Por Waldelúcio Barbosa
Os jovens de hoje fazem sexo com menos frequência que os jovens de gerações passadas, segundo estudos recentes. Para se ter uma ideia, um estudo sueco divulgado no ano passado indicou que, considerando-se a faixa etária de 18 a 24 anos, 31% dos homens e 19% das mulheres disseram não ter tido relações nos 12 meses anteriores ao inquérito.
Os dados foram apurados pelo Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, e pelo Departamento de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos.
Números
Recentemente uma pesquisa realizada pela Datafolha e encomendada pela plataforma Omens, revelou que o brasileiro tem feito menos sexo e com a vontade de transar lá em baixo.
Para cerca de 30% dos entrevistados, a frequência do sexo se manteve igual durante a pandemia. E para menos de um quinto, o número de relações aumentou. O motivo apontado é o cenário preocupante durante e pós a crise sanitária.
Esse crescente desinteresse pelo sexo vem sendo chamado por especialistas de “apagão sexual”. Na avaliação da sexóloga Madalena Carcará, o acontecimento tem relação com a chegada da pandemia do novo coronavírus em todo mundo.
Questões emocionais
De acordo com a especialista, a pandemia trouxe inúmeras questões emocionais para a população brasileira: ansiedade, luto, tristeza, dor, sentimentos de autossabotagem, medo, entre outros.
Como a sexualidade é uma força que te impulsiona a buscar intimidade, prazer, afeto, todo esse contexto dolorido no qual todos foram envolvidos impossibilita de olhar com mais atenção para vida sexual.
“Cheia de tabus, travas, preconceitos, a sexualidade, independentemente do processo que vivemos, ainda é um pilar de vida demasiadamente esquecido por tantas pessoas. É o último pilar de vida que as pessoas vão pensar em investir, ainda mais imersos num contexto de dor. O desejo sexual está intimamente ligado às questões emocionais, os bloqueios mentais pelos quais passamos interfere diretamente na qualidade do sexo bem como o apetite para o mesmo. Para um sexo bom é preciso que os parceiros estejam entregues à essa energia de vida, o que muitas vezes é impossibilitado pelas preocupações financeiras, pela dor de quem perdeu um ente querido ou até mesmo pelo receio de como será o amanhã”, declarou a palestrante.
Sexo é um pilar para vida saudável
Conforme a Madalena Carcará, a pandemia foi responsável pela diminuição da libido. Os encontros, o toque que dispara a vontade sexual também foram limitados diante da pandemia.
Embora para aqueles que desfrutavam do matrimônio, a pandemia deu a esses casais a oportunidade de se conectarem mais intimidade durante o processo de lockdown.
Para sexóloga Madalena Carcará houve menos atenção ao sexo
Estresse é um fator
Entretanto, todo esse cenário, o estresse veio como fator dificultador para que muitos desfrutarem dos benefícios. Sexo bom, mente relaxada é uma máxima extremamente importante para uma vida sexual satisfatória e plena.
“A pandemia também trouxe um aumento de diagnóstico como a ansiedade. Nos homens, a ansiedade pode trazer séries disfunções sexuais como a ejaculação precoce e a disfunção erétil, o que pode diminuir a frequência com essa pessoa procure o sexo. Nas mulheres, a depressão pode vir associada à disfunção sexual chamada desejo sexual hipoativo, onde a mulher perde completamente a libido e a ansiedade pode vir associada à tensões musculares o que pode gerar dor no ato sexual, assim, essas mulheres tem a tendência a criar desculpas para não transar. O que precisamos entender, é que, segundo a organização mundial de saúde (OMS) o sexo é um pilar de vida saudável, assim como o lazer, a saúde mental”, ressaltou.
A profissional frisa ainda que é incomum as pessoas fazerem uso dessa força como fins preventivos e curativos de estresses e tensões do dia a dia.
“O orgasmo é um poderoso instrumento de cura, mas o consciente coletivo ainda exalta a dor e abomina o prazer, ficando assim, o deleite condicionado apenas à uma performance sem usufruir de todos seus benefícios. O orgasmo cura, relata, transborda. Acessar essa força é garantir anos de vida, aumentar a imunidade e ter seu corpo inundado por substâncias que funcionam como verdadeiros elixires para a saúde e bem estar”, pontuou.
Aflição é inimiga do tesão
Dara Santos, psicóloga clínica e sexóloga reforça que além dessa resposta fisiológica, em situação de estresse e preocupação o pensamento fica voltado para a resolução de problemas, ou seja, desviado daquilo que pode ser prazeroso e longe de pensamentos mais eróticos.
“Analisando os dados dessa pesquisa podemos observar que esses números refletem a realidade que estamos vivenciando neste período de pandemia que tem causado alguns prejuízos físico, mental e sexual na vida das pessoas. Isto pode ser observado também na minha vivência na clínica através de vários relatos de pacientes com esse tipo de queixa, como essa problemática mundial é algo novo pegou todos nós de surpresa tivemos que nos reinventar nesse novo normal, assim causando preocupação, estresse e ansiedade afetando diretamente a vida sexual sentindo menos vontade de fazer sexo, diminuindo a libido que é o desejo sexual”, disse.
A psicóloga relata ainda que alguns casais passaram mais tempo juntos, em confinamento trabalhando em home office, dividindo os afazeres domésticos, cuidando dos filhos, acompanhando os filhos na aula de modo remoto, dentre outras funções e fatores que acarretaram essa diminuição.
Dificuldade sexo
E os solteiros tiveram dificuldade em fazer sexo, por conta do medo de se contaminar com esse novo vírus, mantendo o distanciamento social e tiveram que se reinventar para manter sua vida sexual ativa.
“É importante procurar profissional capacitado para fazer uma avaliação e fazer o tratamento adequado para que tenha uma vida sexual saudável e de qualidade”, orienta Dara Santos.