de terça-feira (28), em São Bernardo do Campo (ABC), segundo a polícia. As informações são do UOL.
Pouco antes, por volta de 1h15, o porteiro do condomínio onde a família morava, em Santo André, também no ABC, teria visto a empresária saindo com o carro da família, também de acordo com a polícia.
Flaviana teria sido morta da mesma forma, mas não na residência, já que depois que o veículo da família, um Jeep Compass, não voltou mais ao condomínio. Segundo disse o porteiro à polícia, o Fiat Palio de Ana Flávia passou pela portaria instante antes.
O casal e o filho adolescente foram achados carbonizados no carro da família, no limite entre São Bernardo e Santo André, na madrugada de terça. O carro foi queimado. Segundo a polícia, pai e filho foram mortos com pancadas no lado direito da cabeça, dentro da casa onde moravam no condomínio Morada Verde, em Santo André.
A causa da morte dos três, segundo laudo preliminar do Instituto Médico Legal, foi traumatismo cranioencefálico. Os corpos, de acordo com a polícia, foram identificados pelas arcadas dentárias. Segundo câmeras de monitoramento, o carro de Ana Flávia entra e sai do condomínio três vezes, entre 18h16 e 22h12 de segunda-feira (27). Neste meio tempo, às 20h09, ainda segundo as imagens, Carina entra a pé no local, usando um moletom com capuz. "Chamou a atenção ela usar essa roupa, pois estava muito quente neste dia", frisou o seccional.
A polícia afirmou que Flaviana foi provavelmente rendida e obrigada a dirigir o carro com os corpos do filho e marido no interior. A investigação agora tenta descobrir se a mulher foi sequestrada antes de chegar em casa, ou quando chegou ao local, após sair do trabalho em um shopping de Santo André.
O delegado Bozon acrescentou que foram encontradas marcas de sangue na região dos joelhos e na altura do zíper de uma calça de Ana Flávia, que havia sido lavada. A identificação ocorreu mediante o uso de luminal (substância que indica a presença de sangue que não pode ser visto a olho nu).
"Este crime foi feito com extrema crueldade e foi premeditado", afirmou Bozon.
CONTRADIÇÕES
A polícia disse que as duas suspeitas afirmaram, em depoimento, que Juan, Flaviana e Romuyuki teriam sido mortos por um suposto agiota, para quem a família deveria R$ 200 mil. "Elas também afirmaram que houve uma discussão [na noite do crime] entre as suspeitas e a família", acrescentou Bozon.
As duas ainda afirmaram à polícia que, por conta da discussão, Flaviana teria afirmado que sairia com o marido e o filho, para abastecer o Jeep e viajariam para Minas Gerais. As suspeitas por isso, segundo depoimento, resolveram também sair do imóvel -segundo a polícia, as duas moram juntas em uma favela a cerca de 10 minutos do condomínio.
"Porém, a testemunha, que está protegida, conta uma história que as desmente em tudo", afirmou o delegado.
Segundo a testemunha afirmou em depoimento, após a chegada de Flaviana, o Jeep foi estacionado em frente à casa das vítimas, com o porta-malas voltado para o imóvel.
O homem, ainda segundo a testemunha, ajudou uma das duas suspeitas a colocar grandes embrulhos no porta-malas do Jeep.
Imagens de câmeras de monitoramento mostram um quarto suspeito a pé, do lado de fora do condomínio, segurando dois capacetes de moto nas mãos, minutos antes de os carros saírem do local.
Outro ponto de contradição, segundo a polícia, é o em que as suspeitas em nenhum momento falam sobre o sangue encontrado na casa, além de estar tudo revirado na residência.
Foram levados do local, ainda segundo a polícia, R$ 8.000, dólares, joias e uma espingarda antiga. A arma, o dinheiro e as joias não foram encontrados.
A polícia solicitou a quebra do sigilo telefônico de Ana Flávia e Carina.
PERFIS
O delegado Bozon afirmou que Ana Flávia e Carina demonstraram comportamentos diferentes durante os depoimentos prestados nesta terça, no Setor de Homicídios de São Bernardo do Campo –as duas foram ouvidas novamente na tarde desta quinta-feira (30).
Segundo o policial, Ana Flávia estava muito nervosa. "Houve momentos em que ela não conseguia nem falar", salientou. A filha do casal, inclusive, teria passado mal e vomitado, de acordo com a polícia.
Já Carina, ainda conforme o delegado, "é mais fria" do que a namorada. "Ela se manteve calma enquanto contou sua versão", afirmou o policial.
OUTRO LADO
O advogado Lucas Domingos, que defende Ana Flávia e Carina, afirmou que as duas negam participação e autoria no crime.
Questionado sobre contradições nos depoimentos delas, ele disse que quando tiver acesso ao inquérito do caso verificará "quais são".
"Também preciso ter acesso às filmagens e falar melhor com elas para constatar se de fato existem contradições. Tenho que ver o que posso fazer para ajudá-las."
Ele afirmou que foi contratado por uma amiga das suspeitas, que preferiu não identificar.