Nome indicado pelo presidente Lula para ser ministro do Supremo Tribunal Federal, no lugar do ministro aposentado Ricardo Lewandowski, o advogado Cristiano Zanin incluiu em sua agenda encontros com evangélicos. Num almoço ocorrido na terça-feira, 6, com o senador Carlos Viana e os deputados Sóstenes Cavalcante e Renata Abreu, congressistas com boa interlocução com parlamentares evangélicos, Zanin causou boa impressão.
A deputada Renata Abreu comanda o Podemos, mesma sigla do senador Carlos Viana, que é também o partido que abrigou o ex-procurador Deltan Dallagnol, que teve cassação confirmada pela Câmara Federal também na terça-feira,dia 6, e também é conhecido por se opor à nomeação de Zanin. Viana é presidente da bancada evangélica no Senado, enquanto Sóstenes, do PL de Jair Bolsonaro, já ocupou o mesmo posto na Câmara durante as eleições de 2022.
Nesta quarta-feira, 7, Zanin participou de um café da manhã com o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), outro ex-líder do bloco cristão, e outros deputados religiosos. Cezinha conta que eles já tiveram vários encontros, mesmo antes da indicação de Zanin à Corte Suprema. A primeira reunião foi realizada na casa de um advogado amigo de Renata Abreu, da denominação anglicana. Embora nem ela nem Sóstenes possam votar durante a sabatina pela qual Zanin terá que passar, eles foram chamados para ajudar a resolver eventuais resistências ao advogado no segmento evangélico.
Felizmente, não são muitas as resistências. Sóstenes Cavalcante descreve Zanin como um homem de família disposto a conversar. Em relação aos assuntos mais sensíveis para o bloco cristão, relacionados aos costumes, Zanin teria sinalizado que esses temas são de competência do Legislativo e não do Judiciário.
"Sabemos que Zanin é casado com a mesma mulher há toda a vida, tem três filhos e ele disse: 'Sou católico, entendo a luta dos evangélicos. Acredito que muitos dos temas conservadores que são judicializados são inerentes à atividade legislativa. Entendo a separação dos Poderes e quero demonstrar que vou respeitar todos os segmentos'", conta Sóstenes.
Segundo o deputado, Zanin afirmou que não vai se fechar ao diálogo com ninguém só por ser um indicado de Lula. Ele também estaria interessado em identificar senadores evangélicos que se opõem ao seu nome para estabelecer um canal de comunicação com eles. Carlos Viana descreveu a conversa clara e objetiva, em que trataram sobre o posicionamento de Zanin sobre temas importantes para a igreja como como aborto e drogas. Sóstenes ressaltou ainda que não tratou de questões que serão cobradas na sabatina.
Entre os líderes evangélicos que foram baluartes na campanha do ex-presidente Bolsonaro, três deles não fazem oposição a Zanin. O apóstolo César Augusto, da igreja Fonte da Vida, afirma que o advogado é uma pessoa equilibrada e que tem domínio jurídico inquestionável. Portanto, vai contribuir no STF.
Presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos líderes evangélicos mais respeitados do País, o pastor Silas Malafaia ressalta que, em primeiro lugar, Zanin é uma pessoa de família e ressalta que o indicado para o STF não é um advogado militante do Partido dos Trabalhadores. Trata-se de um profissional da advocacia contratado por Lula. Malafaia disse ainda que se Zanin fosse militante do PT, eles mesmo teria feito ataques da mesma forma como agiu com o ministro Edson Fachin, indicado pela presidente Dilma Rousseff em 2015.