Seis pessoas foram indiciadas por homicídio triplamente qualificado por envolvimento no assassinato de João Alberto, no Carrefour, em Porto Alegre. O desfecho do inquérito, conduzido pela delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoas, foi divulgado em entrevista coletiva no Palácio da Polícia, no Rio Grande do Sul. Segundo a policial, não há nenhum indício de que a motivação central do crime tenha sido racismo, mas houve contexto discriminatório.
Homem negro de 40 anos, João Alberto Freitas foi espancado até a morte no Carrefour, em Porto Alegre, no dia 19 de novembro, na véspera do Dia da Consciência Negra. O assassinato do cliente do supermercado gerou protestos em todo o país.
Entre os indiciados pelo crime estão os seguranças terceirizados Geovane Gaspar Dutra, ex-soldado temporário da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, de 24 anos e Magno Braz Borges, de 30 anos. Homens brancos, os dois foram detidos em flagrante pelo espancamento e pela morte por asfixia de Beto Freitas.
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De acordo com a diretora do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Vanessa Pitrezs, a fiscal Adriana Alves Dutra, de 51 anos, que filmou o espancamento, e outro segurança, Paulo Francisco da Silva, também foram indiciados por impedir socorro à vítima e por não prestar nenhum tipo de ajuda. Mais dois funcionários do Carrefour, Rafael Rezende e Kleiton Silva Santos, tiveram sua prisão solicitada à Justiça por imobilizar Beto Freitas e ajudar Dutra e Borges a espancá-lo, além de impedir que os demais presentes prestassem socorro à vítima.
Ainda segundo a delegada, os indiciados demonstraram "maneira alvitante de conduta", intimamente ligada à condição socioeconômica da vítima, "a qual não se pode dissociar sua cor de pele". No entanto, o racismo não foi considerado motivação para o crime. Os indiciados responderão pela asfixia de Nego Beto, o que impossibilitou socorro à vitima, e motivo torpe, relacionado ao "contexto discriminatório" em que o crime aconteceu.
— Se a cor da pele da pessoa fosse outra, provavelmente a situação (também) seria outra — afirmou a delegada Roberta Bertoldo.
O laudo do Instituto-Geral de Perícia apontou asfixia como a causa da morte de Beto Freitas. De acordo com o relatório da Polícia Civil, durante o crime, a vítima grita repetidas vezes que não consegue respirar. Em uma das gravações analisadas, Beto Freitas chega a exclamar "Tô morrendo!".
A cena remonta ao assassinato do americano George Floyd, homem negro estrangulado por um policial branco em maio deste ano. A morte de Floyd gerou uma onda de protestos antirracistas nos Estados Unidos.
Embora o homicídio de Beto Freitas não tenha sido enquadrado como racismo, o Senado aprovou nesta terça-feira, em votação simbólica, um projeto que prevê uma pena específica para atos praticados por agentes públicos e profissionais de segurança privada com base em preconceito por raça, origem étnica, gênero ou orientação sexual. Agora, o texto vai à Câmara dos Deputados.