Amiga diz que jovem morta mal conseguia andar na Disney

Marinna é uma das 29 crianças e adolescentes que participaram de uma excursão ao parque temático em Orlando

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Após duas semanas de muita diversão na Disney, a rotina da estudante Marinna Sordi, de 13 anos, mudou drasticamente. Agora, quando não está dormindo, pensa apenas na amiga Jacqueline Ruas e no fim abrupto da vida da colega.

Marinna é uma das 29 crianças e adolescentes que participaram de uma excursão ao parque temático em Orlando, nos Estados Unidos, no último dia 19. No retorno ao Brasil, ocorrido entre a noite do último sábado (1º) e a madrugada de domingo (2), Jacqueline, de 15 anos, morreu em pleno voo.

Em entrevista ao G1 nesta quarta-feira (5), a estudante relatou que a amiga estava muito debilitada por causa da doença. O pai dela, o consultor de segurança Marcos Sordi, de 44 anos, acusa a empresa Tia Augusta, responsável pela excursão, de ter sido negligente.

Procurada pela reportagem nesta quarta (5), a empresa informou que seguiu todos os procedimentos necessários, negou ter cometido qualquer erro e disse que Jacqueline foi liberada pelas autoridades de saúde dos Estados Unidos para viajar.

Nota

Na tarde desta quarta, a agência de turismo enviou uma nota à imprensa (veja a íntegra no fim desta reportagem) e não quis comentar especificamente as declarações da colega de Jacqueline.

Companheiras em hotel

Marinna afirmou que, apesar de ter conhecido pessoalmente Jacqueline há apenas duas semanas, quando embarcavam no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, ambas tornaram-se amigas. Tanto é que, junto com outras duas garotas, dividiram o mesmo quarto no hotel em que ficaram. ?Ela era muito feliz. Vivia sorrindo?, lembra.

Na primeira semana de viagem, as amigas aproveitaram ao máximo as atrações da Disney. ?Íamos a todos os brinquedos juntas?, disse. Durante os passeios no parque, foram a brinquedos de água e chegaram a tomar chuva.

Na segunda semana, porém, as quatro colegas que dividiam o mesmo quarto acordaram sentindo-se mal. Foram atendidas no próprio hotel e medicadas. Em menos de 24 horas, três delas melhoraram e voltaram aos passeios normais. Jacqueline, porém, não se recuperava, segundo relato da garota.

No dia 26, Marinna diz que a amiga começou a apresentar sintomas de forte gripe. O serviço médico novamente foi acionado. ?Minhas amigas ouviram uma médica dizer, em inglês, que nem precisava fazer exame porque a Jacque estava com sintomas da nova gripe?, afirmou.

Cadeira de rodas

Ao embarcar em uma aeronave que seguia para o Brasil, foi levada na cadeira de rodas. Ao chegar a seu assento, dormiu mais uma vez. Acordou apenas para comer uma garfada de espaguete. ?Depois, chamamos a Jacque de novo, e ela nem conseguia abrir os olhos?, disse Marinna.

Por volta das 3h30, segundo relatou Marinna, colegas tentaram acordar Jacqueline, mas ela não respondeu. ?Uma amiga nossa encostou e sentiu a Jacque fria. Ela chamou a guia?, afirmou. Assustados com a saúde da jovem, a guia e a tripulação pediram ajuda a dois médicos que estavam no mesmo voo.

Ao perceberem a gravidade da situação, disse, os médicos iniciaram os procedimentos de reanimação no corredor, ao lado das crianças. ?Todos começamos a chorar.?

De acordo com a garota, Jacqueline foi, então, levada pelos médicos, a tripulação e a guia que acompanhava os jovens ao fundo do avião, onde passou a receber massagem cardíaca. Minutos de suspense depois, a guia voltou chorando.

?Ela nem precisou falar nada. Só pela cara já sabíamos que a Jacque estava morta?, disse Marinna.

No restante da viagem, o clima era de luto. Muitos não continham as lágrimas, inclusive Marinna. Quando se pensava que o pior já havia acontecido, um novo incidente deixou todos chocados.

?Quando o avião pousou, a aeromoça disse que devíamos permanecer sentados por causa de uma emergência médica. ?Em seguida, disse, duas pessoas passaram pelo corredor levando o corpo da adolescente pelos braços e pernas.

Ao contar para os pais sobre o que aconteceu, Marinna Sordi foi levada ao Hospital Albert Einstein, onde ficou internada por um dia e liberada. Apesar do trauma, ela está bem.

Pai

Indignado com a morte da amiga da filha, o pai de Marinna, o consultor de segurança Marcos Sordi, de 44 anos, acusa a empresa Tia Augusta, responsável pela excursão, de ter sido negligente.

?Havia o risco de contágio e mantiveram as quatro no mesmo quarto. Pelo menos deviam ter isolado a menina [Jacqueline]?, afirmou.

Para ele, a guia responsável pelos adolescentes não tinha capacidade para exercer a função. Após saber, por meio da filha, que uma das garotas estava com sintoma da nova gripe, ele ligou para a guia.

?Ela falou que era uma gripe normal, por conta da fadiga, do calor. Falei que tinha de ver direito, fazer exames, mas ela rebateu que não havia problema.?

Outro lado

Veja aqui a íntegra do comunicado enviado pela Tia Augusta Turismo:

Em respeito aos nossos clientes, parceiros e amigos, e a partir de algumas informações desencontradas que têm sido divulgadas sobre as circunstâncias que levaram ao falecimento da jovem Jacqueline Ruas no último domingo, a Tia Augusta Turismo vem a público prestar os seguintes esclarecimentos:

1) A agência jamais omitiu quaisquer informações à família sobre a saúde da jovem desde a primeira vez em que a guia Gisele dos Santos acionou a médica do seguro-viagem para prestar o primeiro atendimento a Jacqueline, no dia 28 de julho;

2) O diretor executivo da Tia Augusta Turismo, Filipe Fortunato, fez vários contatoscom a família de Jacqueline para prestar solidariedade diante da lamentável fatalidade. A agência reitera que ofereceu à família todo o suporte necessário para que os pais ou outro familiar de Jacqueline possam viajar para Orlando para que obtenham junto ao Hospital Celebration todos os exames feitos na jovem durante o período em que lá permaneceu, na madrugada do dia 31 de julho, que incluem a radiografia no pulmão e o teste para detecção de gripe A, com o resultado negativo. Importante ressaltar que a agência, na última segunda-feira, já havia disponibilizado à imprensa o documento de alta do atendimento emergencial no hospital;

3) Não é verdade, portanto, que a Tia Augusta Turismo tenha sonegado qualquer tipo de informação sobre o caso. Foi informado à família que o hospital em Orlando só fornece os exames a partir de pedido expresso da própria família;

4) Importante ainda esclarecer que Jacqueline Ruas não foi internada, mas que recebeu apenas atendimento no pronto-socorro, de onde foiliberada para seguir viagem;

5) Também cabe aqui destacar que a cadeira de rodas que levou Jacqueline à área de embarque durante a escala no Panamá foi oferecida pela guia, já que a jovem afirmou estar com tontura. Ainda assim, a guia perguntou a Jacqueline se ela estava bem para viajar. Com a resposta afirmativa, todo o grupo seguiu viagem;

6) A Tia Augusta Turismo entrou em contato com os familiares dos jovens queestavam no mesmo grupo de Jacqueline para explicar sobre os procedimentos adotados pela agência durante a viagem em relação à Jacqueline. O mesmo comunicado foi divulgado à imprensa na última segunda-feira;

7) Na conversa com os pais, ficou constatado que não havia um caso de gripe A no grupo. Segundo a agência apurou, tratava-se, na verdade, de resultado positivo de uma criança para quadro viral, sem definição de que se tratava de gripe A. Logo, nenhum passageiro do grupo viajou com Gripe A no voo de volta ao Brasil, o que inclui a própria Jacqueline, segundo o Hospital Celebration;

8) A Tia Augusta Turismo, por meio de seu diretor executivo, Filipe Fortunato, tomou a iniciativa de pedir um encontro com a família para esclarecer quaisquer outros fatos ligados ao caso. Mesmo com as informações veiculadas pela imprensa sobre os eventuais procedimentos jurídicos analisados pela família, a Tia Augusta

Turismo reitera que continua absolutamente aberta aos familiares para que se dirijam até a agência, onde serão recebidos;

9) Até o momento, a agência ainda não obteve retorno dos comunicados enviados na terça-feira, dia 4, ao Ministério da Saúde e à Embaixada do Brasil nos Estados Unidos para que nos auxiliem ou à própria família da Jacqueline na busca de informações junto ao hospital e às autoridades americanas para conhecer com detalhes todos os procedimentos médicos adotados no Hospital Celebration, que deu alta a jovem do atendimento emergencial realizado na madrugada do dia 31;

10) Por fim, agradecemos todas as manifestações de solidariedade de clientes e amigos por nossa conduta no caso, e ainda da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), Fenactur (Federação Nacional do Turismo) e Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagem). Todos, assim como nós,convictos de que a Tia Augusta Turismo fez tudo o que estava ao seu alcance em relação à jovem Jacqueline Ruas. Queremos ainda reiterar que em mais de 35 anos de história, com mais de 300 mil turistas levados aos Estados Unidos, a Tia Augusta Turismo jamais teve qualquer problema como a fatalidade que levou ao falecimento da jovem.

São Paulo, 5 de agosto de 2009

Tia Augusta Turismo

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