O planeta agoniza e pede socorro! Mudanças significativas estão sendo registradas constantemente como sinais de quem precisa de ajuda. Mas neste cenário o Piauí se destaca como uma potência na produção de energias renováveis, ocupando o segundo lugar no ranking de energia solar (fotovoltaica) no Brasil.
O estado abriga grandes parques de energia solar em operação, ficando atrás apenas da Bahia, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Os números atuais são cada vez mais significativos, já que mais de 155 mil empregos diretos e indiretos foram gerados neste setor de energias renováveis.
Para se ter uma ideia, a Central de Cooperativas dos Cajucultores do Estado do Piauí (Cocajupi) faz uso de energia fotovoltaica e a Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis) abraçou a ideia de preservação do meio ambiente e colabora para o reflorestamento de áreas degradadas.
Por sua vez, Ricardo Castelo, vice-presidente de Energias Renováveis da Investe Piauí, deu um panorama sobre os avanços no setor e revelou que Produto Interno Bruto (PIB) das localidades que recepcionaram parques de energias renováveis aumentaram em até 20%.
Como fomentador do desenvolvimento, o BNB tem o montante de R$ 37 milhões para serem aplicados neste ano e várias linhas de financiamentos através do Fundo Constitucional de Financiamento Nordeste, dentre eles, o FNE Verde, que é um programa mais abrangente que trabalha, por exemplo, a parte de sustentabilidade ambiental.
Enquanto a ambientalista Tânia Martins pede mais rigor das autoridades no que diz respeito aos impactos do meio ambiente antes de liberar a implantação de parques de energia eólica e destacou os benefícios ambientais das energias renováveis em comparação com os combustíveis fósseis, o ministro Wellington Dias fez questão de deixar claro a posição do governo federal na defesa de energia cada vez mais limpa com forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas no planeta.
Piauí sedia conferência internacional sobre energias renováveis
No dia 3 de junho deste ano, o governador Rafael Fonteles e a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, lançaram no Centro de Convenções de Teresina (CCT), a Conferência Internacional de Tecnologias das Energias Renováveis (Citer), considerado o maior evento do setor no Brasil.
A Citer foi realizada ao longo de três dias, reunindo cerca de 180 palestrantes e 45 painéis simultâneos, em formatos híbrido, presencial e virtual. O tema central foi “As Tecnologias das Energias Renováveis no Contexto da Transição Energética Global Justa e Sustentável”.
Rafael Fonteles destacou que o evento foi uma oportunidade crucial para discutir e debater as questões relacionadas à emergência climática.
Ao longo da Citer, os palestrantes abordaram diversos aspectos da transição para uma energia mais sustentável. Um dos pontos discutidos foi o impacto da produção de “energia limpa” no cotidiano da população, especialmente nas áreas mais carentes, bem como o papel do governo na promoção de uma sociedade mais justa e democrática.
Durante a Citer, o governador anunciou que o Piauí sediará o maior parque de energia solar do Brasil. Um memorando de entendimentos foi assinado com a empresa Solatio para a instalação de uma infraestrutura de 4 gigawatts na cidade de Bom Princípio do Piauí. Este parque solar abastecerá a indústria de produção de amônia em Parnaíba, essencial para o desenvolvimento de hidrogênio verde.
Vale ressaltar que a construção do parque solar, parte da primeira etapa do projeto, começará já no ano de 2025. Fonteles ressaltou a importância deste empreendimento para a industrialização da cadeia de produção de energias renováveis no estado. “A Solatio está trazendo um parque solar de 4 gigawatts para o Piauí, gerando empregos e oportunidades de desenvolvimento para nosso estado”, resumiu o governador.
A Solatio obteve licença ambiental para produzir 11,4 gigawatts de hidrogênio verde e amônia no Piauí, com foco no mercado europeu. No total, a empresa investirá R$ 25 bilhões em energia solar no Brasil.
Com mais de 1.500 GW de potencial em eólicas onshore (segue a legislação do país no qual mantém registro) e offshore (funciona em um país e mantém registro em outra) e ocupando o sexto lugar no Ranking Global de Capacidade Instalada onshore, a indústria eólica brasileira tem o papel crucial de ajudar a enfrentar a emergência climática.
O Piauí, com sua matriz elétrica 100% renovável, gera mais de cinco vezes a energia que consome, o que atrai investidores em energia eólica offshore e hidrogênio.
PIB das localidades com parques de energias renováveis cresce 20%
No que diz respeito aos impactos sociais, ambientais e econômicos das energias renováveis, Ricardo Castelo, vice-presidente de Energias Renováveis da Investe Piauí – criada pelo Estado para atuar na atração de investimentos – frisa que os estudos realizados pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) “indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) das localidades que recepcionaram parques de energias renováveis aumenta em até 20%. Com isso, empregos, antes não existentes, são um dos diferenciais, tendo como momento de pico, o período das instalações e montagens”, justifica, acrescentando que a arrecadação das prefeituras também aumentam, mais especificamente no período de montagem.
Ele esclarece, ainda, que a utilização de terras, antes improdutivas passam a ter uma utilização e maior valorização. “Todas as alterações realizadas pelo ser humano impactam o meio ambiente, no entanto, as energias eólica e solar são as que menos impactam”, pondera Castelo.
Ricardo foi taxativo ao afirmar sobre como a adoção de energias renováveis pode afetar a criação de empregos nas comunidades locais. “Muitos empregos são criados nas localidades que as energias renováveis são implantadas. Na época das obras: serventes, pedreiros, seguranças, engenheiros, técnicos e gestores são contratados. Os restaurantes, postos de combustíveis, o transporte e saúde pública também sofrem algumas alterações positivas e negativas. Portanto, as cadeias de suprimento relacional também são impactadas e incrementadas”, explica.
Quanto aos desafios sociais enfrentados pelas comunidades ao redor das áreas de instalação de energias renováveis, como parques eólicos e solares, o vice-presidente da Investe Piauí esclarece que são dois: os positivos são identificados na arrecadação e aumento do nível de emprego, enquanto os negativos são aqueles responsáveis pelo aumento da utilização dos sistemas de saúde, transportes e policial. “Os principais problemas estão relacionados ao "pico" da obra. Isso porque muitos profissionais são demandados para um período muito curto, em média de dois anos. Após esse período, há uma queda na arrecadação e uma redução do número de empregos”, observa Ricardo.
O cenário também se mostra favorável para categoria menos favorecida na pirâmide social, uma vez que as energias renováveis podem contribuir para a redução da pobreza energética em regiões carentes, conforme assegura Ricardo Castelo. “Entendo que uma visão de planejamento das finanças do município no curto, médio e longo prazos deveriam ajudar na oscilação e impactos apresentados. O investimento em áreas importantes deveria ser estudado para que os impactos de final de obra fossem minimizados.”
O vice-presidente defende, ainda, a implantação de políticas públicas voltadas para energias renováveis na promoção da inclusão social. Isso é possível através de investimentos locais na educação e formação de pessoal para aproveitar os melhores empregos. Bem como na formação e incentivos ao empreendedorismo para prestação de serviços de qualidade e maior valor agregados.
Castelo demonstra otimismo quanto a transição para energias renováveis pois, segundo ele, influencia o crescimento econômico do país. E justifica: “A nova industrialização, identificada como a economia do baixo carbono ou de transição energética, apresenta um potencial imenso de desenvolvimento sócio-econômico e tecnológico. Com isso, novos empregos com alto valor agregado surgirão implicando na necessidade de formação e treinamentos de milhares de profissionais”, pondera, comentando que os novos produtos resultantes da economia verde gerarão exportações e desenvolvimento econômico nos locais que recepcionarão a nova industrialização.
Ele fez questão de enumerar os custos e benefícios econômicos de investir em energias renováveis a longo prazo. Primeiro, relata Ricardo, “a redução dos desastres ambientais, seguido da redução das doenças e problemas de saúde e, por fim, a redução dos riscos de perdas de safras agrícolas”.
Profundo conhecedor deste segmento em ampla evolução, o vice-presidente da Investe Piauí foi taxativo ao afirmar que os setores da economia mais impactados pela expansão das energias renováveis são de energia, serviços, educação, manufatura, transporte e logística.
E quanto ao impacto das energias renováveis na qualidade de vida das populações rurais versus urbanas, Castelo informa que as pessoas terão combustíveis com menor teor de carbono com redução da poluição, bem como a redução do deslocamento das populações rurais em busca de empregos nas cidades, além do aumento do poder aquisitivo das populações rurais.
Ambientalista defende avaliação dos impactos das novas tecnologias
A ambientalista Tânia Martins, uma das fundadores da Rede de Ambientalistas do Piauí (REAPI) - que busca fortalecer e disseminar a agroecologia, também tem uma opinião formada sobre a preservação do meio ambiente diante do uso de energias renováveis.
Ela explica quais são os principais benefícios ambientais das energias renováveis em comparação com os combustíveis fósseis. “O futuro da humanidade depende da descarbonização do planeta. Se isso não for feito já, parte da humanidade será extinta. Lembrando que nos últimos dozes meses, a temperatura da Terra aumentou 1,5 grau, acelerando o processo que estava previsto para acontecer daqui há 70 anos. Assim, é necessário fazer a transição energética para evitar a extinção da vida no planeta”, frisa, acrescentando que as diversas tecnologias que estão surgindo para gerar energias ainda são incipientes para se avaliar o tamanho dos impactos promovidos, mas, sem dúvida, conforme enfatiza, em comparação com os fósseis, são infinitamente melhores.
Preocupada com as ações do homem que provocam o aquecimento global, Tânia falou como as energias renováveis podem contribuir para a mitigação das mudanças climáticas. “Não existe alternativa para diminuir o aquecimento do planeta se não mudar a matriz energética de hoje que é a queima de combustíveis fósseis. Portanto, o uso de fontes renováveis é a única alternativa que se tem hoje para geração de energia que pode contribuir com a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, avalia.
A ambientalista também fez um alerta, uma vez que deixou claro que existem problemas relacionados ao uso de terras para projetos de energia renovável, como a instalação de parques solares ou eólicos, por exemplo: “Existem muitos problemas com os contratos de arrendamento que são absurdos, onde a maioria é feita por longos períodos de 30 a 50 anos, pagando preços injustos e não permitindo mais o acesso do dono ao terreno, nem mesmo para circulação”, diz, ao tempo que esclarece ainda que os agricultores não têm nenhuma proteção do estado, pois não existem normas estabelecidas para evitar injustiças nos contratos como se verifica hoje. “Portanto, é necessário assegurar acesso as informações sobre os projetos, as restrições que eles impõem, os impactos nos territórios e, principalmente, realizar a consulta livre, prévia e comunicada a qual as comunidades têm direito, antes de iniciar grandes empreendimentos em áreas povoadas.”
Em sua análise, a ambientalista argumenta que as comunidades locais poderiam se beneficiar da implementação de projetos de energia renovável. “Beneficiaria muito, pois tirava a dependência dos combustíveis fósseis, tão difíceis para as comunidades distantes terem acesso”.
Enfrentando desafios sociais e culturais
Apesar de representar os rumos do futuro em termos de evolução tecnológica, Tânia Martins informa que ainda existem muitos desafios sociais e culturais a serem enfrentados ao introduzir energias renováveis em comunidades rurais ou indígenas. “Primeiro, reparar os danos sociais, ambientais e econômicos já causados pelas empresas nos territórios. É preciso à realização de estudos de impactos ambientais mais precisos, impactos sonoros, luminosos, bem como os efeitos causados pelas sombras das hélices dos aerogeradores que causam perturbação mental nas pessoas. É necessário que o poder público promova a regularização fundiária, demarcação de terras indígenas, quilombolas e unidades de conservação antes da chegada do empreendimento em áreas com potencial para exploração das energias eólicas e solar”, adverte ela.
De forma positiva, Tânia Martins explica quais políticas públicas são mais eficazes para incentivar a adoção de energias renováveis. Dentre elas, a mais aguardada e a principal é expandir o uso doméstico de fontes de energias limpas, eólicas, biomassa e solar para todas as classes sociais e zonas, tanto urbana quanto rural.
Ela também destaca o papel das autoridades, já que falou sobre como a participação dos governos pode equilibrar a necessidade de desenvolvimento de energia renovável com a proteção ambiental. “Fortalecendo as legislações ambientais, de modo a garantir que os Estudos de Impactos Ambientais minimizem os problemas causados pelos empreendimentos na instalação e manutenção das usinas”, justifica a ambientalista.
Por fim, ela revela quais são os impactos ambientais negativos associados à produção e ao descarte de equipamentos de energia renovável, como painéis solares e turbinas eólicas. “São muitos, pois somente em 2023, de acordo com dados do MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil, o MapBiomas), as usinas de energias renováveis causaram a destruição de 4,5 mil hectares de vegetação nativa no Brasil, em especial na Caatinga, já que o Nordeste é a região que mais tem perdido mata nativa para os empreendimentos de energias solar e eólica”, enfatiza, comentando, ainda, que os impactos são de ordens sociais, ambientais e econômicos que vão desde a destruição da mata nativa, devastação de dunas, destruição da fauna a poluição do ambiente onde são instaladas as usinas.
No caso das eólicas, pondera a ambientalista, “a matança de pássaros e morcegos, desorientação de tartarugas e aves migratórias, o barulho das turbinas que causam problemas de saúde diversos na audição, dores de cabeça, distúrbio do sono e problemas mentais”, finaliza.
Cocajupi reduziu gastos em 80% com energia fotovoltaica
A Central de Cooperativas dos Cajucultores do Estado do Piauí (Cocajupi), localizada na cidade de Picos, a 319 quilômetros de Teresina, faz uso de energia renovável há seis anos, através da implantação de placas de energia solar e conforme ressalta Jocibel Belchior, diretor-presidente da Cocajupi, “estamos contribuindo para preservação do meio ambiente”.
Sobre a importância de adotar essa tecnologia, ele disse que o mercado internacional está cada vez mais rigoroso no que diz respeito a comercialização e exportação de castanhas de caju, por exemplo, “também cobra muito o uso de energia renovável e estamos utilizando a energia solar e lenha da poda de limpeza dos pomares de cajueiro”, conta.
Jocibel esclarece que há uma preocupação também com a questão social/ambiental e econômica, “pois o tema ambiental está sendo bem discutido e com o uso das energias renováveis, a entidade tem vários ganhos economicamente”, diz, acrescentando que no caso da energia solar fotovoltaica, a Cocajupi consegue ter um abate de 80% em relação ao que era antes.
Exigência do mercado exterior
Ele faz questão de dizer que mercado internacional é muito exigente no que diz respeito a negociação com a Cocajupi, já que só compram produtos de qualidade com preço justos e forma de produção, bem como pontualidade na entrega.
Diante do aquecimento global e o desmatamento de florestas, Jocibel avalia positivamente a iniciativa do uso de energia renovável como exemplo a ser seguido por outras empresas, “uma vez que diminuirá as cargas das hidrelétricas, graças as energias renováveis”, pondera o presidente da Cocajupi.
Casa Apis faz reflorestamento de áreas degradadas
Criada em 2005, a Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro - Casa Apis, sediada também na cidade de Picos, aglutina cinco cooperativas singulares e abrange 41 municípios, 52 comunidades e 850 apicultores, sendo considerada uma das maiores produtoras de mel do país e da América Latina, responsável por um produto natural puro, de floradas nativas do semiárido brasileiro e de riquíssimo valor nutritivo. Fazendo uso também de energia solar em suas instalações, aderindo as energias renováveis, foi possível reduzir em 50% os gastos, segundo informou Antônio Leopoldino Dantas, o Sitonho, diretor geral da Casa Apis, referindo-se as altas tarifas no antigo sistema utilizado no local.
Sitonho defende a atividade ecológica como forma de manter e preservar os apiários, visto que o uso da energia renovável é uma preocupação constante da entidade com o meio ambiente. “Até porque 90% da nossa produção de mel é voltada para exportação”, conta, mencionando que o restante é destinado para o mercado interno em outras regiões.
A Casa Apis exporta mel, principalmente, para América do Norte e Europa, cujos países têm uma constante preocupação em preservar o meio ambiente, ficando atento a tudo que acontece com o planeta. Sitonho explica que os compradores americanos se organizam e regulam o controle de optar por fazer negócios com quem usa energias renováveis “e estão dispostos a pagar por isso”, diz, referindo-se à contribuição para amenizar o efeito estufa do planeta.
Após um intercâmbio com uma empresa frigorífica no Mato Grosso do Sul, Antônio Leopoldino chegou a conhecer a tecnologia usada com as fezes dos animais, através da instalação de geradores movidos a motores a gás. Fazendo um comparativo das tecnologias usadas no local que conheceu com as placas de energia solar usadas na Casa Apis, “foi possível constatar uma redução do consumo de energia que antes era em torno de R$ 50 mil, mas hoje está bem menos”, observa, destacando também o concurso internacional que a Casa Apis participou de reflorestamento da área onde ficam os apiários sustentáveis que, anteriormente, começou com 20 hectares, passando para 150 hectares e a meta atual, conforme Sitonho, é de 300 hectares de área voltados para o desenvolvendo novos projetos.
Ele disse que esse reflorestamento acontece nas áreas que foram degradadas no passado, mas que hoje recebem um tratamento especial já que reúnem cinco cooperativas para possibilitar um desempenho amplo e equitativo em todas as áreas da cadeia produtiva, assegurando assim o desenvolvimento sustentável para 900 famílias que têm a apicultura como sua principal fonte de sustento.
O termo “apicultura sustentável” está associado à apicultura orgânica, que se concentra no manejo respeitoso das colmeias de abelhas. Esse método respeita a natureza das abelhas, seus ciclos biológicos, e promove a produção de alimentos naturais e saudáveis, resultando em produtos nutritivos para os consumidores.
O mel produzido pela Casa Apis é exportado para os Estados Unidos, bem como para Europa, principalmente para a Bélgica, Suíça, França, Alemanha e Dinamarca. “Mas estamos começando a negociar com a Ásia, Japão e Coreia do Sul”, revela Sitonho, justificando a procura do mel do Piauí por conta da boa qualidade que oferece ao consumidor final.
Com relação a apicultura, o diretor geral da Casa Apis esclarece que a atividade contribui para regeneração do meio ambiente, conhecida popularmente como “apicultura regenerativa”.
FNE Verde do BNB investe em sustentabilidade ambiental
O Banco do Nordeste tem como sua principal fonte de recursos de financiamento o Fundo Constitucional de Financiamento Nordeste (FNE). O mesmo foi criado pela Constituição de 1988, regulamentado em 1989, e esse fundo recebe uma dotação anualmente que é distribuída em diversos setores para que se possa fazer a aplicação do recurso.
Para o segmento de energias renováveis e desenvolvimento sustentável como um todo por assim dizer, reforça Ricardo Soares, gerente de Negócios da Superintendência do BNB no Piauí, “a gente tem a parte do FNE Verde, que é um programa mais abrangente que trabalha desde a parte de sustentabilidade ambiental, recuperação de áreas degradadas e também fontes de geração de energias renováveis”, explica.
Então, dentro do programa FNE Verde, “a gente tem uma ramificação que é o FNE Sol, que é o programa talvez assim mais conhecido do banco para financiamento de micro e mini geração distribuída de energia, seja para financiamento para consumo próprio ou para alocação dos sistemas e também para sistemas chamados “off-grid” que não são ligados diretamente à rede”, enfatiza o gestor.
Ele acrescenta, ainda, que o BNB faz o financiamento de projetos de infraestrutura, que são projetos mais robustos, mais elaborados, mas faz questão de afirmar que o programa mais democrático e mais acessível do banco, para o público em geral, é o FNE Sol, que financia esses projetos de geração de energia por fontes renováveis tanto da parte urbana, seja para pessoas físicas, empresários, quanto à parte rural também.
Vale lembrar que não existe critério específico para a liberação desses financiamentos. “Então, para você instalar um projeto de energia solar, você tem que ter a sua autorização da Equatorial; você tem que ter todo o regramento para que você possa ter acesso àquele sistema na sua residência ou no seu empreendimento”, diz, justificando que a partir do momento que o cliente tem tudo isso, a parte do financiamento do banco é totalmente acessível a todos.
Ricardo sinalizou que o FNE SOL faz parte da estratégia de sustentabilidade do banco. Isso porque o BNB tem a sua estratégia de sustentabilidade pautada no conceito ASG, que são os índices ambientais, social e de governança, que são utilizados para mensurar o desempenho do banco em relação a esse tema, além do econômico e financeiro. “O banco, por fazer parte, por aderir aos ODS, que são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas), uma das formas que o banco tem principalmente de atuar fazendo a adesão, contribuindo com esses Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, é justamente através da aplicação da linha de crédito”, pontua.
Setor gerou mais de 155 mil empregos diretos e indiretos
O gerente do BNB disse que a cadeia produtiva como um todo das energias renováveis é muito robusta. Para se ter uma ideia, de acordo com ele, dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) e Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) Aneel, demonstram que desde 2012 quando se começou a trabalhar de uma forma mais intensa o sistema de energias renováveis, mais de 155 mil empregos diretos e indiretos foram gerados neste setor. Isso porque o mesmo demanda uma grande mão de obra, indústria para produzir os equipamentos, bem como a parte de ciência e tecnologia para desenvolver as novas ferramentas cada vez mais eficientes. “Ter indústrias que produzem esses investimentos a baixo custo, pois a gente tem tido, gradualmente, uma redução dos custos desses implementos para montagem desse sistema de geração, através das fontes renováveis, além de ser um setor que demanda mão de obra mais simplificada.
No Estado do Piauí, por exemplo, Ricardo diz que existem muitas regiões que têm dificuldades de aplicar o recurso por ausência de fornecedores, por ter uma logística mais distante e complicada. “Trata-se de um mercado muito extenso que precisa e merece ser explorado através das energias renováveis e o BNB está aqui para apoiar todos eles”, adianta Ricardo, mencionando que o banco trabalha no sentido do desenvolvimento sustentável da região.
Ele disse que o BNB trabalha em parceria com os órgãos ambientais federal, estadual e municipal para que as exigências deles sejam cumpridas. Dentro do FNE Verde, por exemplo, o banco trabalha a parte de sustentabilidade ambiental, recuperação de áreas, tendo inclusive um programa lançado recentemente chamado FNE ABC (Agricultura de Baixo Carbono), que trabalha a parte de recuperação de áreas degradadas, reflorestamento e ainda a integração lavoura, pecuária, floresta, ou seja, são programas que visam integrar essas culturas.
BNB disponibiliza R$ 37 milhões para aplicar em 2024
Ricardo Soares ressalta que, hoje se for mensurar o impacto direto ou indireto do banco nesse setor, o Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) em Fortaleza, revela um número muito interessante. Em 2023, o último balanço divulgado mostra que a cada R$ 14 mil que o BNB aplicou no estado do Piauí, foi possível gerar ou manter um emprego. Se for imaginar o montante de R$ 37 bilhões que é o orçamento que o banco tem para aplicar neste ano de 2024, pode-se afirmar que se trata de um número bastante elevado de oportunidades que o banco traz, visando justamente o desenvolvimento das atividades produtivas na sua região.
“Não necessariamente a gente procura desenvolver as atividades para que ocorra uma migração daquela mão de obra, ou ali de repente um deslocamento populacional, enfim, o que a gente procura fazer é desenvolver atividade onde ela surge. A gente procura pegar a comunidade, a cidade, a região e desenvolver as atividades naquele local, tanto que uma das obrigações que temos perante o fundo é de aplicar o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) nos 223 municípios da nossa jurisdição. Esse impacto, essa obrigação, esse compromisso que o banco tem com o fundo, ocorre diariamente por parte das nossas equipes e a tendência é que a gente consiga, cada vez mais, superar esses números que são aplicados no estado”, frisa o gerente do BNB, mencionando que no passado, por exemplo, o BNB conseguiu ultrapassar os R$ 6 bilhões em aplicações no Piauí.
O presidente do Banco do Nordeste, Paulo Câmara, assumiu um compromisso junto à Presidência da República de trabalhar as fontes renováveis do banco, através do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste. “Estamos conseguindo cumprir nossa missão. Hoje estamos com o melhor desempenho do banco em termos percentuais de aplicação na linha de credibilidade do FNE SOL. Aqui tem os números dos últimos sete anos aplicados nos estados voltados para a energia solar e que ultrapassam uns três bilhões de reais. Isso você pegando desde a parte de infraestrutura que são os projetos maiores, até os projetos residenciais menores. Então é uma demanda gigantesca”, justifica Ricardo Soares, mencionando que a Bahia também aplicou, sendo o gigante do Nordeste, mas o Piauí é uma potência dentro desse mercado da geração de energias renováveis e ainda tem muito a fazer e avançar.
Levando em consideração o ranking de investimentos na área de energia solar, considerando os dados de 2017 a 2023, conforme o gerente do BNB, o Piauí ocupa o segundo lugar do Nordeste, isso abrange todos os estados em investimentos em energias renováveis de fonte solar. “Então, ultrapassamos os três bilhões de reais em aplicações como um todo, mas muito colado com a Bahia, por assim dizer. Mas que não deixa de ser uma posição bastante significativa, tendo em vista se você pegar só em números de banco, a nossa tendência é que cada vez mais a gente consiga crescer nesse mercado”, pondera.
Governo Federal prioriza energia limpa, diz ministro Wellington Dias
O ex-governador do Piauí e atual ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, afirmou porque é importante investir em energia renovável. “Ela garante a transição energética da queima de combustíveis fósseis, que faz o planeta aquecer, que coloca riscos ambientais, como estamos vendo lá no Rio Grande do Sul, agora no estado do Amazonas, também no Pantanal, e é claro, quem mais sofre são os mais pobres. Também, à medida que um país como o Brasil, um estado como o Piauí, prioriza energia eólica, energia solar, ela abre múltiplas possibilidades para os pequenos, que a partir da energia solar no teto de uma casa como minha casa, minha vida, tem a ler uma conta menor na área de energia junto com a tarifa social de energia. E ainda, garante as condições de operação de oportunidades de emprego em cada local onde esses projetos se instalam”, avalia.
Dias informou que o Governo Federal abre concorrência para que as empresas, ou seja, as pessoas jurídicas especializadas, possam apresentar projetos em que o Governo garante a compra da energia. Isso porque, no passado, ainda era muito caro a geração de 1 megawatt, seja de energia eólica ou de energia solar.
Para se ter uma ideia, hoje, ela concorre às vezes em condições até melhores do que as energias hidrelétricas. Tem a vantagem de não ter que ter a acumulação de água em barragens, por exemplo, que inundam as margens e muitas vezes, afetam aos mais pobres. E, também, a vantagem da água acumulada para a piscicultura, para a irrigação, para outros usos, mas também tem efeito colateral. “Eu vejo o Governo Federal com linhas de financiamento adequados, com isenções fiscais, pelo incentivo à geração de energia limpa e isso faz com que o setor seja um daqueles que mais recebeu investimentos, tanto de investidores brasileiros, como também investidores de outros países”, ressalta o ministro.
Wellington Dias destacou a importância de se discutir o uso de energias renováveis, como aconteceu recentemente em Teresina – de 3 a 5 de junho no Centro de Convenções - onde houve uma grande conferência acerca do tema. “A importância não é de mais conhecimento sobre o setor. É porque a gente vem de um longo período onde predominou a energia elétrica, a hidrelétrica, ou mesmo para gerações com a idade acima de 50 anos, que ainda era do tempo da energia com queima de óleo diesel. Então, eventos como esse permitem conhecer com maior profundidade e ver as vantagens que o setor oferece”, avalia positivamente.
Muito sol e vento no piauí
Quanto ao uso de energias renováveis como fomento de novos empregos, bem como colaborar para a preservação do meio ambiente, o ministro esclareceu: “Para a preservação do meio ambiente é total, ou seja, nós temos uma condição da geração de energia que usa exatamente o sol e também os ventos para garantir com isso as condições de renovar apenas porque o dia amanheceu, porque amanheceu com um fator de ventilação adequado para a geração de uma eólica. E o setor tem avançado no sentido de ampliar a capacidade de geração de muitas torres”, diz.
Dias lembra que, ainda no ano de 2004, período em que administrava o governo do Piauí, “quando inauguramos os primeiros investimentos nesse setor, na praia da Pedra do Sal, em Parnaíba, a gente tinha ainda geradores de 0,9 mega, e não chegava a ser nem um mega de energia. Hoje, temos geradores acima de 6 mega, ou seja, aquela mesma torre com praticamente os mesmos investimentos em transformadores, enfim, garante seis vezes mais energia. E como nós temos ventos constantes, ventos fortes, um índice de insolação muito elevado, o Piauí será sempre uma região muito atraente para investidores”, reforça.
O ministro relata que no processo de implantação das referidas torres é possível gerar bastante emprego. “Depois tem uma redução para a área de manutenção e o Estado precisa estar preparado como Piauí para qualificar. A mão de obra voltada para as oportunidades que surgem, na verdade, se trata de uma área nova, pois não tem gente tanto assim preparada no mercado. Então, se quisermos aproveitar as oportunidades, temos que qualificar para as várias atividades vinculadas ao setor, tanto na parte da obra como depois no funcionamento, na manutenção.”
Transformações sociais
Para Wellington Dias, a utilização de energias renováveis podem proporcionar profundas transformações sociais na população, “isso porque ela coloca a condição de trabalhar a autossuficiência em energia. O Piauí, por exemplo, vivia situações de queda de tensão, energia com bastante oscilação. Mas a geração de energia eólica, energia solar, seja isolada na casa de alguém, na propriedade, no comércio, numa empresa, ela também garante a condição de concorrência melhor, porque não entrará no futuro após a quitação dos investimentos, esse custo nos seus preços e isso gera competitividade. Eu destaco, também, esse caminho que o governador Rafael está priorizando”, explica, lembrando da época em que era governador e começou, ainda em Glasgow (maior cidade da Escócia), fazendo os primeiros estudos, ao participar da COP 26, onde assinou os primeiros termos de cooperação que garantiria o início da produção de hidrogênio verde no Piauí.
Ele observa que isso é uma realidade já em andamento no litoral piauiense, mais precisamente na Zona de Processamento de Exportações (ZPE) de Parnaíba, pois tem as condições de utilizar a energia limpa como energia eólica, energia solar, integrada com excedente de água que a região tem muito, especialmente do Rio Parnaíba. “E vamos através de um processo chamado de hidrólise, transformar a energia em hidrogênio e ele é denominado hidrogênio verde, exatamente pela origem de ser de energia renovável”, observa.
Na prática, complementa o ministro, é uma indústria nova que permite vender para outras regiões, outros países, o próprio hidrogênio utilizado na agricultura e, através do transporte sob a forma de amônia que pode ser transportado em navios é possível consumir na Europa, na América do Norte, em qualquer lugar do mundo ou do Brasil. “Portanto, esse caminho é seguro, já que muito em breve a gente vai ver, por exemplo, hoje, os foguetes já queimam o hidrogênio e agora vão queimar hidrogênio verde, ou seja, aquela fumaça do foguete, a transformação da queima, na verdade, em água, então ela não faz emissão de fumaça, não tem o CO2 que faz a poluição, que faz a queima e essa água volta para a natureza. Então, o Piauí está no caminho certo, garantir que muito em breve, o transporte escolar, os ônibus, o seu veículo, até porque já tem muita gente comprando o carro elétrico, garantir que se tenha, com isso, a maior redução possível no planeta, de redução das mudanças climáticas, emissão de CO2, redução do aquecimento global, pois é exatamente através da energia transformada em hidrogênio e hidrogênio verde, porque isso é muito importante para a própria vida no planeta”, pontua Wellington Dias.