Após prestar informações detalhadas sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes em uma delação premiada à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz será transferido para um presídio estadual não divulgado, e sua família receberá proteção.
Élcio foi o motorista do veículo Cobalt prata usado no atentado contra Marielle em 14 de março de 2018 e está sob custódia desde 2019, quando também foi preso o ex-policial reformado Ronnie Lessa, responsável pelos disparos que resultaram na morte da vereadora do PSOL e do motorista Anderson Gomes.
Em sua delação, Élcio de Queiroz fez as seguintes afirmações à polícia:
Ronnie Lessa confessou ter tentado matar Marielle em 2017, três meses antes do assassinato final;
A placa do carro utilizado no atentado foi trocada, e a antiga foi destruída e descartada na linha do trem;
Toda a comunicação relativa ao crime foi realizada através do aplicativo Confide, que possui três camadas de segurança;
O sargento da PM, Edimilson Oliveira da Silva, também conhecido como Macalé, intermediou a ordem para assassinar Marielle;
As despesas com advogados eram pagas pelo ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, que foi preso recentemente;
Em 2019, os envolvidos no atentado foram alertados sobre a operação que resultou na prisão de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz.
Em entrevista a Natuza Nery, o jornalista da TV Globo Mahomed Saigg, o primeiro a ter acesso à delação de Élcio de Queiroz, explicou que o ex-PM inicialmente tinha esperança de ser absolvido por falta de provas, mas decidiu colaborar com a delação quando "percebeu que o cerco estava se fechando", devido ao surgimento de novas provas que o incriminavam.
Ronnie Lessa teria afirmado a Élcio que não fez pesquisas sobre Marielle. No entanto, com o desenvolvimento das investigações, Élcio descobriu que seu amigo havia mentido. A apuração conduzida pela PF e pelo MP revelou que Lessa havia realizado buscas sobre a vereadora Marielle Franco e sua filha dois dias antes do assassinato.
Essa quebra de confiança levou Élcio a optar por fazer a delação, segundo a PF.
"[Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa] estavam muito seguros em um pacto de silêncio. A partir do momento em que a Polícia Federal apresentou a Élcio provas de que Ronnie não havia sido totalmente sincero sobre o caso, Élcio percebeu que ele, na verdade, poderia enfrentar problemas", disse Saigg.
"A esperança que ele tinha de ser absolvido ou de não haver provas suficientes para sua condenação desapareceu... Foi então que, diante dessas provas apresentadas, ele decidiu falar", concluiu Mahomed.